Ciência

Paleontólogo encontra pegadas inéditas de dinossauros com cerca de 90 milhões de anos no interior de SP

Vestígios de General Salgado (SP) correspondem ao primeiro achado de pegadas desses répteis do Cretáceo Superior no estado.

Um conjunto de pegadas de dinossauros com pelo menos 90 milhões de anos foi encontrado em uma fazenda de General Salgado (SP). O registro corresponde ao primeiro achado de pegadas desses répteis durante o período do Cretáceo Superior no estado.

As pegadas estão sendo estudadas por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP).

Ao g1, o paleontólogo e professor de Zoologia de Vertebrados da UFU, Ariovaldo Giaretta, de 57 anos, explicou que a descoberta pode ser caracterizada como um feito histórico e inédito para a ciência, já que pegadas como estas foram descritas em outro período geológico, ou seja, têm idades diferentes.

“Embora ossos fossilizados sejam comuns, pegadas dessa do Cretáceo Superior nunca tinham sido encontradas lá e nem mesmo no nosso Estado. Eu sou paulista e fiquei feliz por isso também, sortudo pelo privilégio da descoberta inédita.”

As pegadas, segundo ele, indicam que os animais tentavam atravessar um rio ou um lago quando deixaram as impressões nas rochas da região, enquanto as encontradas anteriormente eram de ambiente desértico.

O Cretáceo representa o terceiro e último período da Era Mesozóica e se estendeu de 145 a 66 milhões de anos. Já os sedimentos onde as pegadas foram encontradas fazem parte da Bacia Bauru, com rochas do interior dos estados do Paraná, Minas Gerais, São Paulo e parte do Mato Grosso do Sul.

O professor ainda revelou que encontrou as pegadas por acaso, em setembro de 2022, enquanto buscava fósseis de serpentes na área.

Estudo
O estudo in loco – ou seja, no próprio local onde foram encontradas as pegadas – começou em agosto deste ano, com a escavação. Foi necessário, segundo o professor, esperar a estação seca para quebrar a rocha em três partes para conseguir levá-las ao laboratório, cada uma pesando 100 quilos aproximadamente.

Em termos técnicos, o professor relatou que as pegadas são uma “janela para o passado”, que permite reconhecer os seres vivos e os ambientes, hoje extintos, e fazer comparações com o tempo efetivamente documentado pelos humanos.

“Descobertas como essa representam avanços nessa missão de reconstruir a história, da qual nós, em diversos níveis efetivamente fazemos parte. Esse tipo de achado induz o ser humano a pensar no tempo profundo e como é nossa concepção da realidade”, diz.
“Enquanto humanos, mal conhecemos nossos bisavôs e achamos que temos uma noção de tempo. Pensar que os grandes dinossauros se extinguiram, e que isso faz parte da natureza, nos ajuda a pensar no nosso próprio destino. Se conhecemos o passado, não somos ingênuos de achar que o futuro está garantido.”

Após análises, foi possível identificar que os donos dos traços incluem um dinossauro terópode (bípede e carnívoro, como os tiranossauros), um saurópode (grandes herbívoros que se locomoviam em quatro partes) e possivelmente um ornitópode (herbívoro bípede).

“O carnívoro era semelhante ao tiranossauro, em pontos como bipedalismo e hábitos alimentares, mas não devia chegar a um tamanho tão grande. As pegadas circulares devem ser um dinossauro de pescoço longo, conhecidos como saurópodes, que eram herbívoros e comumente encontrados no interior de São Paulo e no Triângulo Mineiro. Caso a existência de um terceiro tipo de pegada seja confirmada, e se for de um dinossauro herbívoro bípede, vai ser um achado muito relevante”, destaca o professor.

Os especialistas em icnofósseis, como são chamados os traços de organismos já extintos, concluíram que é possível identificar a presença de espécies diferentes devido às deformações de cada pegada na rocha.

Contudo, é difícil estabelecer qual foi a responsável por cada vestígio. Isso porque, não há elementos ósseos preservados. Mas, independente disso, as pegadas encontradas em General Salgado colocam a região em destaque quando o assunto é paleontologia.

Além de divulgar o estudo científico, com previsão para conclusão em 2024, os pesquisadores pretendem levar as pegadas para exposição no museu da USP.

Fonte: G1


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