Hoje resolvi contar a fábula futebolística do leão e do gatinho.
O leão representa aquele jogador que, em jogos grandes, se sobressai. Decide a partida, faz gols importantes que levam o seu time ou seleção a uma classificação ou a algum título muito desejado.
Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, foi o maior leão da selva do futebol. Um “felino” que disputou quatro Copas do Mundo e venceu três, disputando duas finais e anotando três gols — disputou as edições entre 1958 e 1970, e só não foi campeão em 1966. Com 17 anos, foi fundamental para o primeiro título mundial do Brasil, em 1958, e foi ganhando, ao logo dos anos, a alcunha de Rei do Futebol.
Tudo o que Pelé fez no futebol está na memória do mundo, menos em parte da imprensa brasileira “Neymarzete”, que se delicia e se arrepia com dois gols de Neymar sobre a “fortíssima” Bolívia, pelas “dificílimas” Eliminatórias Sul-Americanas.
Para a Fifa, Neymar virou o maior artilheiro da história da seleção brasileira em jogos oficiais, ultrapassando Pelé (79 gols de Neymar ante 77 do Rei do Futebol). Essa parte da imprensa “Neymarzete” fez um Carnaval, como se tivesse sido ele que marcou o gol contra a Itália, na decisão de 1970.
Neymar é um ótimo jogador, mas é muito menos do que poderia ter sido e também muito menos do que parte da imprensa “Neymarzete” fala, inventa e sonha sobre ele.
O Neymar Jr é o “gatinho” da fábula do futebol que estou contando, porque de todos os gols que fez, nenhum deu um título à seleção brasileira principal, nem de Copa América e muito menos em Copas do Mundo — só balançou a rede na vitória por 3 a 0 sobre a Espanha, pela decisão da Copa das Confederações de 2013, aqui no nosso país.
Enquanto Pelé fazia seus gols em finais, Neymar faz seus gols na Bolívia, Venezuela, Equador, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai, visto que contra a Argentina também são raríssimos.
Tudo o que um leão faz fica marcado, como, por exemplo, a primeira tentativa de um jogador marcar um gol do meio campo em uma Copa. No duelo contra a Tchecoslováquia, Pelé tentou e quase conseguiu (por centímetros) encobrir o goleiro Ivo Viktor. Outro belíssimo lance que entrou para história foi a cabeceada maravilhosa que ele deu contra a Inglaterra, fazendo com que o goleiro Gordon Banks fizesse a defesa mais espetacular em um Mundial.
E para terminar, o drible de corpo que Pelé deu no goleiro uruguaio Ladislao Mazurkiewicz, pegando a bola do outro lado e batendo cruzado, girando o corpo, que por pouco não entrou.
São lances que o mundo todo se lembra, se impressiona até hoje e jamais esquecerá. Mas será que os gols de Neymar com a camisa da seleção serão lembrados no futuro?
O que um “gatinho” faz não fica marcado, mas o que um “leão” faz sim.
Neymar, em 2026, poderá igualar a marca de Thiago Silva. Se estiver na lista dos convocados ao Mundial dos EUA, México e Canadá, o jogador do Al Hilal completará a sua quarta participação do torneio, assim como o zagueiro do Chelsea.
Caso não seja campeão daqui três anos, Neymar terá na carreira o recorde negativo pela seleção de quatro Mundiais sem títulos (assim como Thiago), o que reforça ainda mais o fato de o atacante ter feito muitos gols inúteis vestindo a camisa amarelinha.
É vergonhoso o que uma parte da imprensa faz tentando empurrar garganta abaixo números, estatísticas que não contam nada, que não significam nada porque não têm importância.
Para quem tem dúvida, gols têm peso sim e muito. Os três gols que Pelé fez em finais, os dois gols que Ronaldo fez na decisão de 2002, os gols que Romário e Bebeto (principalmente contra EUA) anotaram em 1994, a bola na rede de Rivaldo contra a Bélgica e a de Ronaldinho Gaúcho diante da Inglaterra. Todos estes feitos pesam muito mais do que todos os gols que Neymar fez até agora com a camisa da seleção.
Portanto, está na hora de Neymar fazer coisas grandes de adulto com a camisa da seleção brasileira.
A história está começando a se repetir pela terceira vez, que é o Brasil só ter a Argentina como adversário nas Eliminatórias. Agora é muito mais fácil se classificar à Copa em relação ao que era antes. As Eliminatórias viraram piada. Neymar fez vários gols, mas quando chegou na Copa, nada aconteceu!
Dá para entender a frustração dessa gente, porque muitos nem viram o Brasil ser campeão e nem tiveram o gostinho de ter um ídolo dando um título para o Brasil. Mas se contentar com gols contra a Bolívia é demais, né?
Nesta terça-feira (12), às 23h (de Brasília), o Brasil enfrentará a seleção peruana, em Lima. Tanto faz o que irá acontecer, pois o que importa é a Copa do Mundo.
Eu, como torcedor, já cansei de ver o Brasil chegar em primeiro nas Eliminatórias e não passar das quartas de final em Copas — desde o penta, a seleção caiu nas quartas nos Mundiais de 2006, 2010, 2018 e 2022.
Portanto, se pegar primeiro ou sexto neste fraco classificatório sul-americano, não muda nada, pois só tem uma coisa que colocará o Brasil de volta na história recente do futebol mundial: voltar (ao menos) a jogar uma final de Copa. O resto é só carnaval fora de época.
Já passou da hora de Neymar mostrar que é importante de verdade para o futebol, porque estou na Itália há uma semana e não saiu nada sobre o seu suposto recorde de gols com a camisa da seleção brasileira. E se saiu, foi tão pequeno que não deu para perceber.
O jovem brasileiro tem que cair na realidade, porque está comemorando vitória contra a Bolívia como se fosse final de Copa.
Mais ridículo ainda é quem escreve ou fala que o Neymar calou a minha boca.
Primeiro, ele tem que jogar bola e marcar gols para ser campeão do mundo, e não para calar a boca de ninguém.
Segundo, um jogador para responder aos críticos precisa acabar com o jogo, fazer gols importantes em Copas e diante de grandes equipes.
Fazer festa, mil manchetes de matérias esportivas por causa de dois gols sobre a frágil Bolívia é se contentar com muito pouco.
A nova geração de torcedores e boa parte da imprensa colaboram para o pensamento pequeno para a nossa seleção.
A síndrome do vira-lata que um dia Nelson Rodrigues falou está de volta a todo vapor.
Fonte: UOL