Quando voltou ao Brasil, em 2023, Raquel Canterelli teve as filhas levadas de sua casa, no Rio de Janeiro, mas obteve vitória na Justiça

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A brasileira Raquel Canterelli morava na Irlanda com o ex-companheiro, irlandês, com quem teve duas filhas, Júlia e Isabella, passou de um momento em que ela perdeu a guarda das meninas para, em reviravolta, ter a chance de recuperá-la. Tudo começou em 2019: Raquel teve seus documentos tomados pelo ex-marido, que a proibia de deixar a casa onde moravam no interior do país. Na mesma época, ele começou a abusar sexualmente da filha mais nova de Raquel, de menos de dois anos.
Quando conseguiu retornar ao Brasil, em 2023, Raquel teve as filhas levadas de sua casa, no Rio de Janeiro. Segundo ela, as meninas foram levadas apenas com “a roupa do corpo”. Ela não vê as filhas há dois anos. Desde que foram levadas para a Irlanda e deixadas sob os cuidados do pai, tudo mudou.
“Fui surpreendida na minha casa com a Polícia Federal armada com fuzis. Entraram, pegaram minhas filhas e levaram embora […] Desde então, não tenho nenhum acesso a elas”, contou a brasileira em entrevista à BBC News Brasil.
A Polícia Federal (PF) realizou uma operação de busca e apreensão das filhas da brasileira, que, segundo ela, foi “traumática, cruel e desumana”. A ação ocorreu após uma decisão da Justiça que determinou o retorno das crianças à Irlanda, onde viviam com o pai.
Neste ano, porém, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que as crianças devem ser devolvidas ao Brasil. O caso transitou em julgado em junho de 2025. Apesar da conclusão do processo, o retorno das crianças ainda depende das autoridades irlandesas.
Relembra o caso
- Raquel e as meninas moravam na Irlanda, onde a mãe foi vítima de cárcere privado e a filha mais nova vítima de abuso sexual;
- Em 2019, Raquel Canterelli conseguiu contato com as autoridades locais e com a embaixada brasileira na Irlanda, que auxiliou que a mulher fosse para um abrigo com as filhas enquanto esperasse a emissão de novos passaportes para que as três retornassem ao Brasil. O genitor das crianças, que segundo Raquel é uma pessoa influente na comunidade irlandesa, conseguiu “atrasar” a embaixada e mover rapidamente um processo que deu a ela a guarda das meninas.
- “Quando acabei de conseguir ir para o abrigo com as minhas filhas, ele conseguiu do dia para noite que fosse marcada uma audiência para que fosse julgada quem seria o responsável por elas. Eu não tive direito a um advogado e a juíza, que inclusive disse durante o julgamento que conhecia a mãe dele [do genitor das crianças], concedeu a guarda unilateral às minhas filhas ao abusador delas, sem sequer me ouvir”, relata.
- Apesar do processo na Justiça irlandesa, a Justiça do Brasil reconheceu as situações de violência vividas pelo trio, e, em setembro daquele ano, as três conseguiram deixar a Irlanda rumo ao País de Gales. De lá, elas foram para Londres, Amsterdam, Bruxelas, Porto e Lisboa, onde finalmente conseguiram um voo para o Rio de Janeiro, escoltadas por agentes da Polícia Federal (PF).
- Em 2023, as filhas de Raquel foram tiradas do Brasil pela Polícia Federal (PF) antes que passassem pelo processo de análise recursal.
Na época, um processo movido pelo pai das crianças, com base na Convenção de Haia, era responsável por decidir com quem ficaria a guarda das filhas. Apesar de Raquel ter decisão favorável em primeira instância, um voto em segunda instância foi capaz de mudar a vida da mulher e das meninas.
A dificuldade está no entendimento da Convenção de Haia de 1980, da qual o Brasil é signatário. O texto assegura a permanência de crianças em seu país de “residência habitual”, independentemente do país de origem e da convivência com ambas as famílias paterna e materna.
Ao Metrópoles, em 2024, ela havia relatado que o “ministro-relator votou afirmando de que o Brasil deveria respeitar as convenções internacionais e as legislações estrangeiras e decidiu” que as filhas deveriam imediatamente voltar a Irlanda.

FONTE : METROPOLES