Mulher fica com rosto deformado após procedimento que custou R$ 1 mil

Quatro vítimas registraram ocorrência contra suposta biomédica, que divulgava procedimentos estéticos nas redes sociais, em Santa Catarina

Arquivo pessoal

Há cerca de quatro meses, Giezica Muller encontrou o perfil, em uma rede social, de uma mulher que se dizia biomédica em São José, na Grande Florianópolis, Santa Catarina. Ao ver avaliações e resultados positivos publicados no perfil, Giezica decidiu fazer um procedimento estético nos glúteos com a profissional. A vida dela, no entanto, mudou completamente a partir da primeira aplicação de ácido hialurônico.

Giezica é uma das quatro mulheres que registraram boletins de ocorrência contra a suposta biomédica, após procedimentos que deram errado e originaram um inquérito policial para investigar o caso. De acordo com a Polícia Civil, as vítimas serão ouvidas em breve. Nesta terça-feira (29/7), o Conselho Regional de Biomedicina da 5° Região afirmou que a suspeita não tem registro profissional.

Giezica conta que desde a primeira aplicação de ácido hialurônico para preencher os glúteos, sentiu reações, como febre e coceira no local. Segundo ela, a suposta biomédica cobrou cerca de R$ 500 para preencher cada lado. Depois de ver que o procedimento deu errado, no entanto, a mulher ofereceu outra técnica, com aplicação de plasma.

Foi nesse momento que ela começou a desconfiar. Isso porque o procedimento com plasma envolve a coleta de sangue do paciente e, segundo Giezica, a falsa biomédica errou quatro vezes ao tentar coletar. Giezica é técnica de enfermagem e decidiu ela mesma tirar o próprio sangue, mas chegou a questionar a situação:

— Ela disse para mim que ela tinha uma técnica de enfermagem que trabalhava com ela, só que ela não estava ali para fazer isso naquele momento. Quando ela errou, eu falei: ‘essa aula tu faltou, né?”, brincando — lembra.

Depois disso, Giezica percebeu que teve as nádegas deformadas com manchas e sentia dor frequentemente, além de sentir febre, mas nunca procurou ajuda médica.

— Eu sempre achava que isso tudo era o meu corpo rejeitando. Não acreditava que poderia ter sido algo errado dela, porque era tão maravilhoso o trabalho dela, eu achava que poderia ser o meu corpo, só que não era. Quando eu fiz ultrassom, viram a quantidade de bactérias que tinha ali dentro, que não era culpa do meu corpo — explica.

Foi quando a vítima resolveu voltar a procurar a falsa biomédica para tirar satisfação. Nesse meio tempo, a técnica de enfermagem começou a publicar nas redes sociais sobre o assunto e, assim, outras mulheres começaram a entrar em contato com ela. Segundo ela, pelo menos 27 mulheres sofreram algum tipo de lesão em procedimentos feitos com a suposta profissional.

Ela chegou a ficar internada por uma semana, com médicos avaliando formas de amenizar os impactos do procedimento. Giezica diz que está se sentindo um “rato de laboratório” e que, assim que saiu do hospital, buscou novamente contato com a mulher, mas não conseguiu.

Agora, ela está com uma cirurgia marcada para tentar reverter a infecção no local do procedimento feito.

Outras vítimas afetadas pelo procedimento

Em atendimento em outro hospital, a técnica de enfermagem encontrou mulheres que tiveram outras partes do corpo afetadas, como a boca e o rosto. Laura de Oliveira, de 23 anos, foi uma das vítimas que realizou um peeling químico — técnica para remoção das camadas superficiais da pele para estimular a renovação celular — e teve problemas em seguida.

Segundo ela, o procedimento foi feito em meados de maio e, depois de dois dias, começou a sentir muita ardência e vermelhidão no rosto. Ela conta que às vezes não conseguia dormir por conta da dor, mas que a mulher dizia que era normal.

Vitória Tavares, de 19 anos, também fez procedimentos com a suposta biomédica que deram errado. Ela conta que fez preenchimento na boca, no queixo e rinomodelação em março, após conhecer a mulher em um local que ela considerava de confiança, onde ela já fazia serviços no cabelo e também nas redes sociais, onde acompanhava o trabalho da mulher que se dizia profissional.

Ela afirma que, na época, conseguiu uma promoção referente ao Dia da Mulher e pagou R$ 1 mil no preenchimento de boca. Minutos depois do procedimento, a boca de Vitória começou a inchar. Naquele momento, segundo ela, ela não recebeu indicação de medicamentos, apenas de compressa de gelo. A jovem diz que, naquele momento, o inchaço começou a diminuir, mas no dia seguinte, quando acordou, a boca estava novamente inchada.

A suposta biomédica a receitou, então, um medicamento, e disse para Vitória parar de tomá-lo apenas quando o inchaço diminuísse. O remédio não resolveu e Vitória ficou inchada por quatro meses e meio, segundo o relato.

Certo dia, ela precisou ir para uma Unidade de Pronto Atendimento e, lá, a médica que a atendeu afirmou que o inchaço era decorrente do procedimento. Depois disso, ela precisou se consultar com outros especialistas para a retirada do produto de seu rosto.

De acordo com Vitória, a falsa biomédica dizia que ela era a única paciente que tinha relatado esse tipo de efeito adverso. Porém, ela encontrou o relato de Giezica e percebeu que não estava sozinha.

O que diz o Conselho Regional de Biomedicina 5

Em nota, o Conselho Regional de Biomedicina da 5ª Região, com jurisdição nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, informou que a falsa biomédica não possui registro profissional junto ao conselho.

Veja nota completa

“Recebemos denúncias referentes ao possível exercício ilegal da profissão de biomédica, as quais foram apuradas por meio do protocolo de fiscalização e estão sendo encaminhadas aos órgãos competentes para as providências cabíveis.

Reforçamos que para atuar nessa área, existe um processo criterioso de inclusão de habilitação, e somente o profissional biomédico com habilitação em Biomedicina Estética registrada no seu respectivo Regional está apto a realizar os procedimentos estéticos dentro dos limites estabelecidos pela regulamentação citada acima”, finalizou a nota.

FONTE : METROPOLES

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