
Rodolfo de Archangelo, de 61 anos, se aposentou voluntariamente em julho do ano passado. A informação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU).
No mesmo mês, a PF deflagrou a operação Ruta 79, que cumpriu mandados de prisão contra aliados do policial.
Entre agosto do ano passado e janeiro deste ano, Archangelo recebeu mais de R$ 130 mil de dinheiro público, mostram dados do Portal da Transparência. Não há valores mais atualizados. Procurados nessa segunda-feira (18/4), a PF e o Ministério da Justiça e da Segurança Pública (MJSP) não deram detalhes sobre a aposentadoria do ex-agente. A Polícia Federal se recusou a fornecer informações por se tratarem de “dados pessoais”.
Archangelo, o empresário Gilberto Russo Rodrigues e o pai dele, Gilberto Rodrigues, foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por evasão de divisa e associação criminosa. A denúncia foi aceita pela 10ª Vara Criminal Federal de São Paulo em novembro de 2020.

Foto: Ascom/ Polícia Federal

Foto: Ascom/ Polícia Federal

Foto: Ascom/ Polícia Federal
Russo foi preso em flagrante em setembro de 2019 no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ao tentar embarcar para a Itália com 17,8 kg de ouro em uma mala de mão.
O minério, não declarado à autoridade aduaneira, foi avaliado em R$ 3,518 milhões pelos investigadores.
O empresário contava com a ajuda do policial para burlar a fiscalização, uma vez que o ouro não era declarado. Usando da prerrogativa de agente da PF, Archangelo introduzia barras e lâminas do minério na área restrita do aeroporto. Em seguida, repassava a mala ao Russo.
O Metrópoles apurou junto à Procuradoria da República de São Paulo (PRSP) que Archangelo usou o mesmo modus operandi para burlar a fiscalização alfandegária em ao menos outras oito ocasiões, entre fevereiro e setembro de 2019.
Em menos de dois anos (de janeiro de 2018 a setembro de 2019), Russo e o pai voaram 30 vezes para a Itália.
Estima-se que, entre 2017 a 2019, a organização criminosa contrabandeou mais de 1 tonelada de ouro para o país europeu. Durante as investigações também foram apreendidas joias avaliadas cerca de US$ 1 milhão (R$ 4,66 milhões na cotação atual).
No último dia 11 de abril, a PRSP instaurou um inquérito civil público para aprofundar a apuração dos fatos contra o ex-servidor da PF.
Os investigados faziam uso de mulas, que transportam o ouro até a Itália com o uso de documentação falsa de empresas fictícias sediadas no Paraguai. Em seguida, a organização trazia joias adquiridas na Ásia e nos Estados Unidos. As mulas também eram usadas para introduzir os ornamentos de forma clandestina no Brasil.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Rodolfo de Archangelo.
Mesmo investigado, Archangelo também chegou a ser eleito em 2021 para trabalhar no Sindicato dos Policiais Federais de São Paulo (Sinpf-SP), como secretário-geral. Na prática, foi o terceiro homem mais forte da entidade, atrás apenas da presidente e do vice-presidente.
Ao Metrópoles, o sindicato esclareceu, contudo, que nunca remunerou o ex-secretário, uma vez que o serviço é voluntário.
“Ainda, apenas para trazer maiores esclarecimentos, importante salientar que quando a diretoria executiva do sindicato soube da apontada investigação, foi pedido ao Sr. Rodolfo que se desligasse da instituição sindical, o que resultou em sua renúncia em 19 de janeiro de 2022”, acrescentou o Dinfpf-SP.