Material, gravado durante a trama, indica elo com a família de Zambelli, com quem tomou “leite com Nescau”, e protagonismo de Bolsonaro
22/08/2023
Tido como falastrão pelos amigos, advogados e até pelos policiais que já o interrogaram, o programador Walter Delgatti, o chamado hacker da Vaza Jato, reservou revelações bombásticas para sua mais recente aparição pública, na semana passada, sob os holofotes da Comissão Parlamentar Mista (CPMI) dos Atos Golpistas.
Falou tanto que a Polícia Federal (PF) foi obrigada a chamá-lo para um novo depoimento, na última sexta-feira. Os policiais já tinham ouvido Delgatti – mas ainda não haviam escutado muita coisa sobre o suposto plano para gerar uma onda de dúvidas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, ação que teria aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e envolveria até o Ministério da Defesa e um grampo no ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
O Metrópoles teve acesso, no entanto, a um material mostrando que, longe das câmeras e dos depoimentos ensaiados por advogados, o programador narrou, para conhecidos, os bastidores da trama, enquanto ela estava em curso. Desde o segundo semestre do ano passado, Delgatti já vinha relatando, em conversas mais íntimas, a existência de um plano para tentar mudar os rumos da eleição presidencial de 2022.
São informações ainda desconhecidas para a PF ou para a CPI, registradas durante a própria execução do suposto plano golpista, entre agosto e setembro do ano passado. O teor das conversas foi mantido dentro do contexto de cada áudio. Cortes foram feitos pela reportagem para preservação do sigilo da fonte.
“O resultado que eles querem”
Um dia antes de se encontrar com o então presidente Bolsonaro, por exemplo, Delgatti foi gravado antecipando o que sabia sobre a pauta da reunião. Segundo o áudio, a estratégia era criar instabilidades no funcionamento das urnas, para provar que seria possível adulterar votações.
“Eles vão configurar o código-fonte para dar o resultado que eles querem”, disse. “Eles vão pegar agora uma urna. Eles mesmo vão fazer isso”, afirmou. Na ocasião, o programador explicou que as investidas tinham como objetivo provocar o TSE a autorizar a fiscalização das urnas por militares, abrindo caminho para contestar uma possível vitória do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nesse mesmo dia, 9 de agosto, ele foi gravado dentro do hotel Phenícia, no Setor Hoteleiro Sul de Brasília. No vídeo, até então inédito, ele aparece em frente ao balcão, conversando com um funcionário do estabelecimento. Foi lá, antes do encontro com o ex-presidente no Palácio do Alvorada, que um motorista, com placa fria, passou para pegá-lo, como mostrou a revista Veja em agosto de 2022.
“Quem manda aqui sou eu”
No mês seguinte, no dia 22 de setembro, dez dias antes do primeiro turno, o programador conta detalhes do que seria um protagonismo do ex-presidente Bolsonaro na empreitada, dando a entender que os dois teriam se encontrado várias vezes. “O Bolsonaro, ele tá fazendo questão que eu vá lá. Aí, teve alguém da equipe que falou: “Irmão, é bom ele não vir aqui porque pode queimar”. Ele (Bolsonaro) falou: “Quem manda aqui sou eu, e ele vai vir”.
Segundo Delgatti, o projeto beneficiaria diretamente o ex-presidente. “Ou você acha que o Presidente da República estaria correndo esse risco de me receber lá, me receber lá, se não fosse algo que ajudasse muito ele?”
No mesmo diálogo, ele ironiza o fato de que o grupo ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indiretamente beneficiado com a atuação de Delgatti nos vazamentos dos diálogos dos procuradores da Lava Jato, não teria o acolhido da mesma forma. “O Lula nunca quis… me falou um “oi.” Nas palavras do programador: “O que eu vou fazer atrás de Lula? Eu nunca vou ser de esquerda. Eu sempre gostei de arma.”
Fonte: Metrópoles