Justiça determina um ano para Incra regularizar Território Quilombola no Entorno do DF

Comunidade Mesquita, em Cidade Ocidental (GO), luta há mais de dois séculos pelo reconhecimento de seus direitos territoriais.

O prazo é de 12 meses para o processo de regularização fundiária do Território Quilombola Mesquita. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Justiça Federal determinou que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) conclua, no prazo de 12 meses, o processo de regularização fundiária do Território Quilombola Mesquita, localizado no município de Cidade Ocidental (GO), a cerca de 45 quilômetros de Brasília.

A decisão, proferida pela Vara Federal Cível e Criminal da Subseção Judiciária de Luziânia e divulgada em 8 de julho, estabelece ainda que o Incra publique, em até 30 dias, a portaria de reconhecimento da área. Em seguida, o órgão terá cinco meses para analisar os títulos de propriedade e realizar as avaliações fundiárias. O descumprimento dos prazos pode acarretar multa diária de R$ 20 mil.

O processo de regularização será conduzido em duas etapas. A primeira, chamada de fase de composição, prevê a negociação da saída de ocupantes que não pertencem à comunidade quilombola. Já a segunda etapa, de natureza coercitiva, determina a retirada de pessoas que se recusarem a deixar a área de forma voluntária.

Como medida emergencial, a Justiça impôs aos atuais ocupantes o prazo de até dois meses para instalação de barreiras de contenção ambiental, com o objetivo de impedir a contaminação do solo e do ar por defensivos agrícolas. O não cumprimento resultará em multa diária de R$ 10 mil.

Segundo o procurador da República José Ricardo Teixeira Alves, autor da ação, a sentença representa um avanço significativo para a efetivação dos direitos da comunidade. “A decisão é um marco no reconhecimento dos direitos da comunidade quilombola Mesquita, que há anos sofre com omissões institucionais e práticas negacionistas”, afirmou.

A Comunidade Mesquita tem cerca de dois mil moradores, todos descendentes de pessoas escravizadas levadas à região durante o ciclo da mineração, no século XVIII. Com mais de 270 anos de história, o território está situado em uma área pertencente ao município de Cidade Ocidental, no Entorno do Distrito Federal.

Na decisão, a Justiça considerou diversos elementos que comprovam a legitimidade da reivindicação, como a ocupação tradicional da terra pelos troncos familiares Mesquita e Pereira Dutra desde pelo menos os anos de 1820 e 1850; estudos genealógicos que confirmam a ancestralidade negra; a existência de cemitérios familiares no local; além de perícias judiciais com análises antropológicas e agronômicas, e o reconhecimento da autoidentificação da comunidade como quilombola.

Em nota, o Incra informou que a Superintendência no Distrito Federal e Entorno tem atuado no território por meio de ações técnicas e institucionais, e que a portaria de reconhecimento do Território Quilombola Mesquita já está incluída no planejamento da unidade. O órgão garantiu que o processo seguirá os trâmites legais previstos.

FONTE : JORNAL OPÇÃO

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