Presidente havia sinalizado em 2024 que ministro teria de sair se fosse denunciado em caso de desvio de emendas

Foto: Divulgação/Ministério das Comunicações
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), entregou o cargo nesta terça-feira (9), após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob suspeita de corrupção passiva e outros crimes. A saída do ministro ocorre em meio à pressão crescente sobre o governo Lula (PT) e marca a primeira baixa por escândalo de corrupção no terceiro mandato do petista.
Juscelino, que é deputado federal licenciado pelo União Brasil do Maranhão, anunciou sua decisão por meio de uma carta divulgada no início da noite. Pouco antes, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) informou que Lula havia ligado para ele no início da tarde e solicitado que deixasse o posto para se dedicar à própria defesa.
O presidente já havia indicado, em 2023, que afastaria Juscelino Filho caso ele fosse denunciado pela PGR — o que se concretizou agora. Essa é a sétima troca no ministério desde o início do governo, mas a primeira motivada por denúncias criminais.
A denúncia contra o agora ex-ministro está sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF) e é relatada pelo ministro Flávio Dino. Caberá à Corte decidir se aceita a acusação e transforma Juscelino em réu.
A expectativa entre aliados do governo é de que a saída do ministro destrave as negociações para a reforma ministerial, especialmente no União Brasil, partido com a terceira maior bancada na Câmara. O mais cotado para assumir o cargo é o líder da sigla na Casa, deputado Pedro Lucas Fernandes (MA), que rivaliza com Juscelino Filho no Maranhão.
O processo que motivou a saída do ministro envolve suspeitas de desvio de emendas parlamentares destinadas a obras de pavimentação em Vitorino Freire (MA), cidade administrada por Luanna Rezende, irmã de Juscelino. A Polícia Federal aponta que ele teria atuado junto a empresários e empresas de fachada para beneficiar propriedades de sua família com dinheiro público da Codevasf, estatal federal.
Entre as evidências, estão mensagens encontradas no celular do empresário Eduardo DP, preso na operação Odoacro. Os diálogos indicam que Juscelino negociava a execução de obras e o envio de recursos via emendas parlamentares.
Segundo a PF, os desvios teriam ocorrido por meio da contratação de empresas ligadas a aliados e ex-assessores do ministro. Uma delas, a Arco, chegou a recuperar a estrada que dá acesso à fazenda da família de Juscelino Filho — serviço bancado com recursos públicos.
Em sua carta de renúncia, Juscelino negou todas as acusações e afirmou que sua decisão visa proteger o governo. “Deixo o cargo para preservar o projeto de país que ajudamos a construir e em que sigo acreditando”, escreveu. Ele classificou a saída como “uma das decisões mais difíceis da minha trajetória pública”.
Agora, caberá a Lula definir o novo nome para a pasta das Comunicações, enquanto o União Brasil tenta evitar que a disputa interna pelo comando da sigla se intensifique com a possível nomeação de Pedro Lucas. O cenário político segue em ebulição em Brasília.
FONTE: MAIS GOIÁS