Entenda o que levou Elon Musk a deixar o governo Trump

Musk exercia a função de “funcionário especial do governo” (Special Government Employee, ou SGE), posto que permite colaborar com o setor público por até 130 dias por ano

Foto: Andrew Harnik/Getty Images

O bilionário Elon Musk anunciou, nesta quarta-feira, 28, o fim de sua atuação no governo Donald Trump como chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), órgão criado no início do ano com o objetivo de cortar gastos públicos. Musk exercia a função de “funcionário especial do governo” (Special Government Employee, ou SGE), posto que permite colaborar com o setor público por até 130 dias por ano. Com o limite atingido em maio, após a posse de Trump em 20 de janeiro, seu desligamento era previsto.

A Casa Branca confirmou ao site Semafor que a saída de Musk se efetivaria ainda na noite de quarta-feira. Em publicação na rede social X, da qual é proprietário, Musk agradeceu a Trump pela oportunidade e afirmou que acredita que o DOGE “se tornará um estilo de vida em todo o governo”. Segundo ele, a agência “apenas se fortalecerá com o tempo”.

A saída, embora esperada, ocorre após Musk criticar publicamente um dos principais projetos legislativos da nova gestão Trump — uma proposta que inclui isenções fiscais trilionárias e aumento nos gastos com defesa. Em entrevista à CBS, Musk disse estar “decepcionado” com a proposta, afirmando que ela aumentaria o déficit federal e poderia “prejudicar o trabalho” do DOGE.

“Fiquei decepcionado ao ver esse enorme projeto de gastos, sinceramente, que aumenta o déficit orçamentário em vez de reduzi-lo”, disse Musk em um trecho de entrevista divulgado pela CBS na noite de terça-feira, 27. O trecho faz parte de uma entrevista mais longa, que irá ao ar no dia 1º de junho, no programa CBS Sunday Morning.

Ações no DOGE influenciaram Tesla

O desligamento encerra, ao menos por ora, a polêmica incursão política de Musk, que se tornou um dos principais conselheiros do ex-presidente. Musk gastou mais de US$ 200 milhões (R$ 1,14 bilhão) para apoiar Trump na eleição presidencial do ano passado e rapidamente se tornou uma figura influente no entorno do presidente após sua posse. No entanto, o forte investimento de Musk pareceu ter tido um efeito contrário na disputa pela Suprema Corte de Wisconsin no mês passado, quando a candidata liberal Susan Crawford venceu seu adversário conservador com folga — resultado que alguns interpretaram como um referendo sobre Musk.

Durante esse período, a Tesla — montadora de carros elétricos liderada por ele — viu lucros e vendas despencarem, em meio a protestos e boicotes organizados por críticos de sua atuação no governo. Manifestantes vandalizaram veículos e estações de recarga da Tesla, forçando a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, a declarar que tais atos seriam tratados como “terrorismo doméstico”.

No mês passado, Musk também disse a investidores da Tesla que seu envolvimento com o DOGE “cairia significativamente” a partir de maio, e que ele passaria a dedicar mais tempo à montadora de carros elétricos.

A ofensiva de Musk à frente do DOGE ficou marcada por medidas radicais de corte de gastos, incluindo a demissão em massa de cerca de 260 mil funcionários federais e tentativas de fechamento de agências inteiras. Em alguns casos, juízes federais determinaram a reintegração de servidores, inclusive ligados ao programa nuclear dos EUA, alegando demissões equivocadas.

Apesar da turbulência, Musk afirmou em abril que dedicaria menos tempo ao governo e mais à Tesla. Após essa declaração, as ações da montadora, que vinham em queda, voltaram a subir. Em um fórum econômico em Doha, nesta terça-feira, 27, Musk reafirmou seu compromisso de liderar a Tesla pelos próximos cinco anos.

Trump, por sua vez, já havia confirmado em abril que a saída de Musk era esperada. “Temos que, em algum momento, deixá-lo ir”, disse o ex-presidente à BBC. Ele também afirmou que a Tesla “seria resolvida” e lamentou o tratamento recebido por Musk, classificando-o como “grande patriota” e afirmando que ele foi “tratado de forma muito injusta por parte do público”.

Críticas de Musk

O projeto que Musk se diz decepcionado foi aprovado na Câmara por uma margem apertada na semana passada, após o próprio presidente intervir e advertir os republicanos mais conservadores, contrários aos gastos públicos, para que não prejudicassem sua principal proposta. A votação terminou em 215 a 214, com todos os democratas e dois republicanos votando contra. Trump comemorou a aprovação na Câmara, classificando o projeto como “possivelmente a proposta legislativa mais significativa que já foi assinada”, em uma publicação na Truth Social.

Além do mais, destacou trechos do projeto que ajudam a cumprir promessas centrais de campanha, como a eliminação de impostos sobre gorjetas e horas extras, além de um aumento no financiamento para a segurança nas fronteiras. A proposta agora segue para o Senado.

Segundo estimativa do Comitê para um Orçamento Federal Responsável — um grupo fiscal independente e apartidário —, o projeto de gastos deve adicionar cerca de US$ 3,3 trilhões (R$ 18,81 trilhões) à dívida federal ao longo dos próximos 10 anos. O grupo também alertou que esse valor pode aumentar em mais US$ 5,2 trilhões (R$ 29,64 trilhões) caso os parlamentares “acabem prorrogando as disposições temporárias” da proposta.

As críticas de Musk à principal agenda política de Trump surgem no momento em que o bilionário se afasta da liderança do DOGE. Durante sua participação no Fórum Econômico do Catar, na semana passada, Musk afirmou que pretende reduzir significativamente suas doações políticas. “Pretendo fazer muito menos no futuro”, disse o empresário.

Questionado sobre o motivo, respondeu: “Acho que já fiz o suficiente.”

FONTE: JORNAL OPÇÃO

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