Imagine apreciar gravuras rupestres de, no mínimo, 2 mil anos, localizadas em Formosa, sem sair de casa. Isso será possível tridimensionalmente, a partir de agosto, quando os estudiosos do projeto de pesquisa “Iconografia das Tradições: um estudo da Arte Rupestre formosense com vistas à criação de um Banco de Imagens – Parte III” concluírem os trabalhos, disponibilizando os registros 3D em um ambiente virtual de acesso gratuito.
No último sábado, 20 de maio, a pesquisa de campo contou com a participação da empresa júnior da Universidade de Brasília (UnB), Zenit Aerospace, que fez imagens aéreas do Sítio Arqueológico Lajedo do Bisnau com o auxílio de drone. Acompanharam o trabalho, o orientador do projeto, professor Edson Rodrigo Borges, e os estudantes Guilherme Luciano de Sousa (bolsista) e Kattllen Natália Barros Oliveira. Além deles, participa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (Pibic-EM), a estudante Gyovanna Myrella Gomes Rodrigues. Também integrou o grupo, o condutor ambiental Noel José dos Santos, que fez o curso de Formação Inicial e Continuada (FIC) de Condutor Ambiental no Câmpus Formosa.
Ana Carolina Nunes Pereira, Maria Eliza Brás Braga e Renata Quadros Kurzawa, da ZenitAerospace, fizeram as imagens que serão incluídas na pesquisa. A participação da empresa foi possível por intermédio de parceria com o Núcleo Incubador do Câmpus Formosa. Além do suporte prestado, a Zenit Aerospace pretende desenvolver outras ações com o câmpus, incluindo um possível curso de pilotagem de drone.
Pesquisa
O projeto de pesquisa começou em 2017, com o professor de Artes, Edson Borges, e alunas do Ensino Médio, Michelly Rayssa Freitas Rodrigues e Luiza Costa da Cruz. Na fase II, também participou o estudante Gabriel Pereira Silva. Inicialmente, o objetivo era a criação de um banco de imagens para auxiliar arqueólogos, antropólogos e outros pesquisadores no mapeamento das representações. Desta forma, nasceu o blog Arqueologia Formosa, que narra a história iconográfica da região e disponibiliza os registros realizados durante o processo de estudo.
No entanto, a equipe não se deu por satisfeita. Em trabalhos de campo, foi observado o rápido desgaste das imagens rupestres (veja abaixo) causado pela ação humana e climática e a falta de políticas públicas para a proteção do patrimônio histórico-cultural, e o grupo decidiu expandir o projeto de pesquisa. Após a medição dos petroglifos da Tradição Geométrica de uma área específica, os estudiosos partiram para a produção de imagens tridimensionais para visitação do local em ambiente virtual (blog Arqueologia Formosa), semelhantemente ao Google Views, na tentativa de contribuir na conservação do sítio, reduzindo o fluxo presencial de pessoas. “Assim as pessoas podem fazer uma visita virtual sem precisar ir lá e ampliar a depredação do lugar. Bem ou mal, você está pisando em cima das imagens e prejudicando o lugar”, justificou Edson.
Fotografias mostram estado de conservação de representação rupestre em intervalo de cinco anos
De acordo com Edson Borges, o local “está bastante desgastado”. Comparando o registro de uma imagem realizado no início do projeto, em 2017, com outro, em 2023, ele constatou que a degradação dos petroglifos está muito acelerada. “Para mim, não foi uma ação da natureza. Ali foi uma intervenção humana”, declarou. Perguntado se há solução, o professor de Artes responde afirmativamente, no entanto, acredita que “precisa ter um bom diálogo entre poder público e os proprietários, para que todos ganhem com a proteção à área”. “O IPHAN [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] tem a política; não dá para aplicar tudo, mas, mesmo assim, precisa ficar mais próximo, mais ativo, no sentido de orientação, de ajuda”, disse o pesquisador.
“A obrigação [de preservação] é de todo mundo”, declarou o orientador da pesquisa, professor Edson Borges.
Os estudantes pesquisadores concordam que há comprometimento da área. “Com a minha chegada à rocha, vendo de perto as imagens, me assustei”, enfatizou Kattlen. A aluna do 3º ano do curso técnico integrado ao Ensino Médio em Saneamento reconheceu que teve dificuldades para interpretar as gravuras, mas que, após a explicação in loco pelo orientador, teve certeza de que “daqui a uns anos aquelas gravuras não estarão mais presentes se não tomarem certas decisões para combater o desaparecimento delas”. Para ela, a disponibilização das imagens 3D será importante para a preservação. “Com o projeto teremos acesso às representações sem prejudicá-las. Se ocorrer a proibição de entrada no local futuramente, poderemos conhecê-las de uma forma muito nítida”, afirmou.
Sítio arqueológico
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Formosa apresenta atualmente 44 sítios arqueológicos registrados. O Sítio Arqueológico Lajedo do Bisnau é uma área com aproximadamente 3.500 m² de rocha sedimentar de arenito, localizada em Formosa-GO, com acesso pela BR-020, à direita do Km 48, sentido Formosa-GO a Bahia. É uma área particular que guarda aproximadamente 400 petroglifos. As imagens marcadas na rocha foram feitas por vários povos de culturas diferentes que estiveram no local, em períodos distintos da história.
*Imagens: Arquivo pessoal Edson Borges
Fonte: Coordenação de Comunicação Social/Câmpus Formosa