Entrevistado de série nacional, Caiado fala de 2026, Bolsonaro, Segurança, letalidade policial e Escobar

Ao especial Persona, do jornal O Globo, Caiado aborda segurança pública, conflitos com Bolsonaro, alta letalidade das polícias e crime envolvendo aliados

No domingo (1º) O governador Ronaldo Caiado (UB) foi o entrevistado da 7ª edição da série do especial Persona publicado pelo jornal O Globo com personalidades de destaque nacional. Concedida ao jornalista Eduardo Graça, e realizada no Palácio das Esmeraldas, a entrevista tocou desde o lançamento da pré-candidatura de Caiado até temas ácidos como o relacionamento trincado com Jair Bolsonaro, os índices de segurança e de letalidade policial e as investigações sobre a morte de Fábio Escobar.

A entrevista aponta os bons números que estimulam o goiano: “Do alto da aprovação de 86% dos goianos, registrada na pesquisa Genial/Quaest de abril, e de 75% na da Atlas/Intel de agosto, Caiado desconversa. Mas sabia que a vitória (depois confirmada) de seu candidato à prefeitura de Goiânia, o ex-deputado Sandro Mabel, também do União Brasil, era tarefa obrigatória para realizar o desejo de encerrar a trajetória política tal qual a iniciou, há três décadas e meia: como candidato à Presidência da República. E desta vez com resultado bem melhor, espera, do que os 0,68% de votos nele depositados em 1989, quando entre os postulantes figurava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)”, analisa o jornalista.

Lançamento da pré-candidatura à Presidência da República


Ronaldo Caiado oficializou sua pré-candidatura à Presidência da República para 2026, destacando sua trajetória e o desejo de oferecer ao Brasil um modelo de gestão inspirado em Goiás. O evento de lançamento está marcado para fevereiro na Bahia, onde tem o apoio de ACM Neto e onde nasceu a primeira-dama, Gracinha Caiado. “Disputarei a Presidência para ganhar”, garantiu, apostando no descontentamento popular com a polarização entre Lula e Bolsonaro.

Caiado acredita que o cenário político em 2026 favorece uma alternativa à polarização e defende que sua gestão em Goiás, com redução expressiva em índices de criminalidade e avanços no agronegócio, o posiciona como líder da direita.

Saída do União Brasil do Governo Federal

Caiado demonstrou que aposta na queda de popularidade de Lula e na saída do União Brasil do governo petista. Também acredita em um cenário com Tarcísio disputando a reeleição em São Paulo e em um primeiro turno de prévia informal da direita, com “um candidato com o sobrenome Bolsonaro”, Ratinho Jr. e, se não estiver inelegível, o ex-influenciador Pablo Marçal, que é goiano.

“O Marçal pautou nacionalmente a disputa sem um case real para apresentar. Pois eu o tenho, e se chama Goiás”, analisou o governador.

Desentendimentos com Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro se tornou alvo de críticas de Caiado, por reavivar antigas discordâncias, remontando ao embate sobre a pandemia de Covid-19 por ter minimizado a importância do governador goiano no cenário eleitoral. Bolsonaro chegou a chamá-lo de “covarde” e “rosnador” durante a recente campanha municipal em Goiás. Em resposta, Caiado ironizou: “Cachorro que late não morde, mas com um rosnador, é melhor ter cuidado.”

Caiado realça que tentou construir um diálogo com Bolsonaro antes das eleições, mas foi surpreendido por ataques e concorrência direta em Goiânia, onde venceu com seu candidato, Sandro Mabel. A vitória na capital goiana foi um processo tido como muito estratégico para quem busca uma candidatura nacional, mas não só. Os partidos da base do governador conquistaram 179 das 246 prefeituras do estado.

Segurança Pública e o conflito com o Governo Federal

A entrevista resgata a importância da segurança pública no rol de bandeiras de Caiado que destacou a redução significativa nos índices de criminalidade em Goiás. O governador rejeita propostas do Governo Federal, como o uso de câmeras corporais, e criticou a PEC da Segurança, chamando-a de “cortina de fumaça para retirar o poder dos estados”.

