Apreensões de dinheiro do tráfico de drogas pela PF batem recorde e chegam a R$ 2 bilhões em 2023

A Polícia Federal apreendeu, de janeiro a novembro deste ano, R$ 2,07 bilhões em bens e valores de grupos criminosos envolvidos com o tráfico de drogas – um recorde na série histórica iniciada em 2014.

Entram na conta: dinheiro vivo encontrado nas operações de busca; valores em contas bancárias; e bens, como imóveis e carros, sequestrados e bloqueados por ordem da Justiça.

Os dados são da Coordenação-Geral de Repressão a Drogas, Armas, Crimes contra o Patrimônio e Facções Criminosas (CGPRE), da PF.

Na comparação com 2022, quando foram retirados R$ 635,8 milhões em bens e dinheiro do tráfico de drogas, o total apreendido neste ano é 226% superior (veja no gráfico abaixo).

O valor de R$ 2,07 bilhões apreendido em 2023 supera o Produto Interno Bruto (PIB) de diversos municípios brasileiros até 100 mil habitantes, como Gramado (RS) (R$ 2,02 bilhões), Mairiporã (SP) (R$ 1,9 bilhão) e Paraty (RJ) (R$ 1,7 bilhão), conforme dados de 2020 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

R$ 900 mi em uma única operação

Somente na operação Downfall, realizada pelos policiais federais do Paraná em maio deste ano, foram apreendidos mais de R$ 900 milhões, boa parte em imóveis e obras usados por traficantes internacionais para lavar dinheiro.

Na ocasião, após a investigação de um esquema criminoso complexo, a PF cumpriu 30 mandados de prisão e 87 de busca e apreensão no Paraná e em outros sete estados. Essa operação é considerada a maior do ano contra o tráfico de drogas.

Já na manhã desta quinta-feira (7), a PF fez operação para cumprir 13 mandados de prisão temporária e 18 de busca e apreensão contra traficantes que atuam no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

O grupo é suspeito de enviar drogas para o exterior em bagagens. As apreensões realizadas nesta quinta não foram contabilizadas no balanço divulgado pela PF ao g1.

De um lado, os altos valores retirados do tráfico pela polícia demonstram o tamanho do crime organizado no país. De outro, indicam que a PF tem focado na descapitalização das quadrilhas e na prisão dos líderes, diretrizes que a cúpula da corporação atribui a um “amadurecimento institucional” conquistado ao longo dos últimos dez anos.

Apreensões de cocaína e maconha

Embora as apreensões de bens e valores do tráfico tenham crescido, as apreensões de cocaína e maconha diminuíram, na comparação com os últimos anos.

Mesmo com a queda, segundo os dados da PF, as apreensões de droga se mantêm acima da média da série histórica — e ainda faltam os resultados de dezembro para fechar o total de 2023.

Foco no dinheiro

Chefe da CGPRE, o delegado Júlio Danilo Souza Ferreira, explicou ao g1 que a Polícia Federal tem dado, nos últimos anos, mais ênfase à retirada do dinheiro e de bens das organizações criminosas do que à apreensão de drogas.

“As apreensões são importantes para tirar a droga de circulação. A droga é um ativo importante para a organização criminosa, então ela tem um prejuízo com isso. Mas não focamos simplesmente na apreensão e no transportador”, disse o delegado.

“O transportador [quando preso] é facilmente substituído, um motorista de caminhão, um piloto de avião. Nós focamos em quem está negociando aquela droga, quem está pagando por ela, quem está obtendo lucro”, completou Júlio Danilo.

Segundo o delegado Milton Neves, a apreensão da droga, que já foi prioridade no passado, hoje é vista como um complemento de uma investigação em curso ou como o início de uma apuração maior.

“Anos atrás, pegava-se a droga e o transportador, e o trabalho parava por aí. Hoje, não. Essa é apenas uma parte do trabalho. É uma maturidade institucional que vem fortalecendo a questão da descapitalização e da prisão de lideranças”, declarou Neves.

O montante de R$ 2,07 bilhões de valores e bens apreendidos neste ano não inclui os prejuízos causados às facções criminosas com as drogas retidas no período.

Uma das orientações atuais da PF é não divulgar estimativa de valor das drogas — diferentemente do que era feito no passado, quando policiais calculavam os prejuízos do tráfico pelo preço final dos entorpecentes no mercado, superestimando-os.

Recorde de armas apreendidas

De acordo com os dados da PF, de janeiro a novembro de 2023, a corporação também registrou recorde de apreensão de armas de fogo: 4.244 unidades, mais que o dobro do ano passado.

Considerando que se trata de um dado nacional, o número da PF pode não parecer grande. Vale ressaltar que boa parte das armas ilegais é apreendida pelas polícias estaduais — por isso não entra no cálculo da PF.

Na última terça (5), a Polícia Federal realizou uma de suas maiores operações contra o tráfico de armas, envolvendo um grupo suspeito de vender cerca de 43 mil armas para as principais facções brasileiras do Rio e de São Paulo.

A Justiça Federal na Bahia, onde a investigação começou, expediu 25 mandados de prisão preventiva, seis de prisão temporária e 52 de busca e apreensão em três países: Brasil, Estados Unidos e Paraguai — onde estava o principal investigado, o argentino Diego Hernan Dirísio, que fugiu e não foi localizado.

Dirísio é considerado pela PF o maior contrabandista de armas da América do Sul.

Fonte: G1

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