Estado contabilizou 2.224 ocorrências de desaparecidos em 2024
Pedro Lucas, desaparecido desde 2023 | Foto: Reprodução
Nove pessoas desapareceram por dia, em Goiás, durante o decorrer de 2024. Até o momento, o estado contabilizou 2.224 ocorrências deste tipo – número equivalente a 64,1% do registrado em todo o ano passado.
Deste total, 1.016 (47%) foram encontrados, sendo que 37 estavam sem vida. Outras 700 pessoas ainda seguem desaparecidas. O Banco de Perfis Genéticos (BPG) do estado possui ainda registros de 890 pessoas não identificadas até junho de 2024.
Buscando diminuir os índices, Goiás ingressou na Mobilização Nacional de Identificação e Busca de Pessoas Desaparecidas. A ação visa a coleta de DNA de familiares de desaparecidos, que é uma das principais ferramentas para localizar pessoas em todo o país.
O material genético coletado permite o cruzamento de perfis com aqueles armazenados nos Bancos de Perfis Genéticos Estaduais, Distrital e Nacional, onde estão cadastrados perfis de pessoas encontradas vivas e falecidas que ainda não foram identificadas.
Atualmente, o banco estadual chega a quase 6 milhões de cadastros, segundo o coordenador da Sessão de Pessoas Desaparecidas da Superintendência de Polícia Técnico-Científica de Goiás (SPTC), Antônio Maciel. Ele explica que a campanha terá três fases.
“Na primeira fase, é voltada para o DNA, igual foi feito em 2021. Na segunda fase, nós vamos coletar material da pessoa viva e não identificada. A última fase, que é seguir em outubro, nós vamos conectar todo o passivo de impressões digitais e pessoas enterradas como ignoradas, porque aí a gente também vai tentar identificá-las”, explicou.
Conforme Maciel, esse tipo de trabalho já é feito com material genético de ossada, mas vai ser intensificado com base no banco genético de impressões digitais da Identificação Civil Nacional (ICP). O banco é ligado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que conta com 120 milhões de pessoas – fato que irá ajudar Goiás a identificar pessoas de outros estados.
Dificuldades
Antônio Maciel diz que há dois tipos de desaparecimento:
- voluntário, quando as pessoas decidem sair de casa – normalmente praticado por crianças e adolescentes
- involuntário, em caso de acidentes, por exemplo; é involuntário, quando é forçado.
Segundo ele, as forças de segurança pública enfrentam um desafio grande, que é a falta de comunicação. Ele afirma que alguns casos são registrados por familiares como desaparecimento, mas quando as vítimas são encontradas, o caso continua em aberto na delegacia que não é informada sobre o achado.
“Estamos tentando melhorar isso. Vamos, a partir de agora, pegar o contato do RAI e ligar para a família para saber se a pessoa voltou. Porque a gente tem um vácuo na questão do retorno”, explicou.
Alta no número de desaparecidos
O estado de Goiás registrou o desaparecimento de 3.465 pessoas ao longo de 2023, conforme o 18º Anuário de Segurança Pública de 2024 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O relatório revela um aumento de cerca de 100 casos em comparação com 2022, elevando a taxa de desaparecimentos de 47,6 para 49,1 por 100 mil habitantes, embora Goiás mantenha o menor índice de desaparecimentos na região Centro-Oeste.
Dentre os desaparecidos, apenas 1.535 pessoas foram localizadas, algumas com vida e outras já falecidas – assim como ocorrido este ano. No entanto, mais de 1.900 pessoas continuam sem paradeiro conhecido, causando angústia e incerteza para suas famílias. Casos como o do menino Pedro Lucas, desaparecido em novembro de 2023 em Rio Verde, ilustram o sofrimento contínuo de parentes que não conseguem respostas ou um desfecho para suas perdas.
Desde 2015, a SPTC mantém um banco genético para auxiliar nas investigações. O banco, segundo a polícia, é fundamental para resolver casos de desaparecimento, embora a procura de familiares por este recurso ainda seja limitada.
A SPTC relata que o conhecimento sobre a existência e funcionamento do banco genético é baixo entre a população. Muitos familiares apenas registram o Boletim de Ocorrência (BO) e não fornecem amostras de DNA para a criação de perfis genéticos, o que dificulta a identificação de restos mortais não identificados (RMNI).
Segundo dados do BPG, houve um aumento significativo no número de registros de RMNI, passando de 69 em 2019 para 793 em 2023. Este crescimento é atribuído à inclusão de amostras antigas no sistema. Atualmente, Goiás possui dados genéticos de 17.967 pessoas, contribuindo com cerca de 8% do Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), o que coloca o estado na quinta posição nacional em termos de contribuição.
Os RMNI frequentemente provêm de corpos sem identificação devido à ausência de documentos, deterioração das digitais ou falta de arcada dentária. Nesses casos, o Instituto Médico Legal (IML) conduz uma investigação cadavérica e coleta amostras de DNA para o banco genético. Se um familiar tiver um ente desaparecido, pode fornecer seu DNA em qualquer delegacia da SPTC para comparação com os registros do BPG.
Os dados genéticos são compartilhados nacionalmente, permitindo a identificação rápida sem a necessidade de deslocamento entre estados. Se o cruzamento de dados não ocorrer em 30 dias, os corpos são enterrados como indigentes, mas podem ser exumados posteriormente caso haja identificação confirmada.
FONTE: JORNAL OPÇÃO