Revelação é da PF que fez operação na terça-feira e detalhou esquema; tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, lotado em Goiânia, está entre os presos; ministro abriu sigilo do processo
A Polícia Federal (PF) revelou na terça-feira (19) os detalhes da investigação que expôs um plano audacioso de um grupo de militares e um policial federal para prender e, possivelmente, assassinar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Os envolvidos na trama, agendada para o dia 15 de dezembro de 2022, utilizavam os codinomes Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana. Eles se articulavam por meio de mensagens trocadas em um grupo chamado Copa 2022, em um aplicativo de mensagens.
De acordo com o relatório, os suspeitos monitoravam a residência de Moraes e planejavam atacar durante o trajeto ou o retorno do ministro para casa. Contudo, o adiamento de uma sessão no STF, que julgaria o orçamento secreto, levou ao cancelamento da operação. As mensagens trocadas mostram que, às 20h59, o líder do grupo ordenou que a missão fosse abortada, após confirmar que a movimentação no Supremo havia sido suspensa.
Oficial lotado em Goiânia foi preso no Rio de Janeiro
Entre os envolvidos estão quatro militares da reserva e um policial federal, presos durante a operação da PF autorizada pelo próprio Alexandre de Moraes. O envolvimento do tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, lotado em Goiânia, surpreendeu o Exército, conforme revelou a jornalista Míriam Leitão, no jornal O Globo. Ele foi preso no Rio de Janeiro.
Os suspeitos utilizavam celulares habilitados com chips registrados em nomes de terceiros, estratégia que visava dificultar a rastreabilidade. Além de Moraes, o grupo também teria planejado ações contra o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o vice-presidente, Geraldo Alckmin.
Conforme o relatório, os investigados usaram conhecimentos técnicos e militares para planejar as ações, que incluíam divisão de tarefas e posicionamento estratégico em locais próximos à residência do ministro e outras áreas sensíveis de Brasília. Uma das mensagens mostra um dos envolvidos, com o codinome Gana, relatando estar posicionado em frente ao estacionamento de um restaurante na capital federal.
Investigação mostra detalhes de ação clandestina
As mensagens capturadas pela PF trazem detalhes do momento em que a operação ilícita foi abortada. Às 20h57, o integrante identificado como Áustria perguntou no grupo se o “jogo” seria cancelado. Dois minutos depois, recebeu a resposta: “Abortar… Áustria… volta para local de desembarque.” Em seguida, Gana relatou dificuldades em encontrar transporte para sair da área, optando por caminhar até locais públicos, o que a PF interpretou como uma tentativa de evitar rastreamento.
Além de monitorar a residência funcional de Moraes, os envolvidos parecem ter ajustado suas ações de acordo com eventos do STF. Em uma das mensagens, o adiamento da votação no Supremo foi compartilhado, demonstrando que as atividades do grupo estavam diretamente ligadas ao calendário da Corte.
Entre os alvos da operação da PF estão também o general da reserva Mario Fernandes que trabalhou na presidência no governo de Jair Bolsonaro; os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira; além do policial federal Wladimir Matos Soares. O envolvimento de Rafael Martins foi descoberto após trocas de mensagens com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, ampliando a dimensão da investigação. Parte do material inclusive tinha sido deletado por Cid, mas recuperado pela PF.
O relatório aponta que os envolvidos buscavam evitar qualquer rastreamento digital. Gana, por exemplo, teria evitado aplicativos como Uber e optado por táxis pagos em dinheiro. Essa tentativa de operar “fora do radar” reforça a sofisticação do plano, que, apesar de não ter sido executado, demonstra uma organização preocupante.
As investigações continuam em busca de esclarecer o alcance da operação e identificar outros possíveis envolvidos. O caso lança luz sobre as ameaças que rondam instituições democráticas no Brasil e sobre a necessidade de vigilância contra tentativas de desestabilização por meio de atos extremistas.
Texto: Marília Assunção
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil