Qual o segredo de Iris Rezende? Confira por que o administrador foi bem sucedido em Goiânia

A primeira gestão Iris Rezende em Goiânia se deu em 1966 e ficou marcada pelos mutirões para a construção de casas populares

O tradicional e imortal político de Goiás, Iris Rezende Machado, eleito em 2016, para o inédito quarto mandato como prefeito de Goiânia, além de ter sido governador do estado de Goiás em duas ocasiões. Ingressou na política na década de 1950 e tornou-se uma figura importante, chegando a assumir cargos nos governos de José Sarney e de Fernando Henrique Cardoso.

Iris Rezende é natural de Cristianópolis, cidade do interior de Goiás. Nascido em 22 de dezembro de 1933, resolveu mudar-se para Goiânia no final da década de 1940, cidade onde realizou seus estudos. Aos 16 anos, Iris Rezende mudou-se para Campinas, um bairro da cidade de Goiânia, e lá se matriculou na Escola Técnica de Goiânia.

Iris Rezende começou na política ainda bem jovem, com apenas 22 anos. Segundo o próprio Íris, essa foi uma decisão tomada após experiências em grêmios estudantis. Consta que seu pai não ficou muito animado com a ideia de ter um filho na política, pois seu desejo era que o filho gerisse os negócios da família. Ocupou funções como vereador, deputado estadual, prefeito, senador e governador, e ainda assumiu pastas ministeriais nos governos de José Sarney e FHC

No ano de 1958, o jovem político disputou sua primeira eleição, quando na ocasião concorreu a uma vaga na Câmara Municipal de Goiânia pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Foi empossado como vereador em 1959, onde permaneceu até 1962. Iris era formado em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

Em 1963, foi eleito o deputado estadual mais votado do Estado, pelo Partido Social Democrático (PSD). Aos 32 anos, no ano de 1955, Íris Rezende, em uma disputa acirrada com o candidato do governo militar apoiado por Humberto Castello Branco – Juca Ludovico, vence a disputa por uma vaga no executivo municipal e se torna prefeito de Goiânia, com 29.212 votos.

Essa vitória foi uma demonstração de força política, tanto para os apoiadores como para os adversários, que viram um jovem do interior em uma ascensão política acelerada no Estado. Aliás, vale ressaltar que em todas as disputas tinha sido campeão de votos. Sua primeira gestão em Goiânia se deu em 1966 e ficou marcada pelos mutirões para a construção de casas populares.

Considerado um político inteligente e à frente de seus pares, Iris ganhava a confiança da população. Alguns dizem que essa estratégia era para trazer o povo para o seu lado em um tempo conturbado, que era o da ditadura. Tanto que a atuação popular, somada à rejeição em fazer parte do Arena, o tornou alvo dos militares que cassaram seus direitos políticos por dez anos.

Em 1994, foi eleito senador da República e assumiu a Comissão de Constituição e Justiça – a mais importante comissão do Senado Federal. Iris Rezende não pulou etapas, diz um amigo – ele começou do “começo”, como vereador, por isso tinha experiência de sobra. “Foi sem dúvida o maior tocador de obras não somente de Goiás, mas do Brasil, me arrisco a dizer”, ressalta um ex-secretário.

Alguns afirmam que seu principal feito, que entrou para a história indo parar no livro dos recordes, foi o mega mutirão que contabilizou 1000 casas construídas em um só dia, feito jamais visto até os dias de hoje no mundo. O bairro Vila Mutirão foi planejado e idealizado pelo próprio Iris Rezende, que no domingo do dia 16 de 1983, ajudou até a limpar o mato com uma inchada. Os mutirões, aliás, sempre foram a menina dos olhos do ex-prefeito.

Tendo os seus direitos políticos restabelecidos em 1979, Iris Rezende retornou ao cenário político como candidato ao governo de Goiás em 1982 – pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Na oportunidade, derrotou Otávio Lage do PSD. Era considerado um fenômeno político, um homem do povo e um administrador nato. Iris Rezende morreu em 9 de novembro de 2021, aos 87 anos, em decorrência de complicações de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Com a intenção de descobrir qual o segredo que Iris Rezende possuía para ter sido um político tão bem avaliado em suas gestões, principalmente em Goiânia, o Jornal Opção ouviu alguns secretários e parceiros na carreira do político. Todos, até mesmo opositores na esfera política, admitem que Iris Rezende nasceu para ser político, ou seja, veio ao mundo com essa missão; era um político que veio pronto.

