Mapa é abastecido por relatórios de agência da ONU. Brasil retornou à lista de países em 2022, e o governo federal vai lançar programa para articular ações em todo país contra a fome.
31/08/2023
Os países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) têm como meta zerar a fome até 2030. O objetivo, estabelecido em 2015, ainda está longe de ser alcançado.
Produzido por um dos braços da ONU, o Mapa da Fome estima que 111 países no mundo enfrentam situação crônica de falta de alimento — ou seja, fome.
O indicador leva em conta a chamada prevalência de subalimentação — condição em que os alimentos consumidos são insuficientes para manter uma vida ativa e saudável. Entram para o Mapa da Fome os países nos quais a situação atinge mais de 2,5% da população.
Os dados são abastecidos por relatórios anuais da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), produzidos desde a década de 1990. O material permite avaliar o progresso ou o retrocesso de políticas para erradicação da fome e da pobreza extrema.
As pesquisas também funcionam como termômetro do cumprimento das metas globais estabelecidas pela ONU para zerar a fome e garantir que, especialmente as populações vulneráveis, tenham acesso a alimentos seguros e nutritivos.
No Brasil, os relatórios têm indicado retrocesso desde 2019. A tendência e os dados verificados levaram o país a retornar ao Mapa da Fome em 2022, oito anos depois de deixar a lista.
O levantamento mais recente da FAO, realizado entre os anos de 2020 e 2022, mostra que 10,1 milhões de brasileiros estavam em situação de fome. Outros 21,1 milhões, em condições de insegurança alimentar grave — isto é, quando pode faltar comida durante um dia ou mais.
De acordo com os dados:
entre 2019 e 2021: 3,7% dos brasileiros estavam subalimentados — 1,2 pontos percentuais acima do limite global
entre 2020 e 2022: a situação crônica de fome afetou 4,7% da população brasileira — 2,2 pontos percentuais acima do limite global
O Brasil no Mapa da Fome
País retornou ao indicador em 2022
O cenário preocupa o governo federal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem repetido, por diversas vezes, que a sua gestão deverá adotar medidas para combater a insegurança alimentar e retirar o Brasil do Mapa da Fome.
Ex-ministro de Combate à Fome e diretor-geral da FAO de 2012 a 2019, José Graziano avalia que a situação atual do país é desafiadora. Segundo ele, o número revelado pela FAO jamais havia sido alcançado e mostra que a fome tem se espalhado pelos centros urbanos.
“A situação do Brasil hoje é infinitamente mais complicada do que em 2003 [quando foi lançado o Fome Zero]. Do lado quantitativo, temos um número muito maior de pessoas passando fome. A fome em 2003 se concentrava no Nordeste e nos pequenos municípios do Nordeste. Era uma fome rural. O fato da fome ter se tornado urbana e ter se generalizado é um problema.”
Graziano afirma que o cenário revelou camadas adicionais à fome. Segundo ele, é possível dizer que há fome de não comer e fome de comer mal.
“Com a pandemia, o custo dos alimentos aumentou muito. E, com isso, aumentou a quantidade daqueles que precisaram substituir um alimento de qualidade por outro de má qualidade”, disse.
Buscando ampliar as iniciativas de combate à fome, o presidente Lula e o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, vão lançar nesta quinta-feira (31) um novo programa.
Batizada de “Brasil Sem Fome”, a iniciativa vai reunir 80 ações e prevê a mobilização da União, estados e municípios.
Serão três eixos:
acesso à renda, ao trabalho e à cidadania
promoção da alimentação adequada e saudável, da produção ao consumo
e mobilização para o combate à fome
A meta do plano é tirar o Brasil do Mapa da Fome até 2030. Além disso, prevê reduzir a menos de 5% o percentual de domicílios em situação de insegurança alimentar grave.
“A pobreza não é o problema de um presidente da República, é um problema do país inteiro. O sossego das pessoas, da classe média, da classe alta, depende do bem-estar, do bem viver, das pessoas mais pobres”, afirmou Wellington Dias.
Fonte: G1