Kleyton Manoel Dias nega as acusações. Miss conseguiu medida protetiva contra o delegado e ele foi afastado das funções.
A miss trans que denunciou ter sido estuprada pelo delegado Kleyton Manoel Dias escreveu, em uma carta aberta publicada nas redes sociais, o que a fez criar coragem de denunciar o caso. Segundo ela, o próprio vídeo de apresentação que gravou antes do crime para um concurso de beleza a encorajou a não ficar em silêncio e buscar ajuda. O suspeito nega as acusações.
“Eu estava gravando meu vídeo de apresentação do concurso de beleza que irei participar e levantando além da bandeira trans, a do empoderamento e sororidade. Estava incentivando mulheres a fazerem isso [denunciar] e eu mesma não iria fazer? Que tipo de influenciadora eu seria se pregasse algo antes e fugisse? Isso me deu força”, questionou a miss.
Na sexta-feira (5), após o crime que aconteceu durante a madrugada daquele dia, a miss conseguiu uma medida protetiva contra o delegado e, no sábado (6), ele foi afastado das funções e passará a trabalhar em uma unidade administrativa.
Ao g1, o delegado disse, em nota, que repudia as acusações e que se coloca à disposição das autoridades na investigação do caso. Além disso, disse que “irá provar sua inocência” e que está “muito abalado com o ocorrido” (veja a nota completa ao fim da reportagem).
Em nota, a Polícia Civil informou que, assim que tomou conhecimento do caso, adotou todas as medidas necessárias para seu esclarecimento, sendo o fato investigado pela Delegacia da Mulher (Deaem) com auxílio e acompanhamento da Corregedoria.
Denúncia
A vítima afirma que o abuso aconteceu na madrugada de sexta-feira (5), quando ela teria ido à festa de um jornalista, que fechou uma boate em Goiânia. Segundo ela, na ocasião, o delegado era um dos convidados e, ao final da festa, o investigado ofereceu carona para ela e para outra mulher. Primeiro, Kleyton teria deixado a outra mulher em casa e, depois, seguido em direção à casa da vítima.
Ela afirma que, em determinado momento, ele a levou até o porta-malas, onde a abusou sexualmente. Na sequência, a deixou em casa, no Setor Jaó. Imagens de câmeras de segurança mostram um carro na porta da casa da vítima e o momento em que ela deixa o veículo, completamente nua
A mulher divide casa com o amigo Ricardo Amaral Dias. À TV Anhanguera, ele contou que ela chegou em casa dopada e bastante ferida. Ele chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a vítima foi levada para um hospital, onde recebeu atendimento médico.
Ricardo ainda afirmou que a vítima relatou ter sido ameaçada pelo delegado. Pela manhã, ela ainda ligou para o jornalista para contar sobre o caso e foi aconselhada a não denunciar o crime, por conta da influência do delegado. O amigo Ricardo foi quem a incentivou a procurar justiça. O jornalista deverá ser ouvido pela polícia.
Após a denúncia, a miss contou em uma carta aberta em suas redes sociais que teve medo e vergonha de prestar queixa contra o suspeito, detalhando ter passado o dia após o crime assustada. Segundo a carta, ela não queria “ser taxada como mentirosa” ou que as pessoas “a vissem como vítima”. Em um vídeo enviado à TV Anhanguera, ela pediu justiça.
“Nesse momento a única coisa que eu espero é que a justiça seja feita, porque mulheres como eu sempre são silenciadas, mas nesse caso eu espero contar com o apoio de todo mundo”, disse a miss.
Medida protetiva
A miss trans conseguiu uma medida protetiva na sexta-feira (5) que obriga o delegado a manter distância dela e de sua família. A decisão da medida protetiva foi dada pelo juiz plantonista Thiago Soares Castelliano Lucena de Castro e foi obtida pela TV Anhanguera. No documento emitido pelo TJGO, em que a miss conseguiu a medida protetiva, o juiz determinou que o delegado:
- permaneça a uma distância mínima de 300 metros da miss e de seus familiares, sem qualquer tentativa de aproximação;
- não entre em contato com a miss ou seus familiares por qualquer meio de comunicação (telefone, WhatsApp, e-mail e outros);
- não frequente os mesmos locais que a miss;
Nota da Polícia Civil:
“A Polícia Civil de Goiás informa que, assim que tomou conhecimento do fato, adotou todas as medidas necessárias para seu esclarecimento, sendo o caso investigado pela Delegacia da Mulher (Deaem) com auxílio e acompanhamento da Corregedoria.”
Nota do delegado Kleyton Manoel:
“De início, repudia veementemente as acusações e se coloca à inteira disposição das autoridades nas investigações que apuram o caso.
Informa que ainda não foi ouvido no inquérito que investiga o suposto estupro. Irá provar a sua inocência e neste momento está muito abalado com o ocorrido, cuidando de sua família, esposa e filho.
Por fim, pede encarecidamente a todos cautela nas conclusões precipitadas, que aguardem as conclusões das investigações no esclarecimento dos fatos, que ao final irá demonstrar a sua inocência.”
Fonte: G1 GOIÁS