
Para chegar às regiões de garimpos ilegais na maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami (TIY), garimpeiros utilizam pistas de pousos clandestinas e há a suspeita que usam até aeródromos de fazendas no entorno da reserva. É o que aponta o relatório “Yanomami sob ataque”, divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY).
O relatório mapeou, com número de localização geográfica, 40 pistas localizadas em fazendas indicadas como suspeitas de prestar apoio logístico aos exploradores.
Além destas, a HAY identificou outras 12 pistas de pouso clandestinas que transportam pessoas, alimentos e equipamentos usados na extração do ouro. Para chegar as regiões onde estão os garimpos, os dois principais meios são os rios ou os céus.
A Terra Yanomami é explorada por garimpeiros há anos, que buscam minérios como ouro e cassiterita, usada na fabricação do estanho. Além de enfrentar o aumento desenfreado da exploração ilegal, os indígenas também lutam contra a destruição dos rios e a floresta e a falta de segurança das comunidades.
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Atividade garimpeira tem provocado a poluição dos rios na Terra Yanomami, conforme a HAY — Foto: © Bruno Kelly/HAY
Durante a viagem, os garimpeiros têm direito a 500kg de carga e transporte terrestre até o local da decolagem.
Na região do rio Mucajaí, onde há presença de garimpeiros, os pesquisadores relataram que a logística exploradora se orientou para o modal aéreo e que, por isso, novas pistas foram abertas dentro e fora da Terra Indígena Yanomami.
O relatório também divulgou que com a diminuição das ações de fiscalização, pistas de uso exclusivo do Distrito Sanitário foram capturadas por garimpeiros, como é o caso da pista do Kayanau, na confluência do rio Couto de Magalhães com o Mucajaí.
A Hutukara Associação Yanomami identificou doze pistas dentro da Terra Yanomami à serviço do garimpo na região. A associação também mapeou 40 pistas clandestinas nas fazendas do entorno.
“Sabe-se também que, na mesma zona, na Vila Samaúma, existem hotéis dedicados a pessoas que trabalham na logística garimpeira (em especial pilotos) e postos de gasolina especializados em fornecer combustível para o maquinário utilizado na atividade”, explicou.
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Voo realizado em janeiro pela HAY flagrou o avanço do garimpo e destruição ambiental na Terra Yanomami — Foto: © Bruno Kelly/HAY
Segundo os indígenas, com o aprofundamento das relações com o garimpo, muitas famílias deixaram de cultivar suas roças e tornaram-se dependentes de trocas desiguais com os garimpeiros.
Esse esquema alimentou a destruição de mais de 200 hectares de floresta em 2021, a maior parte concentrada no pólo-base Kayanau, onde foram registrados os relatos dos impactos do garimpo na Terra Yanomami. O garimpo ilegal têm deixado um terrível rastro de fome, morte e exploração sexual de mulheres indígenas.
A região chamada de cabeceira do Catrimani, concentra as maiores cicatrizes, associadas a cinco pistas de pouso clandestinas. A maior delas é a pista do capixaba. Nesta região, estão os maiores acampamentos e estruturas de apoio ao garimpo na região, como bares, mercearias e prostíbulos.
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“Currutela” no alto Catrimani, além de pista de pouso clandestina. Aeronaves dão suporte à atividade. — Foto: Divulgação/HAY
Já na região do polo-base Ericó, no rio Amajari, bem próximo à fronteira com a Venezuela, foi identificada apenas uma pista clandestina. Segundo o relatório, o local deve ser mais utilizado como ponto logístico para movimentar minério e mercadorias ilegalmente na fronteira.
No rio Uraricaá, onde estão localizadas as comunidades Xiriana, não há registros de desmatamento associado ao garimpo, mas bem próximo ao limite da Terra Yanomami há a presença de uma pista clandestina, conhecida como pista do Robertinho.
O documento expôs, ainda como garimpeiro têm recrutado jovens ianomâmi entregando armas a eles em troca de comida, a violência sexual contra meninas e a destruição ambiental. As novas informações são acompanhadas pelo Ministério Público Federal (MPF), que pediu ao governo federal novas ações policiais na reserva.
Terra Yanomami
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, e parte da Venezuela. Cerca de 30 mil indígenas vivem na região em mais de 360 comunidades.
A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Mas, nos últimos anos, essa busca pelo minério se intensificou, causando além de conflitos armados, a degradação da floresta e ameaça a saúde dos indígenas.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.
O número de casos de Covid entre indígenas que habitam a região, aumentou em razão da presença de garimpeiros. No ano passado, em apenas três meses, as infecções avançaram 250%.
Fonte: Portal G1.