O Brasil cresce menos do que Goiás. Portanto, se dependesse unicamente do Estado do Centro-Oeste, o país estaria crescendo acima de 2% ano.
O PIB de Goiás representava 1,78% do total do PIB do Brasil, em 1991. Trinta e um anos depois, em 2022, o Estado passou a significar 2,95% do PIB nacional.
Professor da PUC-Goiás e ex-secretário da Fazenda do governo do Estado, o economista Valdivino Oliveira frisa: “Quase dobramos nossa contribuição relativa. Desde 1996, Goiás está acima do crescimento médio nacional, do Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Goiás expandiu sua fronteira agrícola, passando a ser um grande produtor e isso trouxe a agroindústria. Temos no Estado muitas plantas fabris de óleos, fármacos, beneficiadoras agropecuárias. A agroindústria veio porque Goiás a atraiu com incentivos fiscais. Em 1996, não fabricávamos nem bicicletas, e a partir dos anos 2000, passamos a produzir veículos. Chegamos a ter quatro montadoras simultaneamente: Mitsubishi, Chery, Hyundai e Suzuki. Goiás tem uma fábrica de tratores, a John Deere, em Catalão. Anápolis possui um polo de indústrias químicas. Então, ampliamos a produção de manufaturados rapidamente graças aos incentivos fiscais”.
A economia de um país, assim como a de um Estado, funciona bem se iniciativa privada e governo atuam em forte conexão. Veja-se o caso dos produtores rurais e dos industriais do agronegócio. Por si sós, representam uma força imensa e são decisivos para o crescimento da economia. Entretanto, quando contam com o apoio dos governantes, podem fortalecer seus próprios negócios, assim como o mercado em geral — dada a sintonia ou interdependência que existe entre os vários setores produtivos. Governo bom não é o grande, o médio ou o pequeno (mínimo). Governo bom é aquele que, sendo eficiente em cuidar de suas próprias contas, não permitindo que todos os recursos que arrecada sejam usados exclusivamente para se financiar, contribui para a expansão dos negócios privados e age para reduzir as desigualdades sociais.
Quando constrói uma rodovia, e também quando a melhora — duplicando-a ou restaurando o asfalto —, os governos estão colaborando para escoar a produção, o que vai refletir em preços mais competitivos no mercado interno e externo. Ao facilitar o escoamento, dá-se uma contribuição para ampliar a produção. Isto tem sido feito em Goiás, sob a batuta do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), nos últimos quatro anos e seis meses.
Há uma ideia, por certo pueril, de que o incentivo público beneficia tão-somente o capitalista. A realidade é outra. Ao incentivar uma empresa, fortalecendo sua musculatura, se está contribuindo para gerar empregos e melhorar a renda dos trabalhadores. Quanto mais produtiva e moderna uma empresa — e vale lembrar que o presidente Lula da Silva, que foi torneiro mecânico, sempre elogiou os bons salários que recebia na Villares —, de variados setores, melhores salários ela paga aos seus trabalhadores, além de fornecer benefícios variados.
Exportação e China
Como ressalta o economista Valdivino Oliveira, Goiás está crescendo mais do que o país (cresceu 2,9%). Portanto, se há uma crise brasileira, talvez não se possa falar numa crise goiana. Se todos os Estados crescessem como Goiás (6,6%, em 2022, de acordo com o Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Pesquisas Socioeconômicas), o país não estaria crescendo num ritmo chinês, mas acima de vários outros países.
O PIB de Goiás chegou a 279,5 bilhões de reais em 2022, de acordo com o Indicador de atividade econômica do Banco Central (IBCR-GO).
De acordo com o Caged, Goiás gerou 100 mil empregos formais em 2022, considerando apenas de janeiro até novembro. E a taxa de desocupação foi de 6,1% — a menor em nove anos. A renda média dos goianos também cresceu.
