Um dos hospitais mais antigos e tradicionais da Capital de Goiás é referência não só pela prestação de serviços de saúde há mais de 60 anos, mas por carregar em si parte importante da história da medicina do Estado. Estamos falando do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), localizado no Setor Universitário, região Central de Goiânia.
Apesar de ter sido inaugurado em 1962, o HC, como é conhecido, tem uma história que começou 21 anos antes, com o início das obras do edifício pelo governo do Estado em 1941. O objetivo era criar um hospital geral para oferecer atendimento médico à população que não era segurada do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps).
Entretanto, a obra não chegou a ser finalizada por falta de recursos e o prédio passou a ser ocupado pela Escola de Engenharia. O médico Francisco Ludovico, que havia idealizado a criação de uma Faculdade de Medicina em Goiás, lutou pela desocupação da área pela Escola de Engenharia e sua desapropriação pelo governo do Estado e, para isso, contou com o importante apoio do então governador do Estado e seu pai, José Ludovico de Almeida, e do então presidente da República, Juscelino Kubitschek.
Em 24 de abril de 1960 foi inaugurada a Faculdade de Medicina de Goiás, com Francisco Ludovico como seu diretor. Dois anos depois, no dia 23 de fevereiro de 1962, ocorreu a inauguração do Hospital das Clínicas, criado para atender às necessidades de estágio dos alunos da primeira turma da Faculdade de Medicina, mantido pelo governo do Estado e pelo Ministério da Educação.
Com a transferência patrimonial da Faculdade de Medicina para a Universidade Federal de Goiás, foi transferido também o Hospital das Clínicas. O MEC passou, então, a ser o principal mantenedor da unidade de saúde.
Além de Francisco Ludovico, idealizaram o HC os professores Geraldo Pedra, Joffre Marcondes Rezende, Luiz Rassi e pelas enfermeiras Maria da Conceição Viana (Irmã Ângela) e Maria Aparecida Veloso (Irmã Celeste). O hospital iniciou suas atividades com 67 funcionários e 60 leitos distribuídos entre as Clínicas Médica, Cirúrgica e Ortopédica.
História de desafios
Nos primeiros anos, a falta de recursos financeiros, de salas de aula e laboratórios adequados fez com que a primeira diretoria do hospital construísse, como medida emergencial, uma série de pequenos pavilhões sobre os alicerces já existentes. Constantes reformas e adaptações também eram realizadas para corrigir defeitos na parte construída do que seria um hospital geral.
No período da Ditadura Militar, o então interventor federal em Goiás, general Meira Mattos, determinou a instalação do Serviço de Emergência no HC, já que não havia em Goiânia hospitais que realizassem atendimento de urgência e emergência. Embora não houvesse condições para a instalação do serviço, um decreto ministerial ordenou o seu início imediato.
Em 1971 mais serviços foram incorporados ao Hospital das Clínicas. A Maternidade, Pediatria e Medicina Tropical, que funcionavam na Santa Casa de Misericórdia, passaram a funcionar no primeiro pavilhão do hospital.
Com a revisão do estatuto da UFG, em 1984, o HC foi desvinculado da Faculdade de Medicina e passou a ser ligado hierarquicamente à Reitoria da Universidade, como órgão suplementar. Em 1988, com a promulgação da Constituição que assegura a Saúde como dever do Estado, o hospital manteve seu caráter público, com atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Ao longo dos anos, o HC passou por diversas transformações e obras de melhoria e ampliação da estrutura. Foram feitos também investimentos em aparelhos de ponta para atender à demanda sempre crescente.
Em 2013 foi iniciada a obra da nova estrutura física, com previsão de 20 andares e que aumentaria a capacidade instalada de 309 para 600 leitos. Em dezembro de 2014 a UFG firmou contrato com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vinculada ao Ministério da Educação, que tem como objeto a gestão especial gratuita do Hospital das Clínicas com o objetivo de desenvolver melhoria da gestão e dos resultados.
O novo edifício do Hospital das Clínicas foi inaugurado em 14 de dezembro de 2020. O prédio, de instalações modernas, fez com que a unidade se tornasse um dos maiores e mais complexos hospitais universitários do país, com serviços voltados para assistência humanizada e de excelência aos pacientes do SUS.
Com uma área de mais de 44 mil metros quadrados, o novo prédio do HC conta com 20 pavimentos e capacidade para ofertar 600 leitos de internação. São oito pavimentos de internação geral e dois para o Centro Cirúrgico, com 30 salas cirúrgicas; um pavimento é exclusivo para UTI Adulto, com 43 leitos, e outro é inteiramente dedicado à maternidade de alto risco e Centro Obstétrico com cinco salas de parto e 25 leitos de pós-parto.
