Integrantes do partido Progressistas (pP) acusam o presidente do partido, Alexandre Baldy, de mau pagador e de não cumprir com a palavra empenhada. Inclusive, o presidente da Agehab é conhecido como “Sacha Promessa” (Sacha é o diminuitivo de Alexandre em russo).
De acordo com o dicionário (e com a lei), Alexandre Baldy comete o pecado da “prevaricação” quando deixa de cumprir com sua palavra. O verbo prevaricar, no transitivo indireto e intransitivo, significa faltar ao cumprimento do dever por interesse ou má-fé; cometer abuso de poder, provocando injustiças ou causando prejuízos ao Estado ou a outrem, transgredir a moral e os bons costumes, dentre outros.
Alguns membros históricos do Partido Progressista em Goiás queixam-se que foram “deixados para trás”, na campanha eleitoral de 2022, e denunciam que o presidente da sigla no Estado privilegia seus amigos e aliados mais chegados, como o deputado Adriano do Baldy. O economista Júlio Paschoal, por exemplo, acredita que precisa haver critérios quanto ao repasse do fundo eleitoral. Pois, de acordo com o advogado Sérgio Lucas, da forma como está os presidentes dos partidos ficam com muito poder. Alguns desses componentes antigos do partido optaram por tornar público o caso, outros decidiram ficar em silêncio. Por receio de represálias, porque, na opinião deles, Baldy é muito poderoso. “Na conversas privadas, ele costuma dizer que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, ‘come’ nas suas mãos”, afirma um ex-deputado federal. Ele não quis explicar o que isto significa. Mas um ex-pP proeminente assinala que, como é muito rico, Baldy empresta avião, helicóptero e até uma mansão em Brasília para deputados e senadores.
Júlio Paschoal é professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Anápolis. Júlio Paschoal afirma que Alexandre Baldy deixou a desejar na campanha de 2022, privilegiando alguns em detrimento de outros. O economista explica que isso acontece pela forma como é repassado os valores do fundo eleitoral. “Não há critérios de repasses para os candidatos dos partidos, deixando a competitividade dentro do partido injusta. Os presidentes das siglas é quem decide quem, e qual valor será cedido a cada um.”
Júlio Paschoal ressalta que a palavra-chave é “decepção”. O economista esclarece que, a princípio, Baldy lhe fez uma proposta de R$ 1.500.000,00 depois baixou para R$ 100.000,00, que terminou mesmo em R$ 50.000,00. “Como fazer uma campanha para deputado federal com esse valor? ”, questiona. Adriano do Baldy — que o pessoal de Baldy chama de “Xandinho” — teria recebido uma fábula para fazer sua campanha.
Júlio Paschoal relata que, quando se filou ao pP, o próprio Alexandre Baldy, em uma reunião, lhe garantiu que o partido repassaria R$ 1.500.000,00 para as despesas da campanha. O economista reitera que fez a pré-campanha aguardando o cumprimento da promessa do presidente da sigla. No entanto, ao chegar o início da campanha, conta que o procurou para receber o prometido; porém, Baldy lhe disse que não lembrava de tal promessa. “Quando se trata de pagar, a memória de Baldy curtíssima”, assinala um ex-vereador.
“Eu sou homem de palavra, se eu fechar um acordo com outro homem, não preciso assinar nada. O que o Alexandre Baldy fez não foi papel de homem, de uma pessoa séria. Quando ele veio com a conversa de apenas R$ 100.000,00 quase tive um infarto fulminante. Entretanto, o pior ainda estava por vir; quando vieram me entregar os R$ 100.000,00 ainda foi dividido em duas vezes. Eu tive que assinar um comprovante que estaria recebendo os R$100.000,00, quando, na verdade, recebi somente R$ 50.000,00, sendo que a outra metade eu nunca recebi”, afirma Júlio Paschoal.
Júlio Paschoal conta que a única coisa que ganhou foram dívidas, que ainda está pagando. “Tive que fazer um empréstimo na Caixa Econômica Federal no valor dos R$ 50.00,00 a juros de 1,4% em 96 meses para pagar as pessoas que contratei em Goiânia e em Catalão. Isso é coisa de gente desonesta. Se ele tiver coragem de olhar no meu rosto, eu falo a mesma coisa na frente dele. Mas eu sei que pessoas que não têm palavra não conseguem olhar no rosto”, desabafa.