As exportações estaduais estão se ampliando, de maneira elástica. A balança comercial do Estado, no ano de 2022, teve um alta de 456%. As exportações foram no valor de US$ 1,58 bilhão, com importações de US$ 975,3 milhões. O saldo favorável a Goiás foi de US$ 610 milhões. Os dados são referentes a dois meses daquele ano.
Avalia-se que o sucesso das exportações tem a ver com os preços competitivos e a certificação internacional. Goiás usa tecnologias modernas e manejo e produção avançados. Assim como há crédito e acesso à tecnologia — além do clima ser favorável.
De acordo com dados da Secretaria da Indústria e Comércio, 46,28% das exportações de Goiás são direcionadas à China. Ou seja, o maior parceiro comercial do Estado não são os Estados Unidos ou a Europa, e sim um país da Ásia. Os municípios que mais exportam são Rio Verde (31,62%), Jataí (10,34%), Barro Alto (4,25%) e Palmeiras de Goiás (4,16%). Observe-se que dois grandes exportadores — de soja — são do Sudoeste goiano. E o município de Cristalina, no Entorno do Distrito Federal, está se tornando uma das potências agrícolas do país.
O que se exporta: soja (55%), carnes (13,73%), ferroligas (6,79%), milho (6,78%) e ouro (3,54%). O que mais se importa: fertilizantes (33,53%), produtos farmacêuticos (21,24%), automóveis (8,87%), máquinas e peças (8,15%) e produtos químicos orgânicos (6,75%).
Goiás atraiu e continua atraindo dezenas de empresas — inclusive chinesas (que parecem entusiasmadas com o mercado local, inclusive com sua localização — no centro do país, o que possibilita a construção de uma grande rede de distribuição).
O Estado também está se preparando para atrair empresas do setor de tecnologia.
O projeto Mapeamento de Oportunidades de Crescimento do Setor Mineral em Goiás 2022-2042, elaborado em parceria com a UFG, a Funape e a Sudeco, tem o objetivo de identificar as potencialidades do Estado e, daí, atrair investidores do setor de mineração (Goiás já é forte na área, com a produção de ouro, nióbio).
O secretário de Indústria e Comércio, Joel Santana Braga Filho — que, de tanto articular com chineses, está começando a entender alguma coisa de mandarim (que alguns chamam de “o inglês do futuro”) — postula que, em dez anos, a área de mineração deve movimentar cerca de 30 bilhões de reais. Há pouco, em tom de brincadeira, um chinês brincou com um executivo: “Goiás vai acabar se tornando uma pequena China”. Depois, ficou impressionado ao saber que o Estado é maior do que Cuba, Portugal e Israel juntos e é quase do tamanho do Japão. Ao ser “corrigido”, riu e disse: “Na verdade, Goiás é uma média China”. Como se sabe, os chineses são, no geral, sisudos. Então sua brincadeira é, digamos, séria.
Aos poucos, tateando o mercado, os chineses começam a traçar estratégias para instalar negócios em Itumbiara, no Sul de Goiás, e, possivelmente, em outras cidades. As chinesas Chint e Byd (forte no ramo de automóveis elétricos) estão chegando. Recentemente ocorreu uma audiência com executivos da estatal chinesa Sinomach, que é, simplesmente, a segunda maior esmagadora de soja da China, além de fabricar tratores e silos. A Sinomach está fechando negócio, em Itumbiara, para produzir implementos agrícolas e compra de soja.
A Caoa-Cherry vai ampliar seus investimentos em Anápolis, com a fabricação de automóveis elétricos (um mercado do presente, e não mais do futuro).
E-commerce e pequenos negócios
O governo do Estado está incentivando o e-commerce. Um projeto de lei, aprovado pela Assembleia Legislativa, permite a entrada de gigantes do setor de distribuição de produtos comercializados digitalmente. O Magazine Luiza, para citar um caso, planeja instalar centros de distribuições em Goiás. A Secretaria de Indústria e Comércio vai tentar estabelecer tratativas com o Mercado Livre, a Americanas (apesar da crise, continua sólida no mercado), a rede de farmácias Pague Menos e a Hering (que já atua fortemente em Goiás).
