Governador rebateu decisão de primeira instância que o tornou inelegível por oito anos e cassou chapa de Sandro Mabel; Caiado cita precedentes – Foto Hegon Correa
O governador Ronaldo Caiado se manifestou na quarta-feira (11) em entrevista coletiva e pelas redes sociais sobre a sentença da juíza Maria Umbelina Zorzetti, da 1ª Zona Eleitoral de Goiânia que o declarou inelegível e cassou a chapa de Sandro Mabel e Cláudia Lira, eleitos prefeito e vice de Goiânia em outubro A decisão é em primeira instância e, com apresentação de recursos, deve ser suspensa até decisões superiores. Mabel toma posse na próxima semana.
Houve uma repercussão nacional imediata sobre a decisão que vem no momento em que Caiado se projeta nacionalmente como pré-candidato à presidência em 2026. Além disso, também Goiânia atravessa uma crise de gestão séria, sendo que a posse de Mabel é ansiada para ajudar a contornar o cenário.
“Respeito as decisões judiciais e, mais do que isso, acredito na Justiça. Por isso, já apresentamos nosso recurso.
É preciso deixar claro que fizemos uma reunião institucional entre o governo e os vereadores para discutir Goiânia. Naquele momento, já falávamos a respeito da crise na saúde do município e também sobre a crise do lixo. Ambos problemas que vieram a ser ampliados nos últimos meses.
Nunca desonrei o voto de um goiano. E assim continuarei. Goiás é, e continuará sendo, o estado número 1” – escreveu Caiado em suas redes sociais na noite de quarta.
Caiado fala em tranquilidade durante coletiva
Mais cedo, no meio da tarde, o governador concedeu entrevista coletiva, quando disse que recebeu com “tranquilidade” a decisão da Justiça
“Eu sempre pautei a minha vida política no cumprimento das normas legais e jamais pratiquei um ilícito moral ou eleitoral que possa desabonar a minha trajetória de vida”, afirmou o governador.
Na decisão, a juíza destaca que as defesas de Caiado e de Mabel informaram que “não houve pedido explícito de votos para as pessoas que participaram dos eventos”. Entretanto, a magistrada alegou que há formas de fazer a ilegalidade de maneira disfarçada e que os políticos fizeram “uso de ‘palavras mágicas’ para disfarçar o pedido direto de votos”.
Durante a quarta, também surgiram vídeos em meios de comunicação e compartilhados em redes sociais mostrando que em alguns momentos o governador pede ajuda aos presentes para Mabel e para o candidato a prefeito de Aparecida de Goiânia, Leandro Vilela, e faz comparações entre a capacidade de Mabel e a do candidato do PL a prefeito de Goiânia, o bolsonarista Fred Rodrigues. Foi a coligação de Fred que apresentou a denúncia que levou à decisão judicial. Esse pedido foi feito pelo governador na reunião que está sendo questionada pelo bolsonarista.
Durante a coletiva, Caiado foi irônico ao se defender dizendo que nunca fez curso de mágico e afirmou que promoveu jantares com lideranças políticas para tratar sobre a crise que afeta diversos setores da Prefeitura de Goiânia.
A defesa de Sandro Mabel informou que recebeu o documento com surpresa, disse que vai entrar com recurso e reafirmou que “não houve qualquer irregularidade na conduta apontada”. Disse também que, como a decisão não possui execução imediata, não vai atrapalhar a diplomação do prefeito e sua vice em 19 de dezembro e a posse deles em 1º de janeiro de 2025.
O prefeito eleito deu declarações na quarta enfatizando que não vai focar na decisão judicial e sim nos problemas da cidade. Ele tem estado à frente da equipe de transição e, antes mesmo de tomar posse, articulou inclusive uma reforma administrativa renomeando, criando e extinguindo secretarias.
‘Eu moro aqui’
O governador citou outros chefes do Executivo que também fizeram campanhas eleitorais e reuniões políticas em residências oficiais, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, a ex-presidente Dilma Rousseff e o presidente Lula. Caiado sustenta que eles usaram o Palácio da Alvorada para fins políticos, destacando que o local foi, também, onde essas autoridades moraram.
Além disso, citou os ex-governadores Marconi Perillo e José Eliton que segundo ele, teriam feito eventos similares no mesmo Palácio das Esmeraldas que abrigou a reunião questionada.
Caiado foi pontual: “A então presidente Dilma Rousseff, em 2014, recorreu de uma decisão após usar o Palácio da Alvorada. O ministro Dias Toffoli deu o seguinte parecer: ‘Se a própria utilização da residência oficial no período de campanha, que é próximo das eleições, é lícito, quanto mais em período pretérito. Não vejo aqui qualquer ilicitude”, afirmou.
Mais adiante, o governador acrescentou: “Mas nós vamos depois para 2022, no segundo turno vocês sabem que eu apoiei o presidente Bolsonaro e lá estive, no Palácio da Alvorada, com mais 80 prefeitos e nós lá fomos levar apoio para o segundo turno e, também, almoçamos lá. Vocês estão vendo agora, em 2024, o Lula gravando todas as matérias pedindo voto para o Boulos dentro do Palácio da Alvorada. Então você não pode ter dois pesos e duas medidas. Aqui é minha residência, eu moro aqui”, afirmou.
Campanha de Caiado está mantida
Ronaldo Caiado enfatizou que a condenação, da qual já está recorrendo, não interfere na meta de lançar sua pré-candidatura a presidente em 2026. “Eu respeito a decisão da Justiça e a matéria será julgada em instâncias superiores. Meus advogados já apresentaram recurso e essa matéria será revista”, afirmou o governador.
De acordo com a sentença, o motivo que levou a condenação foram os jantares realizados com as lideranças políticas logo após o primeiro turno. Esses jantares, que supostamente tiveram cunho eleitoral, favoreceram Mabel.
Além da pena de inelegibilidade de 8 anos, as condenações ficaram assim:
- Ronaldo Ramos Caiado: multa de R$ 60 mil;
- Sandro da Mabel Antônio Scodro: multa de R$ 40 mil;
- Cláudia da Silva Lira: multa de R$ 5.320,50.
Texto: Marília Assunção
Foto: Hegon Correa