A escassez de grandes cardumes no Rio Araguaia após a seca de 2023 atingiu povos indígenas em Aruanã, no noroeste goiano. Os Karajás, ribeirinhos que fazem as aldeias às margens de rios, enfrentaram a falta de seu principal alimento: os peixes. Para aumentar a reprodução de peixes nessas áreas, entrou em ação um projeto da Universidade Federal de Goiás (UFG).
“Não tem mais [peixes]. Passamos necessidade em relação a peixe. Aí o que nós estamos fazendo… Comprando galinha refrigerada, carne de vaca e outros ‘trem’ assim. Eu nunca imaginei de comer frango congelado”, desabafou Raul Hawakati, cacique Karajá.
Os pesquisadores da universidade montaram um laboratório às margens do rio e coletaram amostras de espécies nativas, como o pacu manteiga e o piau-vara. O material genético foi usado na reprodução dos peixes em tanques da UFG para repovoar as águas, com a ajuda de criadores de peixe.
“A ideia realmente é trazer as espécies para cá, para eles continuar. Com a cultura do consumo do peixe, com a cultura da pesca. E que isso se perpetue nas gerações futuras”, detalhou a pesquisadora Fernanda Gomes de Paula.
Segundo o projeto, foram produzidos 50 mil filhotes para as terras Karajás. Os animais foram criados em lagos de criadores particulares em Rio Verde, no sudoeste goiano.
“É especial, a gente, como iniciativa privada, fazer parte disso. A gente está transferindo e aprendendo tecnologia para replicar isso em outras espécies”. explicou o piscicultor Hugo Leonardo Soares Bento.
Desenvolvimento
Os 50 mil filhotes foram levados para as terras Karajás de caminhão. A viagem de 400 km foi esperada pelos indígenas, que acompanharam a soltura dos animais nos lagos da reserva.
“Muito feliz, muito gratificante mesmo, que a gente tava precisando, todos precisando”, comemorou Indiana Wassuri, indígena Karajá.
A ideia do projeto, além de repovoar as águas, é da multiplicação dos peixes, para que eles voltem a ser o principal alimentos dos 500 moradores da aldeia.
O projeto tem autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para captura de peixes no Rio Araguaia para a reprodução, pesquisa e repovoamento pelos próximos 5 anos.
FONTE:G1