É lembrado que há dois meses, em São Paulo, falando sobre segurança pública, cerca de mil pessoas ocuparam a maior arena do festival Expert XP, voltado a investidores da Faria Lima, para ouvir Caiado tratar dessa que é a grande marca do seu governo, com repercussões nacionais. O jornalista destaca que o governador foi aplaudido enfaticamente ao dizer que Goiás é o único estado brasileiro onde facções criminosas não controlam “uma rua sequer”. E citou o bordão que Caiado adotou e repete frequentemente: “Ou o bandido muda de profissão, ou se muda de Goiás”.

Por outro lado, o jornalista também citou a ironia feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando Caiado deu esse mesmo tom em reunião de governadores. “Tive a oportunidade de conhecer hoje o único Estado que não tem problema de segurança, Goiás. Peço para o (ministro da Justiça, Ricardo) Lewandowski ir lá levantar, pois pode ser referência para todos”, disse Lula.

Especialistas citados na reportagem apontam, entretanto, que o aumento da letalidade policial em Goiás é uma preocupação. Entre 2019 e 2023, mais de 2.700 mortes por intervenção policial foram registradas, colocando o estado entre os mais letais do país. “O avanço na repressão parece resolver problemas de imediato, mas coloca a democracia em risco”, declarou a criminalista Bartira de Miranda.

A reportagem cita dados da SSP, apontando que 2.767 pessoas morreram por intervenção de agentes de segurança de 2019 a 2023. “Nos últimos números consolidados do país, de 2022, Goiás só fica atrás de Bahia, Rio de Janeiro e Pará, à frente de São Paulo”.

Cita outro trecho que “a matança da polícia goiana já virou até objeto de análise acadêmica”. Em referência ao estudo conduzido pelo advogado criminalista Alan Kardec Cabral Jr., intitulado “Violência estatal: o arquivamento dos inquéritos nas mortes por intervenção policial” baseado em 547 inquéritos policiais, durante parte dos governos Marconi Perillo (PSDB) e Caiado.

“O especialista da UFG mostra como as autoridades policiais, os membros do Ministério Público e os juízes preteriram costumeiramente provas técnicas e testemunhos oculares e se escoraram, em 94% dos casos, nas palavras dos policiais. Entre os dados de Kardec estão os de que só 0,6% dos casos viram denúncia, em 73,4% deles o delegado sequer foi ao local do crime, o que é previsto pelo Código Penal, e 41,5% foram arquivados por constatação de ‘legítima defesa do policial'”.

Investimentos em tecnologia e gravação de conversas nos presídios são estratégias

Mas Caiado contesta a visão de que só baixou a violência por causa do crescimento dos chamados autos de resistência (mortes cometidas por policiais). Ele credita os resultados a investimentos em tecnologia e endurecimento nas políticas policiais e a incrementação da Polícia Penitenciária.

O governador aponta como avanço a gravação das conversas entre advogados e clientes nos presídios do estado, que, segundo ele, impediu a comunicação interna das facções. Por outro lado, Caiado cita o governo de Nayib Bukele, presidente de El Salvador, como exemplo ao combate ao crime. Lá, cerca de 80 mil pessoas foram detidas sem ordem judicial. Bukele ora é chamado de radical de centro-direita, ora de ditador.

Assassinato de empresário envolve aliados do governador


O assassinato do empresário Fábio Alves Escobar Cavalcante, em 2021, continua a repercutir politicamente e é citado na entrevista como um marco que poderá ser destacado durante a campanha à presidência. Escobar havia denunciado supostos desvios de recursos ligados à campanha de 2018 de aliados de Caiado. Jorge Caiado, primo do governador, tornou-se réu no caso, acusado de envolvimento no crime.

“Não tenho dúvida de que usarão isso na campanha. Esse assunto tem viés ainda mais político do que policial. Por isso substituí o delegado do caso por outros quatro, os de mais alto escalão da polícia. Quero que se entre nos detalhes, nas minúcias. Não interessa quem fez, todos os crimes precisam ser resolvidos e ter punição. Só ficarei satisfeito quando essa apuração chegar no mandante”, afirmou Caiado.

Texto: Marília Assunção, com informações do jornal O Globo

Fotos: reprodução / O Globo

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