A cirurgia de retirada de órgãos e tecidos depende do diagnóstico de morte encefálica e deve haver autorização dos familiares. Porém, ainda não são realizados transplantes em municípios do Entorno
Em Luziânia, a captação de órgãos começou a ser realizada em janeiro (Foto: Divulgação)
Pacientes que estão à espera de um órgão, sabem o quanto o fator “tempo” é importante nesse processo. Em Goiás, duas unidades hospitalares do Entorno do Distrito Federal já dispõem de equipe especializada para o procedimento de captação de órgãos, que é a fase intermediária entre a busca do doador e o transplante, propriamente dito.
O Hospital Estadual de Luziânia (HEL) realizou a primeira captação no final de janeiro deste ano. Já o Hospital Estadual de Formosa (HEF) disponibiliza profissionais para esse tipo de trabalho desde 2022. Nesta unidade, entre as 10 entrevistas realizadas às famílias que tiveram entes queridos com diagnóstico de morte encefálica, cinco delas autorizaram a doação de órgãos.
Salvando vidas
De acordo com o diretor administrativo do HEF, Luciano Dutra, o hospital dispõe de uma equipe muito bem preparada. “Tenho médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogo que, dentro dos critérios, fazem um trabalho de abordagem, principalmente com os familiares, no sentido tentar conscientizá-los quanto à autorização das doações. Isto, é claro, dentro dos casos que realmente se enquadram na situação”.
Para ele, a comunidade em geral precisa entender a importância desse ato. “Eu creio que, aos poucos, vamos levando essas informações de maneira adequada, mostrando para as pessoas que, mesmo neste momento, ainda podem nos ajudar a salvar uma vida. Então, é um trabalho árduo, mas quando a gente consegue, é uma grande conquista”, pontua.
Hospital Estadual de Formosa (Foto: Divulgação)
Estrutura para cirurgia
Já em Luziânia, o HEL tornou-se a segunda unidade do Entorno do DF com estrutura para realizar cirurgias de captação de órgãos. Segundo nota da assessoria de comunicação da unidade, isto foi possível pelo fato do hospital contar com um centro cirúrgico desde o ano passado.
A coleta é feita pela Central Estadual de Transplantes (CET), que vai até o local mediante informação do HEL. “Quando há um paciente com morte encefálica declarada e a família concorda em doar os órgãos, a CET entra em cena, buscando no Banco Nacional de Receptores possíveis pacientes compatíveis para receber”, conclui a nota.
Corrida contra o tempo
A CET coordena todo o trâmite que envolve as etapas do transplante e cujas atividades têm suporte das Organizações de Procura de Órgãos (OPOs), presentes em várias unidades hospitalares do estado desde 2018.
Segundo a gerente da CET, Katiuscia Freitas, todos os casos em Goiás são acompanhados pela Central. Os registros ou notificações de morte encefálica são o primeiro passo nesse processo. “Naturalmente, em hospitais de urgência e emergência, há mais diagnósticos assim, porque eles recebem maior número de pacientes com lesões neurológicas graves”, observa.
Katiuscia Freitas: transporte aéreo para deslocamento dos órgãos (Foto: Divulgação)
A coleta de órgãos no Entorno do DF segue uma logística que conta com aviões do Corpo de Bombeiros e com a ajuda serviço aéreo do estado. “Ambos disponibilizam transporte aéreo quando precisamos”, afirma Katiuscia. “Quando temos um doador de órgãos, por exemplo, em Luziânia, a gente tem que buscar uma amostra de sangue e trazer para Goiânia para fazer os exames. Por isso que ter o avião agiliza esse processo, pois é uma corrida contra o tempo”, assinala.
Etapas da captação
O transplante não acontece nas cidades do Entorno. Nos hospitais de Luziânia e Formosa são realizadas somente as cirurgias de retirada de órgãos e, para essa coleta acontecer, há várias etapas envolvidas. “A captação funciona da seguinte forma: primeiramente, temos a notificação do caso. Então, a nossa equipe acompanha e valida, para ver se está conforme a legislação nacional. Depois da validação, se tiver um doador de órgão sem contraindicação absoluta, nossa equipe faz uma entrevista com a família”, explica a gerente da CET, acrescentando que, atualmente, tanto os hospitais de Luziânia quanto de Formosa contam com profissionais que conversam com as famílias, a fim tentarem obter a autorização de doação. “Se houver anuência, passamos para a parte de organização da logística, quando vamos até o hospital para fazer a captação” esclarece.
O Estado de Goiás disponibiliza hospitais que realizam cirurgias de transplante, mas somente de alguns órgãos, como rins, fígado, córnea e pâncreas. Outros, como coração e pulmão, são deslocados a outros entes federativos, como São Paulo e Distrito Federal.
FONTE: JORNAL OPÇÃO – ENTORNO