Medicina: sem internet, jovem consegue aprovação em universidade federal

Antônio Sousa precisou conciliar os estudos com o trabalho. Ele atuava como atendente em um mercado e ia todos os dias à casa do tio para assistir às aulas on-line

A dificuldade de conexão com o mundo virtual não impediu que Antônio Apolinário Sousa, 20 anos, realizasse seu sonho. Sem acesso à internet e estudando somente à noite e aos fins de semana, ele conquistou a aprovação em medicina. Nascido e criado no pequeno município de São Luís do Piauí (PI), com 2.561 habitantes, o jovem passou por muitos desafios até alcançar a vaga na Universidade Federal do Piauí (UFPI).

O futuro médico se formou no ensino médio na Unidade Escolar Antônio Pereira de Araújo durante a pandemia e, mesmo com todas as dificuldades do período, contou que nunca desistiu do objetivo que carregava desde criança. “O meu terceiro ano foi justamente na pandemia e foi uma confusão. Tinha a casa do meu tio com internet, então, todo dia, eu ia lá para ter aula”, disse Antônio.

Filho de agricultores, ele nutria o desejo de orgulhar seus pais com o diploma de medicina. Mas, ao terminar a escola, os desafios aumentaram: sua família não podia arcar com os cursinhos pré-vestibulares. Os estudos, então, seguiram por conta própria.

Além do esforço, a necessidade o fazia conciliar os livros com o trabalho: ele era atendente em um mercado. “Eu trabalhava e estudava ao mesmo tempo. Trabalhava de manhã e de tarde em um mercadinho, e, à noite, estudava. Também estudava nos fins de semana”, conta.

Para lidar com tantas atribuições, Antônio precisou se organizar. “Eu montei um cronograma. Ia dos conteúdos mais básicos até os mais avançados. Fazia questões e, nos finais de semana, assistia às aulas da secretaria de Educação (Seduc)”, disse o rapaz.

Aprovado pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) com a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ele usou cotas para a rede pública e na modalidade renda. Durante o processo dos estudos, o jovem participava de um grupo do Pré-Enem Seduc e recebeu um convite para trabalhar como monitor e corretor de redações, o que disse ter sido seu diferencial.

“Ser corretor me ajudou bastante, porque eu pude aprender a corrigir redação de outros. Além de ajudar outros estudantes, eu também aprendi mais. A redação se tornou um hobby para mim. Quanto mais eu corrigia, mais eu aprendia, então foi uma troca”, explicou.

Para superar os desafios e manter vivo o sonho da medicina, Antônio contou com um reforço especial: o apoio dos pais. “Foram dois longos anos. A gente até pensa em desistir às vezes, mas meus pais, amigos e irmãos sempre me motivaram bastante, o que me fortaleceu”, contou o piauiense.

E o momento da comemoração não poderia ter sido diferente. Quando recebeu a notícia de que havia sido aprovado, ele estava trabalhando como atendente em uma festa, mas deixou os afazeres de lado e saiu correndo para dar a notícia aos pais.

Almira Raimunda da Conceição, mãe do futuro médico, contou como foi receber a novidade. “No momento em que ele chegou para contar essa notícia boa, eu fiquei muito satisfeita. Agradeci a Deus e à Nossa Senhora por ter me dado uma bênção. Tenho muito orgulho de ser a mãe dele”, disse.

Antônio vai estudar na (UFPI) de Picos, município que fica a 42,6 km de São Luís. As aulas começam em 25 de setembro e ele pretende chegar um dia antes para se estabilizar. Ele planejou se mudar para a cidade e conta que, apesar do coração apertado, a família está entusiasmada com os novos caminhos.

Fonte: Correio Braziliense

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *