O conhecimento sobre os impactos da infecção pelo coronavírus sobre o organismo humano é atualizado de maneira dinâmica, de acordo com relatos clínicos das mais diversas partes do mundo.
Ao longo dos últimos três anos, a compreensão sobre a nova doença evoluiu de maneira significativa, com a descrição de sintomas prolongados, quadro clínico nomeado como Covid longa. Os sintomas clínicos podem variar, incluindo fadiga, névoa cerebral e tontura, e duram meses ou anos após a infecção inicial.
Um novo estudo, conduzido nos Estados Unidos, revela detalhes sobre o problema de saúde ao reunir 12 sintomas que diferenciam a condição da infecção comum. Os resultados da pesquisa, financiada pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH em inglês), dos EUA, foram publicados na revista científica JAMA.
A análise, que contou com a participação de quase 10 mil pessoas dos Estados Unidos, apontou que a Covid longa era mais comum e grave em participantes que foram infectados antes da emergência da variante Ômicron, em novembro de 2021.
12 sintomas
Os pesquisadores examinaram dados de 9.764 adultos, incluindo 8.646 que tinham Covid-19 e 1.118 que não tinham a doença. Eles avaliaram mais de 30 sinais em vários partes e órgãos do corpo e aplicaram análises estatísticas que identificaram 12 sintomas que mais diferenciam aqueles com e sem a Covid longa:
- mal-estar pós-esforço,
- fadiga,
- confusão mental,
- tontura,
- alterações gastrointestinais,
- palpitações cardíacas,
- problemas com desejo ou capacidade sexual,
- perda de olfato ou paladar,
- sede,
- tosse crônica,
- dor no peito
- e movimentos anormais.
A partir disso, os especialistas estabeleceram um sistema de pontuação com base nos sintomas relatados pelos pacientes. Ao atribuir pontos a cada um dos 12 sintomas, a equipe deu a cada paciente uma pontuação com base nas combinações de sintomas.
Com essas pontuações, eles então descobriram um limite significativo para identificar participantes com Covid longa. Além disso, observaram que alguns sinais ocorreram juntos e definiram quatro subgrupos com uma variedade de impactos na saúde.
Com base em um subconjunto de 2,2 mil pacientes que tiveram uma primeira infecção por Covid-19 após 1º de dezembro de 2021, quando a variante Ômicron estava circulando, cerca de 10% apresentaram sintomas de longo prazo após seis meses. Segundo o estudo, os resultados são baseados em uma pesquisa de um conjunto altamente diversificado de pacientes e não são definitivos. Em um próximo passo, os resultados da pesquisa serão comparados para fins de precisão com uma série de testes de laboratório e imagens.
Até o momento, mais de 100 milhões de americanos foram infectados pelo coronavírus. Em abril, uma pesquisa do governo federal apontou que cerca de 6% das pessoas infectadas com o vírus ainda sofrem com diversos sintomas.
“Este estudo é um passo importante para definir a Covid longa além de qualquer sintoma individual”, disse a autora do estudo Leora Horwitz, diretora do Center for Healthcare Innovation and Delivery Science, em comunicado. “Essa abordagem — que pode evoluir com o tempo — servirá como base para a descoberta científica e a definição do tratamento”, acrescenta.
Além de estabelecer o sistema de pontuação, os especialistas descobriram que os participantes que não foram vacinados ou que tiveram a doença antes do surgimento da Ômicron apresentavam maior probabilidade de ter Covid longa, além de casos mais graves. Além disso, as reinfecções também foram associadas a maior frequência e gravidade dos sintomas prolongados em comparação com pessoas infectadas apenas uma vez.
Estudar os mecanismos biológicos e as consequências da infecção pelo coronavírus pode levar ao avanço nas intervenções médicas e no desenvolvimento de novos tratamentos, afirmam os pesquisadores.
“Os pacientes que sofrem de Covid longa merecem a atenção e o respeito da área médica, bem como cuidados e tratamentos orientados por suas experiências. À medida que os tratamentos são desenvolvidos, será importante considerar o perfil completo dos sintomas”, disse David C. Goff, diretor da Divisão de Ciência Cardiovascular no Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue, parte do NIH.
O estudo é coordenado pela iniciativa Researching Covid to Enhance Recovery (Recover) do NIH, um esforço nacional dedicado a entender por que algumas pessoas desenvolvem sintomas de longo prazo após a Covid-19.
Fonte: CNN