“Quando a educação não funciona, as pessoas cometem o racismo”, diz delegado do Grupo de Atendimento a Vítimas de Racismo em Goiás
De acordo com Joaquim Adorno, há mais 350 procedimentos em andamento e são quase 300 inquéritos já instaurados em 2023 pelo Geacri

Neste dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra no Brasil. Para entender a importância da data e o que ela representa, o Jornal Opção ouviu o delegado Joaquim Adorno, titular do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri).
De acordo com ele, há mais 350 procedimentos em andamento e são quase 300 inquéritos já instaurados em 2023 pelo Geacri. Para Adorno, as pessoas cometem o racismo quando a educação na funciona.
“A polícia não é a razão primeira para mudar qualquer realidade social. Então, a polícia devemos pensar que é aquela instituição que trabalha quando todos os outros órgãos ou estruturas sociais não funcionam. Quando a educação não funciona, a cultura, as pessoas cometem o racismo e a polícia trabalha nesse viés de repressão”, explicou.
O Geacri foi criado em 2021 para dar suporte às vítimas dos crimes de racismo e outras intolerâncias. Segundo Joaquim Adorno, todos os servidores do grupo foram qualificados para dar o atendimento especializado necessário.
“Há um conhecimento do universo em relação à questão étnica e social do país, questão religiosa, da comunidade LGBTQIA+, para que houvesse um entendimento para o atendimento ser da melhor forma possível”, afirmou.
Adorno reforçou que o objetivo do Geacri é exatamente no apoio às vítimas, tanto que o próprio nome reforça que é um grupo especializado de atendimento.
“Geralmente as delegacias o nome é Grupo de Combate a Crimes Cibernéticos, combate a alguma coisa, então muitas unidades o foco é no crime. Nas delegacias sociais, o foco é o atendimento à vítima, como na questão da mulher, na Deam, e aqui o foco é nas vítimas de crimes de intolerância”, pontuou.
Conscientização
O delegado defendeu que a mudança de cultura e pensamento é conseguida com gerações, ao longo dos anos. Enquanto isso, Adorno disse que o estado não pode ficar em inércia em relação ao problema.
“A gente trabalha em duas frentes: o Goiás sem racismo, que vai ser lançado para trabalhar esse racismo institucional e na sociedade; e tem a questão do aprimoramento dos profissionais de segurança pública no combate aos crimes de racismo”, ressaltou.
Na visão de Joaquim Adorno, o ato de investigar uma pessoa ou abrir um inquérito para apurar um crime de racismo já pode ser considerada uma ação de conscientização da população.
“Isso é pedagógico, porque você está mostrando que o fulano foi indiciado por racismo. Toda comunidade vê aquela conduta, o resultado e vê que o estado não aprovou, a pessoa foi penalizada. Acaba inibindo aqueles que ainda não têm essa consciência, porque a pessoa que comete racismo se vê naquela ação. A pessoa que é homofóbica, transfóbica ou racista viu o resultado do que ocorreu”, finalizou.
Fonte: Jornal Opção