Em um trabalho de parceria e mediação junto aos prefeitos de municípios do Entorno, Caroline Fleury utiliza da articulação e do diálogo para buscar o atendimento das demandas da região. A mobilidade urbana está entre os maiores desafios da pasta
Há quase um ano à frente da Secretaria de Estado do Entorno do Distrito Federal (SEDF-GO), criada pelo Governo de Goiás, Caroline Fleury tem empreendido um forte papel articulador, mediando as demandas das prefeituras da região junto aos governos estadual e federal.
Também tem dialogado com parlamentares, desde vereadores até deputados federais, no intuito de prestar uma assistência mais efetiva às 11 cidades que estão no escopo de atuação da Secretaria: Águas Lindas, Cidade Ocidental, Cocalzinho, Cristalina, Formosa, Luziânia, Novo Gama, Padre Bernardo, Planaltina de Goiás, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso.
A criação da SEDF-GO é, sem dúvida, um dos trunfos do governo estadual, que trouxe um novo olhar a uma região outrora relegada a segundo plano, ou mesmo esquecida pelos gestores anteriores. Durante muito tempo, o Entorno permaneceu em um limbo, a ponto de ficar conhecido popularmente como “nem nem” – nem Goiás, nem DF.
Hoje, a estratégia governamental é voltada ao desenvolvimento regional, sendo que a própria Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) caminhou nessa direção, com a criação da Frente Parlamentar em Defesa do Entorno do DF. A SEDF-GO, por sua vez, entrou com as importantes funções de “articulação, transversalidade e parceria”, como define a própria Fleury. “O governador Caiado sempre pergunta como determinada medida pode melhorar a qualidade de vida do cidadão. E a melhora dos indicadores sociais representa benefício não apenas para o Entorno, como também para Brasília e Goiás”, ressalta.
Nesta entrevista ao Jornal Opção Entorno, Caroline Fleury dá mais detalhes sobre seu trabalho à frente da Secretaria e quais as expectativas para a região neste ano de 2024.
Luciana Amaral – Uma das competências da Secretaria é a interlocução com os órgãos estaduais e federais para a viabilização de ações em áreas como infraestrutura, desenvolvimento social e transportes. O que efetivamente foi feito nesse sentido em prol do Entorno?
Caroline Fleury – Principalmente na questão do transporte, que segue sendo o nosso maior gargalo, temos interlocução muito grande com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Ministério dos Transportes e a Infra S.A. E será publicado no Diário Oficial o grupo de trabalho que vai estudar toda essa parte de mobilidade. Quanto às áreas de infraestrutura e saúde, está previsto para este ano o Hospital Estadual de Águas Lindas, que é de alta complexidade e vai poder atender toda a região. Esse hospital representa um grande avanço na política do governador de descentralização da saúde. Em Águas Lindas temos também o Mercadão Goiano sendo construído, o qual será voltado tanto para alimentação quanto para vestuário, além de gerar emprego e movimentar a economia. E esse Mercadão está previsto também para outras localidades. Na educação estamos com duas Escolas do Futuro na região do Entorno. Já em relação ao acesso à Justiça, semana que vem será inaugurada a segunda Defensoria Pública do Entorno, que vai ser em Luziânia. A primeira foi em Valparaíso. Depois, na sequência, virá Águas Lindas. Houve, ainda, um grande investimento do estado de Goiás nos municípios em obras de infraestrutura, como pavimentação, e sabemos o quanto os municípios precisam, principalmente nessa época de chuva. Enfim, o grande objetivo da Secretaria, a pedido do governador, era que as políticas públicas chegassem à ponta e houve essa interlocução interna com o estado, para que tudo isso fosse feito.
Luciana Amaral – Como tem sido o diálogo da Secretaria com os prefeitos do Entorno, no sentido de se descobrir as reais demandas dos municípios, e como isso se manterá em pleno ano eleitoral?
Caroline Fleury – Temos uma parceria muito grande com os prefeitos e fazemos um trabalho em conjunto. A secretaria vai ao município e faz o diagnóstico da situação da cidade junto à prefeitura, Câmara de Vereadores, secretários municipais e à própria população. Então, levo as demandas ao estado e, junto com cada secretário estadual, vemos quais pontos precisam de uma solução.
Esse trabalho pode ser feito até no Distrito Federal e ministérios, para fazer o acompanhamento de propostas e verificar prazos. Por exemplo, na cultura, com as leis Paulo Gustavo e Rouanet, ficamos atentos aos prazos e avisamos as prefeituras. Também ajudamos nos projetos quando necessário, para que os municípios não percam o acesso aos recursos por conta de trâmites burocráticos. Neste ano de eleições, como nossa pasta é técnica, manteremos nosso trabalho de buscar recursos, fazendo o que tem que ser feito, e isto segue em paralelo com a campanha.
Luciana Amaral – A ANTT autorizou o aumento, para fevereiro, de 10% nas passagens do Entorno. Como a senhora tem atuado bastante nessa questão da mobilidade urbana, o que está sendo feito para reverter essa situação e evitar novos reajustes?
Caroline Fleury – Na verdade, esses 10% foram resultado de um acordo realizado no final de 2022. Então, queremos sensibilizar o governo federal, para que ele subsidie esse aumento sem repassá-lo à população. Enquanto isso, a ideia é fazer um estudo e, nesse sentido, é que se fala em consórcio, envolvendo governo federal, estado de Goiás e DF, para que a passagem ao usuário seja reduzida e sem prejuízo às empresas.
