Confira a programação da mostra de cinema voltada para produções do DF

A Mostra Brasília do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro apresenta, a partir de segunda-feira até dia 19/9, cinco longas-metragens e 11 curtas de cineastas da cidade

Mil luas é o primeiro longa-metragem de ficção da cineasta Carina Bini – (crédito: Fotos: Divulgação/Festival de Brasília do Cinema Brasileiro)

Na celebração de 60 anos do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o audiovisual candango ganha destaque especial. Voltada para produções do DF, a conhecida Mostra Brasília começa na próxima segunda-feira, e concede aos vencedores R$ 298.473,77 em prêmios, um aumento de 24,36% em relação ao ano passado. No total, serão cinco longas-metragens e 11 curtas exibidos entre segunda e sexta-feira (19/9), no Complexo Cultural Planaltina, Cine Brasília e nos Sesc Gama, Ceilândia e da 504 Sul. Os ganhadores serão anunciados na cerimônia de encerramento do evento, em 20 de setembro.

O documentário Vozes e vãos, das cineastas Edileuza Penha de Sousa e Edymara Diniz, abre a mostra com uma narrativa que fala dos sonhos e desejos dos jovens quilombolas de Cavalcante, no Goiás. Além de demonstrar a determinação e resistência da juventude, o longa serve como uma denúncia da má qualidade da educação dentro dos quilombos, segundo Edileuza Penha.

Ao acompanhar os jovens que desejam ter espaço e oportunidade para construir um futuro, a trama fala de permanência e territorialidade. “Eu acho que falar de narrativas quilombolas tem esse lugar da resistência, da teimosia de viver, de estar aqui, de permanecer vivo e de criar vidas.”, destaca a cineasta. Para ela, abordar esta atmosfera no cinema é muito importante pois reforça a ideia de uma sociedade justa, mais igualitária e diversa: “A gente está dizendo que todas as vidas importam, e falamos de diversidade e persistência ao falar dos quilombolas. É falar do povo negro brasileiro que sobrevive há mais de 500 anos a luta contra o extermínio”, finaliza.

Mil luas, longa exibido na terça-feira, acompanha Chiara, uma mulher imigrante e mãe solo que enfrenta uma jornada de autodescoberta aos 80 anos. A trama explora a velhice sob a perspectiva de que, mesmo com a idade avançada, uma pessoa pode estar em plena capacidade e vitalidade, e é capaz de seguir sonhando e acreditando em suas escolhas e em si mesma. “Eu acho que esse é o grande diferencial do enredo do filme”, opina a diretora Carina Bini. “A beleza dele é trazer esses encontros intergeracionais, como convivermos e aprendermos a partir da relação com as diferentes gerações”, complementa.

A cineasta, ao lançar seu primeiro longa-metragem de ficção aos 51 anos, conta que o filme propõe uma reflexão sobre vida e produtividade humana, um debate fundamental para a sociedade. “Eu acho que no mundo hoje, trazer um tema sobre a velhice, um lugar onde todos nós chegaremos em algum momento, é bastante importante. Eu já vinha desenvolvendo outras coisas no cinema, então sou uma veterana. Mas qual é o meu tempo de vida produtiva dentro do audiovisual a partir desse momento?”, reflete Carina.

A produção também apresenta a discussão da realização profissional em uma idade avançada. “Acreditar nos sonhos, se lançar com coragem ao inesperado, se realizar enquanto artista, a partir da metade da meia-idade ou da velhice… Isso é aceito dentro do nosso sistema, que fala que quanto mais produtividade, mais sucesso eu vou ter, então acho que é um debate bastante importante”, completa a cineasta.

Mostra de estreias

Maré viva maré morta, de Claudia Daibert, é o destaque da programação de quarta-feira. O documentário conta a história de duas mulheres, Berna e Zélia, que cuidam de duas unidades diferentes de conservação marinha. O filme traz uma montagem paralela entre a vida das duas e a história dos dois lugares e, segundo a diretora, é uma história de “amor, morte, ciclos, vida, força e de pessoas que cuidam de espaços muito importantes para a conservação do nosso planeta”.

Além disso, para Claudia, é fundamental haver produções de mulheres voltadas para narrativas femininas. “Eu tento contar minimamente a história de duas mulheres que me tocaram muito, porque eu me apaixonei completamente por elas quando as conheci. Pela personalidade delas, pela vida que elas levam”, lista a cineasta. “Eu espero que, para além da gente poder conhecer mais sobre a história de duas mulheres tão fortes, a gente possa perceber como é importante a preservação de espécies e do meio ambiente”, complementa.

