Mineradora canadense adquire direito de explorar ouro em Pirenópolis

Rover Critical Minerals adquire Projeto Aurífero em Pirenópolis por US$ 45 mil em royalties, o que equivale a cerca de R$ 251 mil

Moradores de Pirenópolis expressam preocupação com impactos ambientais do projeto de mineração | Foto: Ouro Câmbio

Um projeto de mineração de ouro está prestes a sair do papel em Pirenópolis, uma das cidades históricas mais visitadas de Goiás. A Rover Critical Minerals, companhia listada na Bolsa de Valores de Toronto (TSX Venture Exchange), anunciou oficialmente a aquisição integral do Projeto Aurífero de Pirenópolis, após cumprir todas as obrigações contratuais com a Solaris Geologia e Pesquisa Mineral Ltda.

O empreendimento abrange duas bacias hidrográficas paralelas e promete retomar a vocação mineral da região, que viveu uma corrida do ouro no século XVIII.  No entanto, o avanço repentino da iniciativa causou falta de comunicação: a Prefeitura de Pirenópolis afirma desconhecer qualquer autorização ou atividade de mineração na cidade. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que não há licença no nome da Rover Critical Minerals nem da Solaris Geologia e Pesquisa Mineral Ltda, que vendeu a área. “Havendo comprovação de atividade que cause impacto ambiental, a Semad procederá com a fiscalização”, afirmou a Secretaria do Meio Ambiente.

A declaração oficial da gestão municipal ao Jornal Opção foi direta: “Qualquer tipo de autorização para exploração de solo é dada pelo governo federal. Não estamos sabendo dessa informação. Não sabemos nem se essa informação é real, se ela é verídica. Em relação à exploração de solo, quem dá autorização para isso é o governo federal.”

Segundo apuração, até agora apenas a Agência Nacional de Mineração (ANM), autoridade competente para conceder direitos de pesquisa e lavra mineral, está formalmente informada sobre os trâmites do projeto. Ainda assim, a cidade, que poderá enfrentar impactos ambientais e sociais decorrentes de um empreendimento de grande escala em uma área historicamente protegida por sua biodiversidade e pelo turismo ecológico, permanece fora do circuito de decisões e comunicações da empresa estrangeira.

Além disso, os moradores da região já seguem preocupados com a possível degradação de ecossistemas sensíveis, como o Rio Dois Irmãos, uma das principais fontes de água cristalina da região. Para Cristiano Costa, guia de turismo local, a atuação da empresa estrangeira “deve ser vista com muita cautela”. Ele alerta que a mineração pode representar um “grande risco aos mananciais de água da área pretendida”, principalmente porque a atividade envolve “uso intensivo de água, construção de barragens e criação de grandes aterros de rejeitos”.

Segundo Cristiano, a proximidade da área de exploração com o Rio Dois Irmãos pode comprometer não apenas a qualidade da água, mas também a integridade do ecossistema. “Caso haja rompimento de barragens, pode haver contaminação das águas deste rio, acarretamento de rejeitos para dentro do leito e poluição sonora”, afirmou ao Jornal Opção. Apesar de reconhecer benefícios como a geração de empregos e o aumento de arrecadação municipal, o guia destaca que é preciso ponderar os custos ambientais e sociais. “Água potável valerá mais que ouro!”, enfatizou.

Já Mauro Cruz, também guia turístico em Pirenópolis, defende uma abordagem mais cautelosa e pede mais informações sobre o projeto. “Acho que ainda é cedo para ter algum ponto de vista. É preciso conhecer o projeto”, declarou. Segundo ele, a comunidade ainda não sabe detalhes como a localização exata da extração ou a dimensão da atividade planejada.

Projeto milionário avança com royalties e pagamento em ações

A Rover Critical Minerals investiu pesado para assumir o controle do projeto. A transação envolveu o pagamento de US$ 45 mil, a emissão de 5 milhões de ações e a concessão de royalties de 2% sobre a receita líquida à Solaris Geologia e Pesquisa Mineral Ltda., antiga detentora dos direitos da área. A companhia canadense ainda poderá adquirir 50% desses royalties por US$ 1 milhão.

Além disso, a Rover se comprometeu a realizar pagamentos adicionais de US$ 120 mil após a estimativa inicial dos recursos minerais e outros US$ 250 mil ao solicitar a concessão de lavra. Os pagamentos funcionarão como adiantamentos de royalties e estão atrelados ao avanço das etapas de exploração e licenciamento.

Impactos e promessas da empresa

De acordo com a Rover, testes preliminares identificaram teores de até 4,8 ppm em amostras de sedimentos e 0,8 g/t Au em material de quartzo. Esses dados motivaram a empresa a investir na próxima fase de amostragem, mapeamento e levantamento geofísico.

A companhia também destacou a infraestrutura favorável da região, situada em um raio de 25 km do centro de Pirenópolis, e que possui fácil acesso por estradas, energia elétrica instalada e presença de pedreiras próximas, como um dos fatores decisivos para avançar com a operação. 

Trata-se de um ativo de exploração greenfield, ou seja, sem histórico recente de mineração moderna, mas com registros de garimpos históricos nas nascentes do Rio Almas e em afluentes da região. A empresa observa que “as fontes de ouro aluvial de rocha dura de Pirenópolis e dos rios circundantes nunca foram localizadas” e que os processos secundários teriam concentrado o metal na superfície, permitindo a extração por garimpo hidráulico no passado.

Com sede no Canadá, a Rover busca expandir sua atuação no Brasil, onde enxerga “baixo custo de entrada e vasto potencial mineral”. Além do projeto em Pirenópolis, a empresa possui o projeto Cabin Gold, no Canadá, mas pretende focar seus recursos e operações no Brasil. O CEO da Rover, Nasim Tyab, afirmou que a empresa está “animada para prosseguir com a próxima fase de exploração nesta antiga área de corrida do ouro” e declarou que o objetivo é “repetir o sucesso similar ao Paracatu”.

A referência não é gratuita. Localizado a cerca de 275 km de distância, Paracatu abriga a maior operação de ouro da Kinross Gold no mundo. A Rover acredita que a geologia de Pirenópolis apresenta semelhanças com a da mina mineira, incluindo formações de xisto com veios de quartzo, alterações de sericita e presença de pirita, sinais típicos de depósitos do tipo orogênico. 

Segundo a companhia, os próximos passos incluem mapeamento detalhado das drenagens, amostragem sistemática do solo e prospecção geoquímica e geofísica em áreas com maior potencial. Caso os resultados continuem favoráveis, a Rover prevê a realização de um programa de perfuração para confirmar a viabilidade comercial da jazida.

O estado de Goiás ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de produção mineral e atrai cada vez mais empresas internacionais interessadas na riqueza do subsolo brasileiro. Além do projeto de Pirenópolis, outras minas na região incluem Serra Grande (AngloGold Ashanti), Chapada (Lundin Mining) e o complexo Pilar Gold, composto por quatro operações em andamento.

FONTE : JORNAL OPÇÃO

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