Luciana Amaral – Em relação às áreas de saúde e geração de emprego e renda no Entorno, quais ações o governo estadual tem realizado com o intermédio da Secretaria?
Caroline Fleury – Na área de saúde temos conversado muito com o GDF sobre o combate à dengue, principalmente agora, nessa época de chuva. Temos realizado ações conjuntas. Também temos conversado a respeito das inspeções do “agro”. Por exemplo, o Entorno tem grande produção de peixes, queijos e grãos. Então, quando esses produtos chegam ao DF é exigida outra certificação. É uma burocracia que acaba atrapalhando esse mercado. Por isso, estamos dialogando no sentido de se obter uma certificação única para a região. Assim, o objetivo é que o que é produzido em qualquer um dos municípios do Entorno possa ser comercializado nos demais e no DF. Outra questão é a geração de emprego e renda por meio da implementação do Cinturão da Moda do Entorno. Já temos máquinas de costura a laser muito boas em Águas Lindas e no Novo Gama. Agora estamos montando as cooperativas, numa parceria com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), o Sebrae e o Sistema S em geral. Nesse projeto os empresários utilizam as máquinas para o corte, enquanto as cooperativas finalizam as roupas. Portanto, eles têm acesso a máquinas supermodernas, preparadas para trabalhar 24 horas, mas precisam gerar empregos na nossa região, com as nossas costureiras. Brasília absorve essa mão de obra. Estamos falando, no caso, da confecção de uniformes escolares, de hotelaria, de hospitais e outros que a gente pode produzir, baratear o custo e ainda gerar postos de trabalho para o Entorno. No que se refere ao “agro”, em que Cristalina e Formosa são muito fortes, estamos fazendo a interlocução com o governo federal para a criação de uma zona de processamento de exportação, provavelmente na Cidade Ocidental.
Luciana Amaral – Durante esse tempo à frente da Secretaria, qual a sua análise sobre a atuação do governo estadual, no sentido de trazer mais desenvolvimento ao Entorno, uma região esquecida em gestões anteriores?
Caroline Fleury – Acredito que o maior avanço é exatamente ver o Entorno ser lembrado na atual gestão. Temos bancadas de deputados estaduais e federais do Entorno. Quando vamos a uma reunião junto com o governo federal, eles conhecem a região. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e da Parnaíba (Codevasf) reativou o Conselho Administrativo da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Coaride), e nossa região está incluída. Tudo isso é para mostrar que o Entorno existe, tem muita importância e um grande potencial. Estamos falando de 1,5 milhão de habitantes, de agronegócio, de turismo. E por falar nisso, a região entrou recentemente no mapa do turismo do Brasil como “Encantos do Planalto Central”. O Entorno tem suas necessidades, precisa do suporte do estado e de parcerias com o setor privado, mas a gente consegue, ao levar as políticas públicas, alavancar fortemente a região. Fazemos essa ponte, de sermos facilitadores dessas boas ações.
Luciana Amaral – Quais as expectativas quanto às ações da Secretaria e do governo de Goiás em 2024, em relação ao Entorno do DF?
Caroline Fleury – Nossa perspectiva é a consolidação desse trabalho que iniciamos em 2023, acompanhando de perto a implementação das políticas públicas. Como falei: duas Escolas do Futuro foram inauguradas; então, agora é fazer com que haja participação e sejam disponibilizados mais cursos. Em relação aos Colégios Tecnológicos do Estado de Goiás (Cotecs), vamos colocar uma unidade no Novo Gama, Cidade Ocidental e Planaltina de Goiás. A Defensoria Pública também vai avançar para todos os municípios. Portanto, a ideia é pegar o que fizemos em 2023, consolidar e expandir nos municípios que ainda não têm. Em paralelo, correr atrás de orçamento para obras, como as de infraestrutura. Quanto à Feira #NoEntornoTem, devemos deixá-la ainda maior este ano. É sempre nesse intuito: trazer políticas públicas e obter fomento para a região.
Luciana Amaral – Por falar na Feira #NoEntornoTem, quais os resultados trazidos por essa iniciativa e o que podemos esperar na edição de 2024?
Caroline Fleury – Na prática, os municípios constataram um aumento na procura por opções turísticas e itens gastronômicos. Houve um boom nas vendas de peças de artesanato. Inclusive, uma artesã, Edinar Gomes, de Cidade Ocidental, ganhou o Prêmio Sebrae Brasília de Artesanato de 2023, com a obra “Mulher Pequi”. Então, o evento alavancou bem a divulgação do que é realizado nesses municípios. Inclusive agora, em época de férias, vemos mais pessoas procurando o Entorno para temporada. A parte gastronômica também foi destaque, com queijos e vinhos premiados. Neste ano queremos fazer uma feira ainda maior, agregando mais municípios, com mais atrações culturais. E nessa parte cultural, aliás, conseguimos divulgar bastante os artistas locais. A feira é muito importante como uma vitrine e podemos deixá-la melhor, mais incrementada. Pretendemos, por enquanto, manter o evento em Brasília, mas estamos vendo a possibilidade de realizá-la futuramente em outros locais, como Goiânia, com o intuito de divulgar o potencial do Entorno para outras regiões do estado.
Fonte: Jornal Opção