BrasilPolítica

Teria sido outro o “clima ruim” que fez Lula não ir a Rio Verde?

A palavra “clima” é polissêmica, ou seja, pode ser usada tanto para seu sentido original como, por exemplo, para expressar humores e sensações. Dizer que “pintou um clima”, por exemplo – frase que ficou famosa por conta de uma declaração do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no ano passado, em uma polêmica sobre garotas venezuelanas –, pode significar desde um flerte a um acordo. Já “acabou o clima” vai no sentido oposto: a coisa desandou, ficou insustentável. Riquezas da língua portuguesa.

Na sexta-feira, 16, a presença de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Rio Verde foi cancelada de última hora. Era para inaugurar a conclusão definitiva do trajeto da Ferrovia Norte-Sul, iniciada no governo José Sarney, ainda na década de 80. A razão de o presidente ter era climática: o tempo na cidade goiana naquele dia – bem como em praticamente todo o Estado – estava ruim, não permitindo condições de pouso para a aeronave presidencial. Com isso, o evento também foi cancelado, quando o governador Ronaldo Caiado (UB) e outras autoridades, além da imprensa local e nacional, estavam a postos para a solenidade.

Essa foi a versão oficial e que acabou “abraçada” pelos veículos de comunicação, em sua maioria. Nos círculos bolsonaristas, porém, creditaram a desistência de Lula ao que seria uma alta rejeição da população rio-verdense à visita – a cidade é o mais importante polo do agro em Goiás e deu praticamente dois de cada três votos validos ao ex-presidente no segundo turno de 2022. Houve ainda uma manifestação com cerca de uma dezena de militantes de direita levou balões pretos e banner feitas em lona com dizeres hostis a Lula. Queriam preparar um clima não muito receptivo, portanto.

Entretanto, nos bastidores de Brasília, o que se disse à meia boca foi outra coisa: o motivo de o presidente ter desistido de ir ao Sudoeste goiano foi a revelação de que um militar de alta patente, o coronel Jean Lawand Junior – designado para a representação diplomática do Brasil em Washington (EUA) –, estava envolvido no novo documento golpista revelado pela Polícia Federal a partir do celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.

Ao saber do caso, revelado pela edição semanal da revista Veja, em vez de viajar a Goiás na manhã da sexta-feira, o presidente convocou uma reunião às pressas com o ministro da Defesa, José Múcio, e o comandante do Exército, general Tomás Paiva. No encontro não programado, discutiram o caso de Lawand e ficou definido que a portaria do coronel para a missão, a partir de 2 de janeiro de 2024, seria revogada por Paiva, o que já ocorreu.

Rio Verde, então, pode ter perdido – pelo menos por enquanto – a visita de Lula por causa de outro “climão”: o que voltou a encobrir a delicada relação do governo petista com as Forças Armadas, em especial, o Exército.

Fonte: Jornal Opção

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *