Economista ultraliberal que ficou famoso na TV chega ao poder com discurso antipolítica e propostas radicais como fechar o BC e dolarizar a economia.
O economista ultraliberal Javier Milei venceu a eleição presidencial na Argentina neste domingo (19). Candidato de oposição, ele foi eleito com 55,95% dos votos na disputa contra o governista peronista Sergio Massa (44,04%).
Aos 52 anos, Milei será o 52º presidente do país e terá que enfrentar a pior crise econômica em décadas, com a maior inflação em mais de 30 anos, dois quintos da população vivendo na pobreza e forte desvalorização cambial. Desafios agravados por uma dívida externa bilionária e pela falta de reservas internacionais.
A Argentina, segunda economia da América do Sul e um dos principais exportadores de grãos da região, passa ainda por uma seca histórica neste ano, que atingiu a última safra de milho, soja e trigo, derrubou a produção agropecuária e levou à morte de milhares de cabeças de gado.
Quem é Javier Milei
Economista de formação, Milei se promove como um nome de fora da política tradicional que diz querer combater o que chama de “casta política” da Argentina.
Antes de se aproximar da política, ele atuou no setor privado, trabalhando em banco e em uma empresa que administrava aposentadorias e pensões. Também chegou a atuar como economista-chefe da Fundação Acordar, ligada ao peronista e ex-candidato à Presidência Daniel Scioli.
Professor universitário, Milei só se tornou mais conhecido do público argentino ao passar a ser convidado para falar em programas de rádio e, especialmente, TV.
Em 2021, com um discurso inflamado “contra tudo e contra todos”, venceu sua primeira eleição para o cargo de deputado federal por seu partido A Liberdade Avança, fundado no mesmo ano.
Costuma ser comparado por analistas políticos ao ex-presidente americano Donald Trump e ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
A vida pessoal de Milei se tornou assunto na campanha com a publicação de uma biografia não autorizada pelo jornalista Juan Luis González, que mostra a relação do economista com o esoterismo depois da morte do cachorro dele, Conan, em 2017.
Segundo a mídia argentina, Milei enviou amostras de DNA de Conan para uma empresa fazer clones do cão. A empresa já publicou textos no site dela em que confirma ter clonado o animal de estimação do político argentino.
Hoje, são quatro cachorros, todos mastins ingleses que pesam 90 quilos, segundo a imprensa argentina: Murray, Milton, Robert e Lucas. Milei costuma dizer que ele são “seus filhos de quatro patas” e ainda se refere a Conan, como quando discursou após vencer as prévias. “Obrigado, Conan, Murray, Milton, Robert e Lucas”, disse Milei em 13 de agosto.
Os nomes dos cachorros homenageiam economistas que Milei admira: Murray Rothbard, Milton Friedman e Robert Lucas. Já o nome de Conan é uma referência ao filme “Conan, o Bárbaro”, de 1982.
Governabilidade
No pleito legislativo deste ano, o partido de Milei, A Liberdade Avança, foi o que mais cresceu no Legislativo, saltando de três deputados e nenhum senador para 38 deputados e oito senadores.
No dia 22 de outubro, os argentinos votaram no primeiro turno das eleições presidenciais e também para renovar 130 cadeiras das 257 na Câmara dos Deputados, e 24 cadeiras das 72 no Senado.
Na nova legislatura, a sigla de Milei se tornará a terceira maior bancada do Congresso, atrás da coligação peronista de Sergio Massa, que conta com 108 cadeiras da Câmara, e da coalizão de centro-direita representada no primeiro turno pela ex-ministra Patricia Bullrich, que ficou com 93 deputados.
Somados, os partidos de oposição ao peronismo (Liberdade Avança e Juntos pela Mudança) têm mais deputados do que a bancada do União pela Pátria.
Propostas de Milei
“Não vim guiar cordeiros, vim despertar leões”, afirmou Milei quando seu partido venceu as eleições primárias, em agosto.
A retórica inflamada é uma das características marcantes do economista ultraliberal, que fez de suas propostas econômicas suas principais bandeiras de campanha. Duas delas, em especial, são as consideradas mais polêmicas:
Milei propõe a “dolarização da economia”, que pretende levar à substituição da moeda nacional peso pelo dólar. O modelo já foi adotado por outros países da região, como o Equador.
O presidente eleito também falou várias vezes que quer “dinamitar” o Banco Central, acabando com a instituição responsável pela política monetária da Argentina.
Durante a campanha eleitoral, ele também disse que quer promover uma desregulamentação para compra de armas pelos cidadãos e se colocou contra o aborto e à educação sobre questões de gênero nas escolas públicas.
No documento oficial enviado à Justiça Eleitoral, as principais propostas de Milei são:
Economia:
Eliminar gastos improdutivos do Estado e diminuir o tamanho do Estado
Cortar o gasto com aposentadorias e pensões, visando um “sistema de capitalização privado”
Privatizar empresas públicas deficitárias
Retirar “imediatamente” todas as restrições cambiárias, que limitam as compras de dólares pelos argentinos
Eliminar o Banco Central e promover a dolarização da economia
Promover uma reforma tributária que “elimine e diminua impostos para potencializar o desenvolvimento dos processos produtivos”
Concessões para a exploração de recursos naturais
Promover uma reforma trabalhista que elimine as indenizações, substituindo-as por um sistema de seguro desemprego, além de “promover a liberdade de filiação sindical” e “reduzir os impostos ao trabalhador”
Eliminar as retenções a exportações e direitos de importação
Saúde, educação e tecnologia:
Implementar soluções tecnológicas, como telemedicina, receita eletrônica
Proteger as crianças desde sua concepção
Criar um sistema de vouchers de cheques educativos
Eliminar a obrigatoriedade da educação sexual integral em todos os níveis de ensino
Investir na manutenção do sistema energético atual, mas também “promover novas fontes de energias renováveis e limpas (solar, eólica, hidrogênio verde)
Segurança:
Construir estabelecimentos penitenciários com sistema de gestão público-privada
Estudar a possibilidade de reduzir a idade de imputabilidade de menores
Desregulamentação do mercado legal de armas de fogo, proteger o uso “legítimo e responsável por parte da cidadania”
Fonte: g1