Iris Rezende era muito atento às finanças públicas; consultava o povo para saber quais as demandas mais urgentes de cada região, acompanhava as despesas mensais de cada órgão, seguia todas as licitações; era vigilante com os investimentos e gastos públicos e prazos de término das obras e tinha grande intimidade com os habitantes da cidade, prova disso eram os mutirões onde mobilizava multidões de pessoas.

Paulo Ortegal (MDB) conviveu com Íris Rezende por 40 anos. Era considerado o braço direito de Iris. Paulo destaca que sua participação na vida do amigo não foi somente política, mas era uma amizade duradoura. Contudo, de todas as administrações do político, Ortegal enfatiza a gestão do último mandato que foi um desafio, pois a prefeitura estava com um déficit de R$ 31 milhões e o desafio era sem precedente. “Foi eleito o homem certo para aquele momento, pois somente alguém com muita gestão e capacidade de administração e foco nas ações da prefeitura poderia obter êxito, como foi o caso,” relata.

Paulo explica que, apesar de todo esse cenário desfavorável, o gestor conseguiu, ao final, viabilizar as documentações para que a prefeitura ficasse apta a obter financiamentos do governo federal. “No decorrer do mandato, a gestão de Iris Rezende trouxe para as finanças do município uma tranquilidade, pois se encontrava adimplente e com possibilidade de contrair financiamentos”, lembra.

Para Paulo, o grande diferencial de Iris sempre foi o foco na administração, mesmo com uma idade já avançada, a energia era a mesma da época de jovem. “Neste último mandato, por exemplo, ele não tirou um dia de férias. Ele sempre quis saber tudo sobre as finanças de segunda a sexta-feira, e no sábado e domingo, íamos para os mutirões, onde ele não apenas mandava, mas colocava a mão na massa junto com a população”, conta.

Paulo Ortegal conta que o político tinha carisma, o que falta aos de hoje. Por essa razão, era tão amado, principalmente pela população mais vulnerável. “Quando ele marcava um mutirão em algum bairro, todos queriam participar. As pessoas atendiam ao chamado de coração aberto, porque sabiam que ele estaria presente. O Iris comia junto com o povo e fazia questão de interagir com os trabalhadores, e isso atraía o povo para o seu lado”, considera.

Paulo Ortegal relembra o mutirão para a construção de mil casas em um único dia, na Vila Mutirão. “Aquilo somente alguém que possui um chamado divino tem capacidade e competência para fazer. A população atendeu ao chamado e realmente não foram apenas construídas as casas, mas também feita a mudança de grande parte dos moradores.” Nesse período, Íris era governador.

Paulo Ortegal ressalta que a convivência com o maior político da história de Goiás foi um aprendizado que levará para a vida toda. “Nunca vi um homem público que se preocupava tanto com o bem-estar do povo, da cidade e do Estado como era o Iris. Ele levava muito a sério esse ofício – era um líder que não foi forjado, mas nasceu líder”, conclui.

Andrey Azeredo, advogado e membro da executiva do MDB, acompanhou Iris Rezende por mais de 20 anos e destaca que uma das características marcantes do político sempre foi o diálogo. Segundo ele, essa abordagem resultava em mais acertos do que erros.

 Andrey relata que, quando alguém apresentava uma demanda de algum bairro, Iris ia pessoalmente ao local para verificar se era, de fato, a maior necessidade das pessoas. “Ele mantinha uma excelente comunicação com a população e sempre ouvia as lideranças dos bairros, que, segundo ele, eram quem conheciam as reais carências específicas. Com isso, alcançava uma porcentagem muito alta de acertos”, afirma.

Outro ponto crucial nas gestões do ex-governador, conforme explica Azeredo, era o acompanhamento diário da situação financeira da prefeitura. “Ele fazia questão de estar por dentro de tudo: o que tinha em caixa e o que seria pago naquele dia. Isso não era mensal, mas diário. Como controlador geral do município de 2005 até 2010, posso afirmar com tranquilidade que Iris é um exemplo de honestidade no tratamento com o dinheiro do povo.”

As decisões relevantes que poderiam impactar a vida das pessoas eram tomadas por ele, sem delegação aos secretários. “Ele discutia com o secretariado, com as lideranças, e dali obtinha respaldo para tomar as melhores decisões. Ele dizia a todos os secretários que eles tinham a prerrogativa de dizer apenas não; o sim era ele quem falava.”

Andrey avalia que naquilo a que o ex-prefeito se propunha a fazer, uma gestão objetiva com obras e ações que realmente trouxessem resultados para toda a população, ele se destacava como o melhor.

