A maquiadora goiana Sara Veiga, de 32 anos, desenvolveu um inovador círculo cromático para peles brasileiras
Ao longo dos anos, muitas pessoas encontraram na beleza uma forma de expressão e realização. É o caso da goiana Sara Veiga. Autista, a maquiadora de 32 anos revolucionou o mercado ao introduzir técnicas e conceitos que abriram portas para uma indústria mais diversa e acolhedora.
A expert não deixou seu diagnóstico de autismo virar um fator limitante. Especialista em colorimetria e visagismo, ela acumula mais de 12 anos de experiência na indústria da beleza e incontáveis realizações. Em conversa com o Metrópoles, a profissional conta que o seu amor pela área começou ainda na infância.
“Desde criança, eu gostava muito de cores e dos desenhos em papel. Fui evoluindo para tintas, até chegar na maquiagem. Eu me lembro que ganhei o meu primeiro batom com 6 anos. Para mim, a maquiagem é uma expressão artística”, diz.
A paixão de Sara pelo ramo da beleza foi aprofundada com o tempo, o que permitiu desenvolver uma visão sensível e apurada para as particularidades de cada cliente. Isso a ajudou a ter motivação para criar o revolucionário círculo cromático para as peles brasileiras, reconhecido em mais de 175 países.
Processo de criação
Prático, o círculo cromático é uma representação visual das cores que podem ser encontradas nas diferentes tonalidades de pele. O recurso tem sido usado para ajudar a identificar e combinar cores de maquiagem de forma harmoniosa, considerando os subtons e características individuais de cada pessoa.
Questionada sobre o desenvolvimento da ferramenta para peles brasileiras, Sara explica que a ideia surgiu em 2019, a partir das aulas ministradas sobre colorimetria para maquiadores profissionais e também iniciantes.
“Foi algo que aconteceu durante os cursos individuais que ensinava. Eu sempre tinha que representar todas as tonalidades de pele para o aluno entender. Um dia, pensei em facilitar esse processo e criar um círculo cromático, onde cada subtom e tonalidade ficaria na sequência correta”, conta.
De acordo com a maquiadora, a ferramenta é única e exclusiva para as peles brasileiras. Ela ainda afirma que, em menos de 10 segundos, é possível identificar qualquer subtom, seja em pele madura, negra, com melasma ou até mesmo com acne.
“O autismo é meu superpoder”
A experiência de trabalhar com maquiagem, ainda que com diagnóstico de autismo, apresenta vantagens únicas para Sara. Isso porque ela conseguiu ter mais concentração, o que contribuiu para ser referência entre os maquiadores no ensino da colorimetria, visagismo e coloração pessoal.
“O autismo é meu superpoder. Ele me trouxe o hiperfoco para o mundo das cores e, com isso, hoje eu sou colorimetrista com reconhecimento internacional”, relata, ao Metrópoles.
Em 2019, Sara foi premiada como melhor maquiadora do Estado de Goiás. Ela também ganhou outros reconhecimentos ao longo de sua carreira profissional, além de ter conquistado mais de 76 mil seguidores em dois perfis do Instagram, o @saraveigaacademy e o @saraveigamakeupoficial.
Desafios
Por outro lado, palestrar e lidar com centenas de pessoas eufóricas nos eventos de maquiagem é um grande desafio para a goiana. Outro fator que também compromete a sua vivência na área é o contato visual.
“Tive que aprender a olhar para as pessoas. Até hoje eu me sinto incomoda, mas eu me esforço bastante, pois sei que as pessoas valorizam isso”, afirma.
Em relação a eventuais problemas sensoriais durante o processo de maquiagem, Sara adota algumas estratégias que ajudam a garantir seu conforto. “Eu costumo usar a técnica de respiração para manter a calma e algumas vezes, eu uso tampão de ouvido bem discreto para controlar o sensorial.”
Inclusão e empoderamento
Além de sua função estética, a maquiagem assume responsabilidades importantes para promover a autoaceitação. No caso de Sara, as diferenças contribuem para ter uma maior compreensão da diversidade no mundo da beleza.
Foi na maquiagem, inclusive, que ela encontrou formas de celebrar sua individualidade. “O artista tem um papel fundamental em mostrar para o mundo como se enxerga a beleza das coisas, afinal, cada um tem uma visão do ‘belo’”, declara.
Sara ainda ressalta que a maquiagem permite a qualquer pessoa expressar os sentimentos e emoções, independente da cor da pele ou opções sexuais. Para ela, isso contribui para um mundo mais empoderado e inclusivo.
Fonte: Metrópoles