Brasiliense de nascença, Claudia atua no cinema há mais de 20 anos, mas Maré viva maré morta marca seu primeiro longa-metragem como diretora. Como parte do público, ela coleciona memórias do Festival de Cinema desde a adolescência e expressa a honra de estrear no evento como participante da mostra que homenageia a cidade em que ela nasceu. “O festival me formou como profissional e como pessoa, porque ali eu vi que era possível. Eu vi tantas histórias, tantas mulheres diretoras mostrando seus filmes… É a melhor estreia possível”, comemora a cineasta.

Na quinta, a mostra recebe a exibição da produção A última noite da rádio, estreia do diretor Augusto Borges no mundo dos longas-metragens. Ficção científica, o filme gira em torno de Leo, um homem que vai preso por um crime que não cometeu. “É uma história de vingança de um irmão contra o outro, após um deles ser abandonado na cadeia”, explica o diretor. “Por trás disso, tem toda uma trama de viagem no tempo, que funciona mais como um pano de fundo do que como elemento principal”, adianta.

Augusto defende que, diferente dos demais filmes do gênero da ficção, A última noite da rádio foca na relação entre os personagens. “Temos um protagonista LGBTQIAPN e periférico em uma narrativa que não gira em torno dessas características”, destaca o cineasta. Também roteirista e editor, o diretor do longa já foi premiado na 55ª edição do Festival de Cinema e é o responsável pelo primeiro filme da Ceilândia a ser selecionado para o Festival de Cinema de Gramado, com o curta Wander Vi.

“Eu me sinto um representante temporário do cinema ceilandense dentro dessa edição do festival”, define Augusto. “A Mostra Brasília em si é essencial ao meu ver, é um espaço em que cineastas do Distrito Federal, principalmente os iniciantes, têm uma chance de mostrar o trabalho que fazem. É muito significativo e abre muitas portas, então, ao meu ver, todo diretor do DF precisa passar por ela”, opina.

Encerrando a mostra, os cineastas Rafael Ribeiro Gontijo e Sandra Bernardes apresentam o documentário Menino quem foi seu mestre?. “Nosso filme conta a história do surgimento dos mestres de capoeira do Distrito Federal em um cenário de total carência de referências e de uma linha de transmissão para esse saber tradicional tão centrado na oralidade”, descreve o diretor.

A ideia do longa surgiu a partir de registros do projeto Saberes dos Mestres na Capital, que homenageia os pioneiros da capoeira do DF. “A partir das entrevistas e das rodas realizadas pelo programa, percebemos que havia algo de único na manifestação dessa prática por aqui. Nos anos 1960, pelas distâncias de outros centros urbanos e pela própria ausência de referências de capoeira na cidade recém construída, esses primeiros mestres de Brasília precisaram se virar para acessar e desenvolver uma prática tradicional tão ancorada na oralidade”, conta Rafael.

“Foi um processo de muita invenção e insistência que culminou na atualização e adaptação de diversos aspectos da prática da capoeira”, relata. “Ele retrata uma manifestação cultural viva e repleta de ancestralidade, mas também em uma interessante interação crítica com a cidade erguida sob conceitos modernistas”, pondera o diretor. “Contar a história da capoeira no DF contribui para salvaguardar essa prática cultural reconhecida no Brasil e no mundo como patrimônio cultural imaterial”, finaliza Sandr

Os curtas Notas sobre a identidadeTerraA brasilienseO bicho que eu tinha medoO fazedor de mirantesDizer algo sobre estar aquiRainhaDois turnosTrêsO cheiro do seu cabelo e Rocha: Substantivo feminino completam a programação da mostra.

*Estagiária sob supervisão de Márcia Machado

Programação

» Segunda-feira (15/9): Vozes e vãos, Notas sobre a identidade e Terra

» Terça-feira (16/9): Mil luas, A brasilienseO bicho que eu tinha medo e O fazedor de mirantes

» Quarta-feira (17/9): Maré viva maré mortaDizer algo sobre estar aqui e Rainha

» Quinta-feira (18/9): A última noite da rádioDois turnos e Três

» Sexta-feira (19/9): Menino quem foi seu mestre?, O cheiro do seu cabelo e Rocha: Substantivo feminino

» Todos os filmes serão exibidos às 15h no Complexo Cultural Planaltina, às 18h no Cine Brasília (Sala Vladimir Carvalho) e às 19h45 no Sesc Gama e Sesc Ceilândia. No dia seguinte da exibição original, os filmes serão apresentados no Sesc da 504 Sul, às 11h

FONTE : CORREIO BRAZILIENSE

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