Longa-metragem ganhou 7 Oscars, incluindo Melhor Filme e Diretor
Dirigido por David Lean, “Lawrence da Arábia” é um épico de quase quatro horas sobre a vida de Thomas Edward Lawrence, um arqueólogo, diplomata e soldado inglês que se tornou famoso por integrar-se às tribos árabes do Oriente Médio durante a Primeira Guerra Mundial, auxiliá-las em sua unificação e instigá-las na luta contra o Império Turco-Otomano, que na época controlava a região. Lawrence era fascinado pela cultura islâmica, e seu envolvimento no conflito tornou-lhe uma lenda na região. Mostrando-se um ótimo estrategista, ele criou guerrilhas que atacavam trens e bases importantes dos turcos, impedindo o transporte de armas e mantimentos em suas regiões.
Lawrence era tão apaixonado pela cultura árabe que decidiu aprender a língua e aproveitou a oportunidade para conhecer os costumes da região. Com o início da Primeira Guerra Mundial em 1914, ele se alista nas Forças Armadas e torna-se uma importante peça para o exército britânico, já que seus conhecimentos sobre o Egito e o Oriente Médio o fazem essencial para passar informações vitais ao Reino Unido, que visava controlar tais regiões (ainda que se fazendo de amigos inicialmente).
O filme de David Lean é visualmente acachapante. Filmado em grande parte nos desertos da Jordânia, o longa entrega a grandeza da região com visuais belíssimos e realmente épicos, ao mesmo tempo em que desenvolve este personagem cheio de conflitos entre trabalhar para sua nação e ajudar as tribos árabes. Mas ainda assim, Lawrence era apenas um homem sem o poder e influência para vencer a política e os interesses dos poderosos, e o longa apresenta uma dualidade e angústia do personagem – principalmente no desfecho -, mostrando que mesmo assim os conflitos e derramamentos de sangue continuariam.
Hollywood em sua era dos épicos nos anos 50 e 60 tinha uma cultura de realizar obras longas em duração que ultrapassavam facilmente as quatro horas. Ao mesmo tempo em que muita coisa é estendida além do necessário, quando bem feito conseguimos vivenciar melhor os personagens e o mundo ali apresentado. Muita coisa é desenvolvida com mais calma e “Lawrence da Arábia” entra no grupo dos que conseguiram trabalhar suas quatro horas com maestria, ainda que exista, sim, momentos que poderiam ser resumidos. Mas a direção de Lean é tão bem feita, e o filme tão hipnotizante, que abraçamos a jornada com fascínio e brilho nos olhos.
Se tenho uma ressalva com o filme é o fato de o roteiro deixar de se aprofundar em algumas características essenciais de seu protagonista. O longa passa muito bem a ideia de um sujeito rebelde e insistente, mas, em minha opinião, a narrativa trabalha superficialmente alguns talentos importantes de Lawrence como sua dedicação ao estudo de línguas, cartografia, fotografia e escavações arqueológicas. Ele era um sujeito extremamente inteligente e um exímio escritor também. No filme, a sensação transmitida é apenas de um soldado indômito, rebelde e destemido. Um “herói de ação” que ajudou as tribos árabes se unirem e vencerem o império otomano.
E Lawrence também teve experiências péssimas em sua fase no Oriente Médio. Em 1917, ele foi capturado pelos otomanos, torturado e vítima de violências sexuais. O longa, em um reflexo de seu tempo, escolhe não adentrar neste território e apenas recria uma cena de tortura básica. Com o final da guerra em 1918, Lawrence estava traumatizado e desiludido com a maneira como o exército inglês estava tratando os árabes – algo que lhe motivou a voltar para a Inglaterra e não ter mais envolvimento com o exército. Ele contou suas experiências nos livros “Os Sete Pilares da Sabedoria” e “Revolta no Deserto”.
Mas ainda assim, “Lawrence da Arábia” é um clássico soberbo, envolvente e hipnotizante. Um cinema tão vivo em cada frame, filmado em várias locações reais cujo resultado foge daquela cara de “filmado em estúdio” (ainda que tenha) como em muitos outros longas do gênero.
Lawrence of Arabia/EUA – 1962
Dirigido por: David Lean
Com: Peter O’Toole, Anthony Quinn, Alec Guinness, Omar Sharif…
FONTE: MAISGOIÁS