O Estado conta com o segundo maior polo farmacêutico do Brasil e da América Latina, com grandes laboratórios em Anápolis. Hoje, o polo já responde por 25% de toda a produção nacional de medicamentos. A rede de laboratórios será expandida.
Ao mesmo tempo que atua para atrair grandes empresas, o governo goiano opera para incentivar negócios pequenos e médios. Por isso, no Entorno de Brasília, vai construir os chamados Mercadões do Entorno. De acordo com a SIC, o objetivo é “formalizar o comércio local, impulsionar a economia e gerar novos postos de trabalho e renda em cidades da região”.
Em seis cidades — Águas Lindas, Valparaíso, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto, Cidade Ocidental e Luziânia — serão edificados seis centros comerciais, com dois pisos, para abrigar pequenos e médios empresários. O governo de Ronaldo Caiado vai investir cerca de 200 milhões. O primeiro a sair do papel será o mercadão de Águas Lindas. Em 2023, mais duas unidades serão iniciadas.
Com o segundo maior polo de confecção do país, instalado na região da Rua 44, no Centro, Goiânia é uma potência consolidada. Porém, com o apoio da SIC, que lançou o Cinturão da Moda, será feita uma integração da capital com uma rede de confecções de 30 cidades goianas. Tais municípios vão abastecer o mercado da capital — que hoje atende alguns Estados.
O governo postula que o Cinturão da Moda pode possibilitar a geração, no curto prazo, de 100 mil empregos tanto em Goiânia quanto no interior. A SIC coordena o projeto junto com a Associação dos Comerciantes da Região da 44 e prefeituras municipais.
A SIC criou também o projeto Cinturão dos Móveis, com o objetivo de fortalecer o setor em Goiânia. “O objetivo é expandir a indústria de móveis, capacitando mão de obra, movimentando a economia e gerando novos postos de trabalho”, sublinha Joel Santana.
Conectando crescimento e desenvolvimento
Ao comentar sobre o crescimento da economia, Ronaldo Caiado lista dois fatores — a austeridade fiscal de sua gestão e o incentivo aos setores produtivos.
O governador aponta uma questão que alguns gestores públicos eventualmente deixam de lado. Associando crescimento e desenvolvimento, o governante goiano sublinha a importância da inclusão da população vulnerável na economia. Ele avalia, como o presidente americano Franklin D. Roosevelt, entre as décadas de 1930 e 1940, que os programas de transferência de renda, além de beneficiar os pobres, movimenta a economia como um todo. O gestor goiano é humanista e, também, realista.
Numa entrevista, Ronaldo Caiado foi cirúrgico, provando que se trata de um liberal com preocupações sociais: “Se não dermos educação de qualidade, não ampliarmos o emprego, não ampliarmos nossa industrialização, as vagas de serviços, agricultura, pecuária e indústria, não vamos achar alternativas para superar problemas”.
Noutras palavras, o gestor estadual está dizendo que o crescimento não pode excluir o desenvolvimento. Pode-se acrescentar que o desenvolvimento — o investimento correto (e humanista) no social — reforça o crescimento. Mas o crescimento por si só, sem a interferência do Estado, não leva necessariamente ao desenvolvimento.
Pode-se sugerir, portanto, que, no momento em que Goiás cresce, os ganhos do crescimento, via Estado, também são repartidos com os pobres. Além dos programas de assistência, incentiva-se fortemente a educação e o sistema de saúde é eficiente (o que não quer dizer perfeito. Mas a quantidade de pessoas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, do Tocantins, do Maranhão, do Pará e do Tocantins buscando assistência em Goiás, notadamente em Goiânia, sinaliza que o setor de saúde, tanto o público quanto o privado, é de alta qualidade).
Pode-se sustentar que o governo de Goiás está dando um exemplo aos Estados e ao país. O presidente Lula da Silva diz que aprecia “notícias boas”. Eis uma.
Fonte: Jornal Opção