Governador Ronaldo Caiado sustenta decisão em nome da autonomia estadual e segurança pública, enquanto enfrenta críticas por atuação da PM em hospital – Foto Hegon Correa / Secom Goiás
O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) reafirmou, em entrevistas recentes, sua determinação em não adotar câmeras corporais para policiais em Goiás, mesmo diante da mudança de posicionamento de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e da repercussão de casos polêmicos envolvendo a Polícia Militar de Goiás. A declaração foi dada na última sexta-feira (6) à CNN Brasil e reiterada no sábado (7), em Itu (SP), durante um evento sobre agronegócio.
O uso de câmeras por forças de segurança foi abordado em reportagem do Fantástico da Tv Globo no domingo (8), face ao caso do PM paulista filmado por cidadãos jogando um motociclista do alto de uma ponte. As imagens foram decisivas para que o governador de SP mudasse de opinião, confrontado pela opinião pública chocada com o flagrante.
Caiado, que é potencial adversário de Tarcísio nas eleições presidenciais de 2026, demonstrou respeito à reconsideração do governador paulista, mas deixou claro que sua postura permanece inalterada. “Sou governador de estado, fui eleito pelo meu povo. Não vou botar câmera em policial meu de maneira alguma”, afirmou na entrevista à CNN. Ele reforçou o discurso ao citar os baixos índices de criminalidade no estado como justificativa para sua posição.
O contraste entre os dois governadores, ambos cotados como presidenciáveis pela direita, tornou-se ainda mais evidente após a decisão de Tarcísio de adotar as câmeras em São Paulo, influenciada por sucessivos casos de violência policial. “Estou absolutamente convencido de que [as câmeras] são um instrumento de proteção da sociedade e do policial”, afirmou o paulista. Caiado, porém, insiste que a segurança pública em Goiás não depende da tecnologia, e que sua autonomia como governador é prioridade.
Caso de violência em hospital desafia narrativa de Caiado
A posição de Caiado foi questionada à medida que emergiram críticas à atuação da Polícia Militar de Goiás no Hospital e Maternidade Célia Câmara, em Goiânia. Na sexta-feira, o mesmo dia da entrevista do governador à CNN, vídeos gravados por testemunhas e câmeras internas do hospital mostraram policiais usando o que foi visto como força excessiva durante a prisão de dois funcionários. Um maqueiro foi algemado após ser contido com uma gravata, enquanto uma enfermeira foi puxada pelo braço por outro policial.
A confusão teria começado quando o marido de uma gestante, alegando omissão de socorro, acionou a polícia. Segundo a corporação, os funcionários foram detidos por “desobediência e resistência”. A ausência de câmeras corporais nos uniformes dos PMs deixou as imagens de celulares e do circuito interno como as únicas fontes de contexto para o episódio, expondo as limitações da política defendida por Caiado.
Mesmo diante desse caso, que repercutiu amplamente nas redes sociais, o governador manteve sua opinião. No sábado (7), em Itu, ele reafirmou que não pretende adotar o uso de câmeras e criticou o que chamou de “concentração de poder” da União em temas de segurança pública. “Cada governo conhece sua realidade e a melhor forma de ação”, argumentou, defendendo a autonomia estadual.
Repercussão nacional e disputa de narrativas
O embate sobre câmeras corporais tem implicações que vão além da segurança pública. A postura de Caiado é vista como um ponto de diferenciação em relação a Tarcísio, enquanto ambos buscam se consolidar como lideranças de direita. Durante o evento em Itu, mediado por Caio Coppola, comentarista de política considerado bolsonarista raiz, com a participação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), Caiado destacou o sucesso de Goiás em áreas como segurança e educação, reiterando a independência de sua gestão.
No entanto, os episódios envolvendo a PM goiana – em especial o mais recente, na sexta e outro anterior, relativo à morte de suspeitos por policiais do Comando de Operações de Divisas (COD) que foi filmado por uma das próprias vítimas enquanto eram mortas sem chances de defesa – , revelam tensões sobre como a falta de monitoramento pode dificultar a transparência em abordagens policiais. Especialistas sugerem que as câmeras poderiam prevenir ou minimizar casos como o do hospital, enquanto garantiriam a proteção de agentes e cidadãos.
Com o aumento do debate sobre o tema, a estratégia de Caiado parece ser reforçar sua base política dentro da direita e especialmente em Goiás, onde pesquisas indicam que a segurança pública tem aprovação de 89% da população. O desfecho da polêmica poderá influenciar a narrativa de ambos os governadores nos próximos anos diante de um cenário de disputa nacional.
Texto: Marília Assunção
Foto: Hegon Correa / Secom Goiás