Enfermeira se apresentava como especialista em dermatologia estética sem se quer ter formação na área. À polícia, ex-funcionária contou que suspeita não cumpria protocolos básicos de higiene.
12 de Agosto de 2023
A Polícia Civil investiga a enfermeira Marcilane da Silva Espíndola, suspeita de exercer de forma ilegal a medicina e deixar pacientes com corpos deformados depois de procedimentos estéticos, em Aparecida de Goiânia. Em depoimento à delegada do caso, Luiza Veneranda, uma ex-funcionária afirmou que a mulher usava a mesma seringa em mais de uma cliente.
“Nós ouvimos uma testemunha que chegou a trabalhar com a profissional. E essa testemunha falou que ela não tinha condições de higiene, não usava luvas, não usava a roupa adequada, não se usava touca. Ela chegou a afirmar que a investigada, muitas vezes, se valia de uma seringa que ela aplicava em uma pessoa, lavava com água da torneira e usava outro paciente”, relatou a delegada.
Ao g1, a defesa de Marcilane afirmou que, desde o início do processo, a profissional se colocou à disposição da Justiça para colaborar com as investigações. Além disso, disse que a enfermeira prestou depoimento nesta quinta-feira (10) e que não há mandado de prisão contra ela. “Ela contou a versão dela, não ficou em silêncio e explicou todos os detalhes”, relata o advogado Caio Fernandes.
A polícia começou a investigar a suspeita no final do mês de julho, depois que pacientes denunciaram ter tido complicações após os procedimentos. Até o momento, sete vítimas foram identificadas pela polícia, sendo que todas alegam problemas de saúde após as intervenções estéticas. Cinco delas precisaram ser hospitalizadas e uma está internada em estado grave.
Sem formação na área
Marcilane é enfermeira, mas nas redes sociais afirmava ser pós-graduada em dermatologia estética, dando a entender que possuía qualificação para atuar no ramo. Pelas redes sociais, anunciava procedimentos como: preenchimento labial, no nariz, lipo de papada, bronzeamento e até cursos ensinando as técnicas. Mas, em depoimento à polícia, ela admitiu que não concluiu o curso.
“Ela falou que não completou uma matéria [ do curso de pós-gradução ]. Ou seja, ela não é formada ainda na especialização estética e, acredito eu, que sequer poderia fazer determinados procedimentos”, avalia a delegada.
Enfermeira Marcilane da Silva Espíndola, investigada após pacientes ficarem com rostos deformados depois de procedimentos estéticos, Goiás — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Em nota, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) informou que processo ético disciplinar para apuração da conduta da profissional. Também pediu um posicionamento à marca do produto usado nos procedimentos, porém a empresa disse que só deve se manifestar após ser notificada.
Clínica interditada
Quase todas as pacientes que procuraram a polícia foram atendidas em uma clínica odontológica, em Aparecida de Goiânia, onde a enfermeira começou a fazer os primeiros procedimentos. Segundo a polícia, depois disso, ela alugou uma casa, no Setor Oeste, em Goiânia, para ter um espaço próprio.
Na sexta-feira (11), a Polícia Civil realizou uma operação com o objetivo de cumprir mandados de busca e apreensão na residência. O local não possuía qualquer identificação de fachada e foi interditado pelos policiais.
A polícia também solicitou ao Poder Judiciário a indisponibilidade de eventuais bens no valor de R$ 500 mil da profissional.
Polícia Civil (PC) cumpriu mandados de busca e apreensão contra a enfermeira, Goiás — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Falta de assistência
Uma reclamação unânime entre as pacientes lesionadas, é que elas não receberam nenhum tipo de assistência da suspeita após as complicações, mesmo tendo procurado a profissional. Em troca de mensagens com uma delas, Marcilane diz: “Você tem que aguardar. Você não entende, que não sou eu, é seu organismo. O que tinha pra ser feito, já foi feito”.
Uma das mulheres é cliente da advogada Patrícia Martins. À TV Anhanguera, ela informou que a vítima está internada em estado crítico e que as regiões dos glúteos e seios, onde foram injetados os preenchedores, estão necrosando.
“Os médicos ainda não sabem o que está acontecendo, porque não sabem quais foram os produtos que foram aplicados. Infelizmente a paciente não está bem, está em estado grave, correndo risco de morte”, afirmou.
À polícia, uma das vítimas contou ainda que Marcilane disse que “não perderia o sono” por causa do problema dela.
A defesa de Marcilane definiu a operação como “drástica”, pois, segundo o advogado, a profissional sempre colaborou com as investigações. Além disso, explicou que todos os pacientes tiveram problemas após os procedimentos devido descrumprirem as orientações do pós-operatório.
Conversa entre profissional (branco) e paciente (verde), que denunciou ter ficado com o rosto deformado após procedimento em Aparecida de Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/PCGO
“Nenhuma das vítimas teve problemas com a aplicação ou com os procedimentos”, enfatiza.
Fernandes destaca ainda que a defesa da profissional desacredita que houve erro por parte dela e que tem provas de que os pacientes desrespeitaram as orientações. “Tem paciente que no dia seguinte foi para Caldas Novas e outro que postou foto à noite em uma festa de pagode”, finaliza.
Íntegra da nota do Coren-GO
O Conselho Regional de Enfermagem de Goiás (Coren-GO) esclarece sobre a investigação conduzida pela polícia civil que culminou na deflagração da operação Salus na qual investiga a profissional de enfermagem suspeita de realizar procedimentos estéticos que resultaram em lesões corporais em pelo menos 07 pacientes.
O Coren-GO informa que ao tomar conhecimento da denúncia, instaurou um Processo Ético Disciplinar para apuração da conduta da profissional.
Informamos que de acordo com Art. 23, da Resolução Cofen Nº 706/2022, que Aprova o Código de Processo Ético do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem, “Os atos do processo serão realizados em caráter reservado e sigiloso.
O referido Conselho não vai medir esforços e informações para apurar o caso na esfera profissional e Ética, juntamente com a Polícia Civil, para assim dirimir as providências cabíveis nos âmbitos administrativo e criminal.
Fonte: g1