A unidade possui ainda uma Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais com 15 leitos e alojamento conjunto, um pavimento para UTI Pediátrica com 18 leitos, além de hemodinâmica e um pavimento exclusivo para pacientes transplantados. O projeto prevê, ainda, um heliponto para o transporte rápido de pacientes.
Como trata-se de um hospital escola, foram projetados também espaços dedicados ao ensino e à pesquisa. São 13 salas de aula, com capacidade para 40 alunos cada, dez salas de professores, dois auditórios com capacidade de 100 pessoas cada e um laboratório de simulação realística de procedimentos.
Para executar a obra, foi necessário investimento de cerca de R$ 150 milhões, além de mais R$ 20 milhões para aquisição de equipamentos. Os recursos vieram do Fundo Nacional de Saúde (FNS) do Ministério da Saúde, orçamento da UFG, da Ebserh e de emendas parlamentares de senadores e deputados federais goianos.
Assistência, ensino e pesquisa
O superintendente do Hospital das Clínicas, José Garcia, destaca a alta qualidade do atendimento oferecido pela unidade à comunidade. Além disso, outro ponto forte ressaltado é a possibilidade de os profissionais aliarem a teoria aprendida na universidade com os conhecimentos práticos.
“A maior relevância do HC é oferecer assistência de qualidade em medicina terciária para toda a população por meio do SUS. Em seguida, outra grande importância é ser um hospital universitário, que alia academia, medicina, pesquisa na formação de profissionais da saúde”, sublinha.
Mais que médicos, a equipe da unidade é formada por multiprofissionais para oferecer um atendimento integral e humanizado aos usuários do SUS. “São médicos, enfermeiros, assistentes sociais, farmacêuticos, biomédicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfim, praticamente todas as áreas relacionadas à saúde, sendo mais de 1500 profissionais formados por ano”, reforça o diretor.
Referência
O HC possui programas de referência para todo o Brasil. Destacam-se, entre eles, o Núcleo de Neurociências, o Programa de Atendimento ao Chagásico, a Liga de Hipertensão Arterial, o Centro Avançado de Diagnósticos da Mama e o Centro de Reprodução Humana. São oferecidos, ainda, serviços especializados nas áreas de cardiologia, dermatologia, otorrinolaringologia, maternidade para gestantes de alto risco, serviço de urgência e emergência, ambulatório de hematologia e oncologia, hemodinâmica, hemodiálise, ortopedia e traumatologia, além dos ambulatórios de doença falciforme e doenças raras.
O superintendente José Garcia evidencia a importância do Hospital das Clínicas. “Aqui foi a primeira escola de Ortopedia de Goiás, além de ser um centro desenvolvedor de pesquisa de Doença de Chagas desde 1970. Temos também pesquisas na área neurológica sobre Parkinson, depressão e dor fantasma, consideradas entre as primeiras do mundo, e realizamos cirurgias cardiovasculares minimamente invasivas.”
Para o diretor, o HC tem a função de continuar se desenvolvendo, por isso, busca sempre o que pode melhorar quando o assunto é o atendimento da população. “Temos a previsão de abrir um centro ultra-avançado de radioterapia entre março e abril deste ano, com um acelerador linear e pelo SUS. Isso reforça a nossa referência em oncologia”, afirma.
A unidade, que já realiza transplantes de córneas com o apoio do Centro De Referência Em Oftalmologia (Cerof), está em busca da reabilitação para transplantar órgãos sólidos. Outra novidade é a construção de um novo prédio de ambulatórios. “Estamos apenas esperando o novo plano diretor para iniciar as obras”, assegura José Garcia.
A localização do hospital é outro ponto relevante ressaltado pelo diretor. “Depois de mais de 60 anos no mesmo lugar, a gente nem discute o endereço. O HC está praticamente no Centro da cidade e é de fácil acesso para a população, além de estar situado em uma área cultural, próximo a universidades. É uma localização eterna, que vai estar sempre na lembrança das pessoas”, salienta
Para o superintendente, a sensação é dever cumprido. “Buscamos sempre cuidar da coisa pública, do erário por meio do sistema tripartite. É muito gratificante e prazeroso atender nossa população brasileira que precisa do SUS em um hospital universitário de ponta. É uma sensação de ser útil para a sociedade.”
Segundo José Garcia, a modernização dos parâmetros coloca o Hospital das Clínicas no patamar dos melhores hospitais do Brasil. “Isso nos leva a ter certeza de que é uma unidade ultramoderna em sua estrutura física, com equipe médica e multiprofissional que tem a capacidade de receber o paciente e promover a melhor assistência possível”, encerra.
FONTE:A REDAÇÃO