A mãe do estudante Luiz Brendo Mac Dovel do Nascimento, confundido com um criminoso e preso por engano, disse que conseguiu provar a inocência do filho após um policial se comover. Arthur Tabosa Matos, gerente de cartórios da Polícia Penal, disse que sentiu verdade na fala dela e buscou informações para justificar as alegações. Até que Luiz saísse da cadeira, a mãe disse que sofreu.
“Deus sabe o que passei lá em casa. Cada dia parecia que era um ano. O meu Natal foi triste, triste, triste… O ano novo eu passei na igreja”, contou Lidiane
Arthur relatou que presos e suas famílias alegam inocência frequentemente. No entanto, a “eloquência” de Lidiane o convenceu a analisar os dados de Luiz Brendo e foi descoberta uma série de coincidências
“A mãe nos procurou, a gente procurou e verificou e tinha aquela materialidade do que ela falava. Realmente aquilo ali que ela trazia tinha a verdade através da documentação”, explicou Arthur.
Após notar a série de inconsistências, as Justiças de Goiás e Santa Catarina, local onde aconteceu o crime, foram acionadas e o alvará de soltura expedido.
“Nos empenhamos bastante, queremos que quem esteja aqui sejam aquelas [pessoas] que realmente precisam pagar pelo que fizeram. A gente correu atrás, procurou e esperamos que ele seja feliz, é um menino que parece ser estudioso”, finalizou Arthur.
“Meu coração tá muito, muito, muito [feliz]… Agradeço ao doutor que ouviu e se comoveu com a história”, comemorou Lidiane.
Condições na prisão
O estudante de direito disse que ficou sem escovar os dentes por cinco dias e dormia no chão com baratas durante o período que ficou no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital. O jovem de 23 anos passou mais de 50 dias na prisão.
“Quando vim para cá, não tinha nada. Fiquei uns cinco dias sem escovar os dentes. Dormia no chão, não tinha colchão lá, estava cheio de gente. Aí passava percevejos, baratas”, relembrou o estudante.
“Tinha vezes que tinha carne estragada, tudo podre. Eu peguei uma tampa [de marmita] e estava contando os dias [para sair]”, desabafou.
Em nota, a Diretoria-Geral de Polícia Penal de Goiás negou as alegações sobre falta de higiene e alimentação nas celas e informou que o Estado oferece kits de higiene, colchões e cobertores, permitindo que familiares forneçam alimentos e produtos de higiene aos detentos. A DGAP completou que, segundo a Lei de Execução Penal, é responsabilidade dos presos manterem a limpeza das celas e, quanto à alimentação, disse que são fornecidas quatro refeições diárias, preparadas por nutricionistas .
O jovem de 23 anos foi preso no dia 12 de dezembro e o alvará de soltura foi expedido no dia 1° de fevereiro.
Entenda coincidências:
- Nomes parecidos
Luiz Brendo Mac Dovel do Nascimento, o jovem preso por engano, tem o nome parecido com o do suspeito do crime, mas com uma diferença: o último sobrenome.
- Inocente: Luiz Brendo Mac Dovel do Nascimento
- Suspeito: Luiz Brendo Mac Dovel dos Santos
- Nome da mãe
Além do nome, outra coincidência que chama a atenção no caso é o nome da mãe do jovem inocente e a do suspeito. As duas se chamam Lidiane Mac Dovel.
- Data de nacimento
Os dois rapazes nasceram em 2000. A diferença é que o jovem preso por engano nasceu em 12 de novembro e o suspeito em 24 de abril.
- Local de nascimento
O jovem preso injustamente e o suspeito do crime nasceram no mesmo estado. Ambos são do Pará.
- Cidade do crime
O crime aconteceu em agosto de 2022, em Santa Catarina. Na mesma época, o jovem preso por engano morava em Belém (PA) e viajou para Florianópolis (SC) para fazer uma prova de concurso para sargento do Exército.
Entenda o caso
A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informou que um policial se comoveu com o relato da mãe durante uma visita que ela fez ao filho. Ao verificarem, perceberam que um homem com ficha criminal tinha dados parecidos com o do jovem.
Luiz contou que recebeu uma intimação e, quando foi até uma delegacia perguntar o que aconteceu, soube que tinha um mandado de prisão contra ele por uma tentativa de latrocínio cometido em Santa Catarina.
O jovem disse que, enquanto estava preso, soube que passou em um concurso em Goiás, mas não pôde se apresentar.
“Só de ele estar aqui é maravilhoso. Meu filho é inocente, fez direito três anos, passou em concurso”, disse a mãe dele.
Em nota, a Polícia Civil de Goiás afirmou que adota as cautelas cabíveis ao cumprimento dos mandados de prisão e o cumprimento é informado ao Poder Judiciário em até 24 horas. O Tribunal de Justiça de Goiás afirmou que não vai comentar o caso.
O g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, via e-mail enviado às 8h25 do último sábado (3), para pedir um posicionamento sobre o assunto. No entanto, não houve retorno até a última atualização desta reportagem.
Nota – Polícia Penal de Goiás
A Diretoria-Geral de Polícia Penal informa:
Em relação à situação mencionada por este veículo de comunicação, a instituição reitera que os fatos não procedem. O Estado fornece kits de higiene, colchões e cobertores para os custodiados, além de permitir que familiares realizem o repasse de alimentos e produtos de higiene aos detentos.
Sobre a limpeza da celas, conforme determina a Lei de Execução Penal, é dever do preso mantê-la limpa.
No que se refere à alimentação, é feita, diariamente, a entrega de quatro refeições (desjejum, almoço, janta e ceia). Os alimentos são produzidos diariamente, com cardápio acompanhado por nutricionista.

FONTE:G1