Ante a gravidade dos planos revelados, governador defende punição aos mentores em separado à “massa de manobra” segundo ele, para haver “pacificação”; Bolsonaro e dezenas serão indiciados nesta quinta, informa O Globo
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), manifestou repúdio ao plano golpista revelado pela Polícia Federal esta semana. Nesta quinta-feira (21) a PF conclui o inquérito indiciando o ex-presidente Jair Bolsonaro, o candidato a vice dele em 2022, general Braga Neto, e até o presidente do PL, Waldermar da Costa Neto, entre dezenas de investigados, conforme noticiou com exclusividade a comentarista Míriam Leitão do jornal O Globo.
A operação da PL, denominada Contragolpe, desarticulou uma organização criminosa que planejava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022, incluindo propostas extremas como o assassinato do presidente, do vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em entrevista na noite de terça, Caiado classificou os atos como inaceitáveis. E reforçou a importância do respeito à democracia, embora sua posição anterior fosse mais favorável à anistia de envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, e ele, inclusive, tenha participado de manifestações em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que é ligado aos golpistas e está sendo investigado.
“Eu jamais imaginei que situações como essa fossem propostas. O ganhar e perder na eleição é normal, mas o respeito à democracia está acima de tudo”, afirmou o governador, destacando que a política deve ocorrer dentro dos limites da civilidade. O Governador defendeu que sejam identificados os mentores do plano golpista e que sejam punidos de forma exemplar, como algo crucial para consolidar a democracia brasileira.
Anistia seletiva
Apesar da indignação com as revelações recentes, Caiado reiterou a necessidade de diferenciar entre os mentores e os cidadãos que na visão dele foram usados como “massa de manobra” em atos criminosos. “Essas pessoas precisam de uma punição educativa, mas aqueles que foram manipulados podem ter penas mais brandas, permitindo um processo de pacificação”, defendeu. A postura contrasta com sua defesa anterior de anistia a participantes dos atos antidemocráticos em Brasília, quando argumentou que o momento exigia reconciliação nacional.
O governador expressou preocupação com a polarização política no Brasil, que, segundo ele, ameaça a estabilidade democrática. “O Brasil não suporta mais viver como está. A política polarizada não levará o país à civilidade nem a um futuro melhor”, destacou. Ele também criticou o ambiente extremado que domina o debate público e apelou por um esforço coletivo para construir um diálogo político mais equilibrado.
Ao ser questionado sobre a responsabilidade nos planos golpistas do ex-presidente Jair Bolsonaro – de que se afastou nas eleições municipais de outubro -, Caiado evitou prejulgamentos, afirmando que cabe ao Judiciário apurar e punir os responsáveis. “Os fatos estão aí, e as consequências virão. Devemos aguardar as decisões judiciais sem prejulgar ninguém”, enfatizou.
Para Caiado, a fragilidade da inteligência governamental foi evidente. “Se você tem alguém nas redes sociais ameaçando e nada é feito, isso é omissão. Essa situação, nos Estados Unidos, seria tratada com seriedade e rapidez”, disse. Ele reforçou a necessidade de uma repressão rigorosa a atos que ameaçam a ordem democrática, ressaltando que a aplicação da lei é fundamental para coibir tais práticas no futuro.
A relação de Caiado com a defesa da anistia aos envolvidos no ataque ao Congresso e em atos antidemocráticos continua a gerar controvérsia. Na última semana, ele atribuiu os episódios de 8 de janeiro à “incompetência política” e minimizou a responsabilização dos participantes diretos, postura que agora parece contrariar sua ênfase na importância de punir os responsáveis pelos novos planos golpistas revelados.
Olho em 2026
Pré-candidato declarado às eleições presidenciais de 2026, o governador afirmou: “Esse fato me preocupou por mostrar o Brasil em maior turbulência política e sem capacidade de atender as demandas dos 200 milhões de brasileiros. Precisamos evitar que outra eleição seja polarizada ao nível de violência que vivemos”, ponderou, reconhecendo a urgência de desarmar os extremos do debate político.
Texto: Marília Assunção
Foto: Secom Goiás