Marjorie Chaves, da UnB, destacou a importância do recorte de raça no debate sobre o feminicício. Para a assessora da ONU Mulheres, Wânia Pasinato, é preciso que elas se reconheçam como sujeitos de direito.
A importante discussão provocada, ontem, pelo Correio Debate, avaliou o feminicídio a partir da perspectiva de gênero. No entanto, a coordenadora do Observatório Pop Negra da Universidade de Brasília (UnB), Marjorie Chaves, lançou luz para o recorte de raça, quando o assunto é a morte de mulheres em razão do gênero, durante o painel Redes de Apoio contra a violência: educar para transformar.
A especialista chamou a atenção para a presença de mulheres negras no evento. “Se a gente está falando de uma realidade brasileira, em que as mulheres negras são a maioria entre as assassinadas, às vezes eu sinto que estão falando da gente sem a gente”, avalia.
Ela relembrou um episódio em que sofreu injúria racial ao tentar intervir em uma briga em que um homem agredia uma mulher na rua, aqui em Brasília. “A violência doméstica é um dos caminhos para o feminicídio, mas não só isso. Mulheres são alvo de violência também nas ruas. Temos as leis Maria da Penha e a do feminicídio, mas elas não abordam as realidades das mulheres negras”, constatou.
Marjorie sustenta que o problema da violência não atinge todas da mesma forma. “Para as mulheres negras, incorre de elas vivenciarem uma experiência com o racismo, que acaba sendo um fator determinante para que as mulheres negras sejam maioria entre as vítimas de feminicídios e de outros tipos de homicídios, no Brasil. São vítimas, em sua maioria, moradoras de favelas, trabalhadoras precárias e que têm uma dificuldade muito grande de acessar os instrumentos legais de proteção”, aponta.
O feminicídio, na opinião da especialista, é “democrático”, pois atinge mulheres de diferentes extratos sociais. Mas, ela destaca que a forma como a denúncia de uma vítima de violência é recebida pelo poder público é determinante para o futuro dessa mulher. “Muitas vezes, a fala da mulher negra é deslegitimada nesse momento”, denuncia.
Marjorie entende que tanto a lei de feminicídio quanto a Maria da Penha e todas as políticas que se desdobram do instrumento legal não falam da questão racial. “Em nenhuma das duas é colocado o racismo como fator de violência, de algo que pode provocar ou incitar ou incidir na forma com a qual aquela mulher é assassinada”, explica. “Existem instrumentos legais e políticas públicas que estão alcançando principalmente as mulheres brancas, mas isso não tem trazido nenhum benefício para as mulheres negras”, avalia.
Fonte: Correio Braziliense