Almir Garnier usa brecha e ocupa apartamento da Marinha há 10 meses; ex-comandante foi delatado por Cid e acusado de três crimes pela CPMI
O almirante Almir Garnier Santos, comandante da Marinha do governo Bolsonaro suspeito de apoiar um plano golpista, mora há 10 meses em um apartamento da Marinha em Brasília, mesmo tendo passado para a reserva e deixado qualquer função na Força ainda no fim de 2022. Garnier alegou “motivo particular” para ocupar o imóvel de classe alta e se beneficiou de uma brecha nas regras da caserna.
Desde janeiro deste ano, o ex-comandante da Marinha está em um apartamento de 160 metros quadrados na Asa Sul, bairro da capital federal. Se alugasse o imóvel, pagaria no mínimo R$ 6,5 mil de aluguel por mês. Garnier mora no local com a mulher, Selma Foligne, que teve um cargo de confiança no Planalto de Jair Bolsonaro depois de se aposentar da Marinha. Não há prazo para que o casal deixe o apartamento mantido com dinheiro público.
Uma regra interna da Marinha dá direito a apartamentos funcionais só aos funcionários da ativa, assim como acontece nos outros órgãos dos três Poderes. Nesse caso, porém, mesmo estando na reserva e afastado da Força, o militar se beneficiou de uma brecha, ocupando um “apartamento de trânsito”, que está em outra categoria.
Esses imóveis de trânsito, administrados pelas Forças Armadas, são destinados a hospedar militares e familiares em serviço ou em lazer. É o caso dos militares que trabalham em uma nova cidade e ainda não receberam o apartamento funcional, ou então estão viajando a trabalho. Há ainda uma outra possibilidade para permitir o uso dos apartamentos, que foi usada por Garnier: “motivo particular”. Questionada, a Força Naval não explicou essa justificativa.
A rotina de Garnier depois de deixar o cargo mais alto da Marinha é discreta. O militar costuma sair do prédio apenas de carro, pela garagem, e não é visto pelos vizinhos com frequência. A coluna esteve no local e interfonou para o apartamento de Almir Garnier, mas recebeu a resposta de que ele não se manifestaria. Desde setembro, quando foi acusado na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-auxiliar de Bolsonaro, de ter apoiado um plano golpista após a vitória de Lula, Garnier não se pronunciou sobre o caso.
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No último dia 17, o relatório final da CPMI do 8 de Janeiro acusou Garnier de ter cometido os crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa. O colegiado apontou que o ex-comandante militar aderiu às “condutas criminosas” de Bolsonaro e colaborou “decisivamente” para os atos golpistas do 8 de Janeiro.
Procurada, a Marinha afirmou que tem dois apartamentos de trânsito em Brasília destinados a oficiais-generais, incluindo o usado pelo almirante Garnier. A Força, que não detalhou por que forneceu o apartamento a Garnier desde janeiro, afirmou que “reitera o seu compromisso com a transparência, a integridade e com o cumprimento das normas estabelecidas para quaisquer de suas atividades”.
Fonte: Metrópoles