Júlio Paschoal denuncia que assim como outros, ele também foi usado pelo partido como cabo eleitoral. “É preciso que haja uma regulamentação de como as siglas devem fazer a repartição do dinheiro do fundo de forma justa, sem privilégios para os amigos dos presidentes dos partidos. Da forma que está, eles elegem quem eles querem”, critica. Júlio Paschoal lembra que está de saída da sigla.
Sérgio Lucas, advogado e decano do PP em Goiás – foi outra vítima de Alexandre Baldy. Sérgio durante vários anos foi secretário geral do PP no estado, também já assumiu como segundo tesoureiro nacional da sigla e vice-presidente Metropolitano do partido. Sérgio Lucas é um membro histórico do PP, desde os anos 80 e, se considera um fiel escudeiro, por nunca ter mudado de partido, sendo autor do Projeto do Voto revisável.
Sérgio pondera que foi convidado por Alexandre para ser candidato a deputado federal, toda via, não recebeu a contrapartida financeira do partido. O advogado explica que, para assumir uma cadeira na câmara federal, o candidato precisa de no mínimo 30 mil votos para ter uma chance de se eleger. Porém, o material de campanha doado pela sigla não abrangia nem a quinta parte, isto é, seis mil possíveis eleitores, que ainda de acordo com Sérgio, o material era de péssima qualidade.
Sérgio Lucas relata que as despesas que teve foi com a contratação de um advogado, de um contador que são exigidos por lei e a confecção de um site. No entanto, teve uma surpresa desagradável sobre a prestação de contas. “Para minha surpresa, ao fazer minha prestação de contas, elas foram rejeitadas porque havia um débito com uma gráfica, que eu não sabia, que eu não autorizei, relativo ao material casado que eu usei e, eu que herdei a dívida.”
Sérgio Lucas esclarece que, além do fundo partidário — que é para despesas administrativas —, a sigla ainda tem acesso à verba eleitoral. Sérgio Lucas sublinha que o partido ajudou a eleger candidato de outro partido, inclusive financeiramente. “Isso foi uma ‘sacanagem’ muito grande com os candidatos do próprio partido. Baldy não tem nenhuma identificação com a sigla, tanto que, na administração dele, o pP virou legenda de aluguel. Baldy excluiu todos os membros históricos com a intenção de abrigar seus próprios interesses”, critica.
Sérgio Lucas informa que ficou com uma dívida de cerca de R$ 6 mil, e jamais foi procurado pela legenda para um possível reembolso.
Outro membro da legenda que afirma ter sofrido danos foi Ozair José.
Ozair José foi candidato a deputado estadual em 2022. Questionado pela reportagem, lembra que falar sobre o assunto não vai resolver nada, e se limitou a dizer que teve muitos prejuízos financeiros e políticos.
O vereador Sandes Júnior, que também sofreu perdas, foi procurado pela reportagem, mas não foi encontrado. Nicola Limonge preferiu não se pronunciar.
Ações trabalhista de ex-funcionários do pP
Além de ser acusado de não cumprir às promessas feitas aos seus “aliados” e companheiros de partido, causando-lhes prejuízos financeiros e políticos, a legenda ainda precisa responder a ações trabalhistas movidas por ex-funcionários.
Inclusive a reportagem teve acesso a dois processos movidos por duas pessoas que foram demitidas em 2019 sem justa causa. Segundo os autos, mesmo com a decisão favorável às requerentes, o partido se recusa a realizar os pagamentos. A reportagem procurou as vítimas; porém, preferiram não falar sobre o caso. Uma delas disse: é um assunto muito delicado. As pessoas têm medo de Baldy, que seria muito rico. “É difícil enfrentar um político que tem um patrimônio superior a 1 bilhão de reais”, admite um integrante do pP que disputou mandato de deputado em 2022.
Alexandre Baldy foi procurado pela reportagem, mas até o momento do fechamento da matéria, não havia se manifestado. O espaço continua em aberto.
Fonte: Jornal Opção