Uma das principais revelações dos dados prévios do Censo 2022 – feito com dois anos de atraso por conta da pandemia, e, depois, por falta de orçamento – foi o fato de que a população brasileira chegou ao ano passado consideravelmente menor do que o que era esperado.
Entre as mais imediatas das várias consequências em que isto implica, está o fato de que a população brasileira, na média, também está um pouco mais rica que o imaginado, já que todo o dinheiro disponível no país – medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) – precisa ser dividido por menos pessoas.
Em contas preliminares feitas pela economista Silvia Matos, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o PIB per capita do Brasil acabou o ano passado 5,8% maior, ou algo como R$ 2.600 a mais por ano para cada pessoa, do que o calculado antes do Censo.
Pela conta anterior, o PIB per capita brasileiro era de R$ 46.155. Com a notícia de que o Brasil, na verdade, tem menos pessoas, esse pedaço do PIB que cabe a cada uma subiu para R$ 48.829.
“Sumiram” 12 milhões de pessoas
Divulgados no fim de junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os primeiros dados do Censo 2022 revelaram que a população do país, no ano passado, chegou a pouco mais de 203 milhões de pessoas. O número exato é 203.062.512.
São quase 12 milhões a menos que a última grande estimativa, feita pelo próprio IBGE há cinco anos, que era de 214,8 milhões.
O ritmo de crescimento populacional, portanto, também acabou recalculado, e caiu pela metade: com os novos números, descobriu-se que a taxa média de aumento da população brasileira, na última década, foi de 0,5% ao ano. Antes, seria na faixa de 1%.
“Sumiu um grupo da população, e não foi pouca gente, é uma diferença muito forte”, diz Silva, que é pesquisadora sênior da área de economia aplicada da FGV.
“Só que o bolo continua basicamente o mesmo, então estamos dividindo o bolo por menos pessoas; o PIB per capita é isso.”
Silvia ressalva que as contas do novo PIB per capita são, ainda, preliminares, dado que o IBGE divulgou, por ora, apenas os grandes números do Censo e, deve ainda detalhar e fazer ajustes na pesquisa.
“Mas as grandes tendências não vão mudar”, diz a economista.
Entre as possíveis explicações para o vão enorme no resultado populacional está um processo de envelhecimento mais rápido, além das perdas de vidas adicionadas pela pandemia.
Medida de renda
O PIB per capita é uma conta que divide o PIB total do país, que foi de R$ 9,9 trilhões em 2022 no Brasil, pela população.
Não é uma indicação precisa da qualidade de vida ou da riqueza real das pessoas, já que não verifica o grau de distribuição, mas dá uma indicação do nível de renda média do país.
É essa métrica, por exemplo, que permite comparar o nível de uma economia com as outras e verificar se aquele é um país de renda alta, média ou baixa.
Contagem completa
A grande diferença entre o dado populacional anterior e o do Censo se dá pelo fato de que as estimativas periódicas feitas pelo IBGE, como a anterior, são apenas projeções, feitas por meio de amostragens e estatísticas.
O Censo, por sua vez, é a grande contagem, completa e oficial, feita de toda a população. Como é um processo caro e trabalhoso, é feito apenas uma vez a cada década.
Mas é por isso que ele é uma pesquisa essencial e a base para todas as grandes políticas públicas e até para a metodologia dos grandes números da economia, como a taxa de desemprego e o próprio PIB.
Todas esses, inclusive, são dados que podem acabar revisados, em alguma medida, por conta da surpresa populacional que a edição de 2022 do Censo trouxe. “Até o passado é incerto”, diz Silvia.
Menos gente, menos crescimento
A pesquisadora da FGV e outros especialistas alertam, porém, que uma população menor e crescendo menos não é exatamente uma boa notícia, já que significa, também, menor potencial de crescimento.
“Menos crescimento da população reduz a disponibilidade de mão de obra, e crescer fica mais difícil”, diz a economista da FGV.
“Países jovens crescem mais rápido, porque têm oferta de trabalho abundante. O que o Censo indica é que a nossa transição demográfica, para uma população mais velha, foi mais acelerada do que o imaginado. O problema é que somos ainda um país de renda média baixa. Ficamos velhos antes de ficarmos ricos. O desafio, agora, será ainda mais severo.”
Fonte: CNN