Texto de Bolsonaro insinuava fraude na eleição e tinha críticas ao ministro Luís Roberto Barroso
O então presidente Jair Bolsonaro solicitou a um empresário para “repassar ao máximo” uma mensagem que insinuava, sem provas, uma fraude do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições do ano passado. O texto ainda continha ataques ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O que consta na mensagem enviada por Bolsonaro?
A mensagem consta em um relatório da Polícia Federal (PF) sobre conversas do fundador da Tecnisa, o empresário Meyer Nigri, que recebeu o texto em junho do ano passado. Bolsonaro tinha o hábito de mandar a mesma mensagem para diversos contatos, o que indica que o mesmo texto possa ter sido enviado para outras pessoas.
Em junho do ano passado, um contato identificado como “Pr Bolsonaro 8” — que a PF afirma ser do ex-presidente — enviou a Nigri uma mensagem afirmando que Barroso cometeu “interferência” e “desserviço à democracia” por atuar contra a adoção do voto impresso. O texto ainda afirma, sem provas, que o Datafolha estaria “inflando” os números do então pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva para “dar respaldo” ao TSE.
Ao final, a mensagem dizia: “Repasse ao máximo”. Nigri, então, respondeu: “Já repassei pra vários grupos!”.
Mensagens enviadas por Bolsonaro desacreditam processo eleitoral
A PF afirma que a mensagem tinha “conteúdo não lastreado ou conhecidamente falso (fake news), atacando integrantes de instituições públicas especialmente Ministros do STF, desacreditando o processo eleitoral brasileiro“.
O trecho da conversa entre Bolsonaro e Nigri foi utilizado como justificativa pelo ministro Alexandre de Moraes para prorrogar uma investigação contra o empresário.
O ministro concordou com um pedido da PF e considerou que o órgão “ratificou a existência de vínculo entre ele (Nigri) e o ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive com a finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à Democracia e ao Estado Democrático de Direito”.
Investigação arquivada
Na segunda-feira, Moraes arquivou uma investigação seis empresários por trocarem mensagens de cunho golpista em um grupo de WhatsApp. O ministro, contudo, prorrogou a apuração contra Nigri e outro alvo, Luciano Hang.
Em agosto do ano passado, os oito empresários foram alvos de mandados de busca e apreensão, após suas conversas serem reveladas pelo site “Metrópoles”.
Os outros seis empresários do grupo do WhatsApp são: Afrânio Barreira Filho, dono do Coco Bambu; André Tissot, da Sierra Móveis; Ivan Wrobel, da W3 Engenharia; José Isaac Peres, da Multiplan; José Koury, do Barra World Shopping e Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii.
Moraes considerou que os seis, “embora anuíssem com as notícias falsas, não passaram dos limites de manifestação interna no referido grupo, sem a exteriorização capaz de causar influência em terceiros como formadores de opinião”.
O ministro também ressaltou que, em relação à quebra do sigilo telemático dos investigados, “restou evidenciado que cinco, das seis contas analisadas, pertencem aos familiares dos empresários” e que por isso não haveria “interesse direto para a investigação em comento”.
Advogado nega disseminação ‘em massa’
O advogado Alberto Toron, que defende Nigri, afirmou que o empresário disse à PF que não tem nenhuma plataforma para disseminar notícias “em massa”, porque não possui redes sociais como Facebook ou Instagram.
— Nós respeitamos o entendimento do ministro, mas já adianto que, com relação ao senhor Meyer Nigri, ele quando depôs na Polícia (Federal) deixou muito claro que não tem Facebook, não tem Instagram, não tem absolutamente nenhuma plataforma de disseminar notícias em massa. Nunca fez.
Toron relata que o empresário admitiu repassar mensagens de Bolsonaro, mas afirmou que fazia isso para “fomentar a discussão” e que não necessariamente concordava com o conteúdo.
— O que ele fez, sim, confessadamente, foi em grupo ou outro do qual ele faz parte, colocar notícias e mensagens que ele havia recebido do presidente e deixou expresso que não necessariamente anuía ou concordava com essas mensagens, tendo deixado claro também que quando colocava fazia para fomentar discussão
Outras investigações
Bolsonaro já é investigado em diversas frentes pela divulgação de informações falsas sobre o sistema eleitoral e sobre a atuação de tribunais superiores.
Em 2021, após realizar uma transmissão ao vivo com ataques infundados às urnas eletrônicas, o então presidente passou a ser investigado tanto no TSE — em um inquérito administrativo — quanto no STF — em uma apuração que foi anexada ao chamado inquérito das milícias digitais.
Em julho do ano passado, Bolsonaro voltou a questionar a lisura do sistema eleitoral em uma reunião com embaixadores. O episódio motivou uma ação que levou ao TSE, neste ano, a declarar a inelegibilidade do ex-presidente por oito anos.
Neste ano, o ex-presidente também passou a ser investigado no inquérito que apura a autoria intelectual e a incitação dos atos golpistas do dia 8 de janeiro. Ele foi incluído no caso após divulgar um vídeo que insinuava fraude na eleição.
Fonte: Mais Goiás