Vithória Nascimento, de 18 anos, sempre estudou em escola pública e quer usar a profissão e a história de vida para inspirar outras pessoas.
ithória Nascimento durante aula — Foto: TV Integração/Reprodução
O nome que Vithória Nascimento recebeu é também a palavra que a guia há 18 anos. A conquista mais recente da juiz-forana foi a aprovação para o curso de psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) pelo Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism).
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Mesmo sem os braços após nascer com uma má formação genética, a deficiência nunca significou limitação para a jovem, que cursou ensino fundamental e médio na Escola Estadual Almirante Barroso, na Zona Norte da cidade.
Conforme ela, os primeiros dias na escola causaram receio e insegurança. No entanto, o apoio da família e a acolhida da instituição tornaram os anos mais leves e a motivaram para dar o passo rumo à faculdade.
Vithória Mateus após passar em psicologia na UFJF — Foto: Arquivo Pessoal
“Tive um pouco de medo de como seria [começar a estudar], como eu ia me adaptar, mas, graças a Deus, desde quando cheguei, sempre fui muito bem recepcionada, desde a direção até os funcionários. Todo mundo sempre me tratou muito bem e, sempre quando eu precisava de algo ou alguma coisa, sempre me davam suporte”, relembrou ela, que usava uma mesa mais baixa e inclinada para poder fazer as anotações no caderno.
“No momento que meus pais descobriram [a deficiência] foi difícil porque é um choque, um choque de realidade para qualquer pessoa. E os meus pais se perguntavam como eu ia fazer as minhas coisas, como eu ia me sentir, como eu ia estudar (…). Fiquei muito feliz com a aprovação e também em saber que uma pessoa com deficiência pode conseguir uma vaga em uma universidade federal e também sonhar com um futuro melhor”.
Além do curso de psicologia, Vithória foi aprovada pelo Enem em Serviço Social.
Letra de Vithória Nascimento — Foto: TV Integração/Reprodução
Aprendizado também para a escola
A adaptação e a aprovação de Vithória significam também uma conquista para a escola por onde a jovem passou. Patrícia Siqueira Marcondes, supervisora e primeira professora dela, relembra o primeiro dia de aula e do desafio em promover a inclusão da nova estudante.
“Nós fomos preparados na universidade para trabalhar com crianças no período de alfabetização, na escrita, a pegar na mão, a direcionar, fazer a fila, pegando na mão. E aí, quando eu olhei aquela criança, eu fiquei 15 minutos impactada para saber como que eu iria lidar”, conta.
“Mas ela me surpreendeu muito. Ela abriu a mochila, e o primeiro material que ela pegou foi um espelho e um batom. E, naquele momento, eu parei e olhei e pensei, eu tenho mais a aprender com ela do que ela aprender comigo”.
Alex Protta, professor de geografia de Vithória, também comemorou o feito da jovem: “Vê-la aprovada hoje, numa universidade federal, num curso de psicologia, é para nós uma realização quanto pessoa, vida e profissional. É o que queremos de todos os estudantes”.
O porquê da psicologia
Vithória Nascimento cursa psicologia na UFJF — Foto: TV Integração/Reprodução
Segundo a estudante, a escolha do curso é pelo poder que a psicologia tem em ajudar outras pessoas.
“Nessa profissão eu poder ajudar o próximo, tanto profissionalmente como também através da minha história, que eu acho que eu vou servir de inspiração para muitas pessoas”.
Vithória considera que cada adversidade precisa ser tratada com leveza e, acima de tudo, nunca colocar o “desistir” como opção.
“Eu ouvi uma frase que falava ‘derrotado não é apenas aquele que perde algumas batalhas, é aquele que desiste de lutar’. Então, a gente nunca pode desistir de lutar, se não conseguiu esse ano, que tente os próximos anos, que é capaz sim. Se eu consegui, as pessoas também vão conseguir. Basta a pessoa acreditar em si, porque não adianta estudar um ano inteiro, estudar, estudar, se a pessoa não acreditar nela mesma. Então, o que eu mais pensava era acreditar.”
FONTE: G1 GLOBO