Agenor Mariano, presidente municipal do MDB e ex-secretário de administração e planejamento nas gestões de Iris Rezende, destaca a transparência na forma de governar do político. “Ele entregava aquilo que a população desejava, aquilo que prometia durante as campanhas eleitorais”, assegura. Mariano lembra que em todas as gestões do ex-prefeito, a cidade era limpa, bem arrumada e recebia obras estruturantes que efetivamente melhoraram a vida das pessoas.

Mariano destaca que Iris considerava-se verdadeiramente um empregado do povo. “Em 18 anos de convivência diária, nunca vi uma incoerência no que ele falava para o que ele praticava.” Mariano enfatiza que Iris não era apenas um prefeito, mas um líder da cidade, dos secretários; ele delegava funções e cobrava resultados.

O presidente municipal do MDB relata que Iris lia todos os jornais de circulação na cidade, pois esses veículos de comunicação o ajudavam a governar, mesmo com críticas ao seu estilo de administração. “Quando algum colunista escrevia alguma crítica, ele chamava o secretário daquela determinada área e perguntava se a crítica procedia. Se a resposta fosse sim, porque ele exigia a verdade, ele voltava atrás e corrigia aquele erro. Ele tinha uma facilidade enorme de reconhecer seus erros, e isso o engrandecia.”

Agenor Mariano destaca como fundamental nas administrações a questão do planejamento. Segundo ele, Iris não fazia nada sem levantar dados e planejar como seria feito. “Ele era muito preocupado com a sua reputação, com o que as pessoas iriam avaliá-lo.” Mariano conclui afirmando que Iris Rezende foi um homem singular, um gênio, que nasce apenas uma vez a cada 100 anos.

Lívio Luciano, ex-secretário em gestões de Iris desde a década de 90, destaca que o amigo possuía diversos diferenciais em comparação a outros gestores. Ele era notavelmente focado em suas atividades e habilidoso na formação de equipes tecnicamente qualificadas para conduzir um governo eficiente, além de demonstrar autoridade. “Nos governos dele não havia crises de autoridade, seja nas decisões mais simples ou nas mais complicadas; ele não se omitia”, afirma.

Lívio enfatiza uma das características mais marcantes de Iris Rezende, que, segundo ele, era a atenção dedicada às pessoas, independentemente de sua posição social. Iris apreciava o contato humano e valorizava a interação com a população. “Nunca vi alguém tão atencioso para ouvir. Ele gostava de estar próximo do povo e fazia questão disso”, acrescenta. “Lembro-me de quando eu era secretário de comunicação e tinha a responsabilidade de coletar todos os bilhetes enviados para Iris. Posso garantir que eram muitos, e nenhum deles era descartado sem antes ser lido e analisado um a um. Alguns, Iris fazia questão de ler pessoalmente. Esses bilhetes continham expressões de gratidão e diversas demandas, sendo cada um de extrema importância para ele.”

Dr. Irapuan Costa Junior afirma que não era propriamente um opositor de Íris, apenas não eram próximos. Ele relata que na década de 1960, os contatos eram ocasionais com Iris Rezende. “Eu era empresário e ele era um político que progredia rapidamente. Vereador, deputado e prefeito, tudo naquela década. Mas sua carreira sempre ascendente era muito conhecida por todos. Veio sua cassação em 1969 e seu afastamento até 1979, quando recuperou os direitos políticos. Nesse período, fui Presidente da CELG, prefeito de Anápolis e Governador, mas poucas vezes nos falamos”, lembra.

Irapuan esclarece que com a candidatura de Íris em 1982 a governador, as conversas entre os dois aconteceram algumas vezes, quando na ocasião, o então ex-governador resolveu deixar a ARENA, seu partido na época, e ingressar no MDB para apoiar a candidatura de Íris Rezende. “Foi uma eleição consagradora para Íris, e me elegi deputado, tendo colaborado com seu governo. Em 1986 fui eleito para o Senado e Íris foi para o Governo Federal (Ministro da Agricultura). Encontramo-nos algumas vezes em Brasília, quando tratávamos dos assuntos goianos. Em 1986 deixei a carreira política, e poucas vezes mais nos encontramos”, ressalta Irapuan.

“Íris tinha um sentido extra que lhe permitia sentir as aspirações populares e procurar atendê-las. Já na década de 1960, possuía um sentido de marketing político que deixaria os modernos marqueteiros com inveja. Um exemplo foi a adaptação dos mutirões rurais à política urbana quando prefeito. Como governador, ergueu mil casas pré-fabricadas em um dia, outro exemplo. Era ainda um orador popular excepcional. Sabia se assessorar de pessoas capazes. Não admira que fizesse tanto sucesso”, frisa Irapuan.

FONTE: JORNALOPÇÃO

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