Em 10 anos, quase 150 armas foram desviadas do Exército; fuzis são o principal alvo dos criminosos

Levantamento, com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, mostra ainda que 27 mil munições foram desviadas no período.

Um levantamento do Jornal da Globo com números do Exército conseguidos via Lei de Acesso à Informação – revela que aquele furto de 21 metralhadoras de um quartel do Exército, na Grande São Paulo, em outubro, não foi um caso isolado. Em dez anos, foram quase 90 ocorrências de desvio de armas do Exército.

De 2013 até agora, entre furtos, roubos e desaparecimentos foram 144 armamentos, sendo que os fuzis são o principal alvo dos criminosos. Neste período, também houve o desvio de 27 mil munições, em 224 ocorrências.

Para pesquisadores e instituições de combate à violência, uma vez que essas armas chegam ao crime organizado, o poder dos criminosos ligados ao tráfico de drogas, a roubos de cargas e a bancos aumenta exponencialmente.

“A gente está falando de armas de calibre restrito, de armas de maior poder de fogo. Isso é uma grave distorção, porque são produtos, são ferramentas compradas com dinheiro público para ajudar a defesa nacional, que por um problema de negligência na guarda, vira uma arma mais para desestabilizar o país, especialmente na segurança pública”, destaca Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz.

“Estamos falando muitas vezes de armas que perfuram blindagens, que podem ameaçar autoridades públicas, que podem ser usadas em resgate de presos de grandes lideranças do crime organizado e também usadas para desestabilizar a própria democracia, a própria república, tendo em vista o poder de fogo dessas armas, que são armas que só são usadas por forças armadas em geral”, completa Bruno.

Já o especialista em segurança pública, Luiz Flávio Saporí, aponta que a fiscalização do armamento — em especial, no Exército — vem deixando a desejar, visto o número alto de ocorrências de armas furtadas, roubadas ou que sumiram nesses anos.

E um detalhe, 2023 é o ano com mais armamento desviado nesta década: até o fim de outubro, foram 29. Nesta conta, estão as 21 metralhadoras furtadas do arsenal do Exército em Barueri, na Grande São Paulo, no começo do mês passado. Até agora, duas não foram encontradas. Saporí reforça que é necessária uma atuação mais rígida do governo federal junto às secretarias estaduais de segurança.

“Isso é gravíssimo. Isso não é comum em boa parte do mundo. Nós não podemos naturalizar esse fenômeno. Eles têm que ser revistos, investimento em tecnologia de vigilância tem que ser adotados, mas reforçar os protocolos de segurança”.
“Mas eu reforçaria um segundo tipo de medida. É fundamental que o governo federal, que o Ministério da Justiça e Segurança Pública junto com os governos estaduais, com as secretarias estaduais de segurança estabeleçam forças-tarefas exclusivamente destinadas para reprimir o comércio ilegal de armas de fogo no Brasil. Um trabalho de inteligência, cortar os networks, as redes de fornecimento, identificar as principais quadrilhas. Fazendo isso, nós vamos enfraquecer o crime organizado no Brasil”, diz.

O Jornal da Globo pediu um posicionamento do Exército e do Ministério da Defesa sobre o levantamento realizado pela produção da TV Globo, mas até o momento não tivemos retorno.

Fonte: g1

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