Presidente da Apae de Anápolis, Vanderley Cezario é indiciado por estelionato

À época diretor-presidente do Sicoob, Vanderley apareceu no inquérito em razão de sua atuação no comitê de crédito da cooperativa

Vanderley Cezario é atual presidente da APAE Anápolis | Foto: Reprodução

A Polícia Civil de Goiás indiciou o presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Anápolis, Vanderley Cezário de Lima, pelo crime de estelionato. O inquérito, concluído em agosto deste ano pela 4ª Delegacia Distrital de Goiânia, não tem relação com a associação, mas apurou a suposta participação do dirigente em uma operação bancária que teria contribuído para a alienação fraudulenta de imóveis em um esquema milionário de golpes envolvendo o empresário Thiago da Matta Fagundes.

O caso foi remetido ao Poder Judiciário e aguarda manifestação do Ministério Público. A reportagem tentou contato com Vanderley Cezario, mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição.

A investigação teve início em dezembro de 2023, após Fabiano Alves Tavares comunicar à Polícia Civil que havia firmado contrato para a compra de três glebas de terra em Porangatu, município goiano. De acordo com o relato, os proprietários prometeram transferir a posse e, posteriormente, a propriedade dos imóveis, mediante a quitação de dívidas existentes junto ao Sicoob, instituição financeira cooperativa.

Fabiano afirmou ter pago R$ 6,9 milhões a Thiago da Matta Fagundes, acreditando que o valor seria usado para quitar os débitos vinculados às propriedades. No entanto, descobriu posteriormente que, em vez de liquidar as dívidas, Thiago teria renegociado o débito junto ao Sicoob, emitindo um novo crédito bancário no valor de R$ 14 milhões. Como garantia dessa operação, o investigado teria utilizado os mesmos imóveis já vendidos à vítima, os quais, inclusive, já haviam tido a posse transmitida por escritura pública.

A manobra financeira manteve as propriedades oneradas com dívidas bancárias, impossibilitando o registro definitivo da compra e venda em nome de Fabiano. Sentindo-se lesado, ele representou criminalmente contra Thiago da Matta.

Esquema e núcleos investigados

Segundo a Polícia Civil, Thiago liderava um esquema complexo de estelionato e lavagem de capitais, que funcionava por meio de divisão de tarefas entre familiares e intermediários, com o uso de testas de ferro. Essas pessoas teriam concedido procurações amplas a Thiago, permitindo que ele abrisse contas, firmasse contratos e obtivesse empréstimos em seus nomes, sem controle efetivo sobre as operações.

Uma das empresas utilizadas no esquema, a TMF Agronegócio Ltda., servia como “empresa de passagem” para receber e dissimular R$ 2,62 milhões oriundos das fraudes.

Envolvimento de Vanderley Cezario de Lima

O nome de Vanderley Cezario de Lima, atual presidente da APAE de Anápolis e à época diretor-presidente do Sicoob, surgiu no inquérito em razão de sua atuação no Comitê de Crédito da cooperativa. O relatório policial aponta que Vanderley aprovou a renegociação da dívida que resultou na reoneração indevida dos bens vendidos à vítima, contribuindo para a manutenção do golpe.

De acordo com a Polícia Civil, as declarações de Vanderley e de outros diretores do Sicoob indicam que o banco tinha ciência das negociações envolvendo a Fazenda Cana Brava, um dos imóveis vendidos por Thiago, e participou ativamente da estruturação contratual que permitiu o uso dos bens como garantia da nova operação de crédito – em prejuízo direto a Fabiano Alves Tavares.

A reportagem também entrou em contato com o Sicoob sobre o caso e aguarda retorno.

Depoimento e defesa

Em depoimento prestado em abril de 2025, Vanderley Cezario afirmou ter visto Thiago apenas uma vez, durante as tratativas para a venda da Fazenda Cana Brava. Ele declarou não participar diretamente de negociações com clientes, embora tenha confirmado que Thiago era cooperado do Sicoob e possuía um contrato de crédito no valor de R$ 15 milhões, garantido por propriedades rurais.

Vanderley negou ter conhecimento da venda do imóvel a Fabiano, alegando que o Comitê de Crédito atua apenas com base em informações registradas no sistema bancário, e que, no momento da renegociação, não havia registro formal da transação.

Confrontado com extratos e documentos, no entanto, o presidente da Apae admitiu a existência de transferências financeiras: um crédito de R$ 6,9 milhões feito por Fabiano na conta de Thiago, seguido de um débito de R$ 6,8 milhões correspondente à amortização de uma cédula de crédito anterior. Em seguida, foi firmada nova operação de R$ 14 milhões, que acabou reonerando os imóveis sem o consentimento do comprador.

Ele explicou que não foi possível estornar o débito e que a solução encontrada foi liberar um novo crédito de R$ 5,8 milhões em favor de Thiago, valor menor que o original. Vanderley sustentou que houve uma negociação interna de ajuste, sem intenção de causar prejuízo.

Contudo, o relatório da Polícia Civil descreve o depoimento como contraditório e indica que as ações do dirigente foram incompatíveis com os deveres de diligência e transparência esperados de um agente bancário. Para os investigadores, a atuação de Vanderley configurou cooperação direta com as práticas fraudulentas de Thiago da Matta, ao permitir o uso de recursos de Fabiano para amortizar dívidas e, simultaneamente, reonerar bens já alienados.

O documento conclui que não há espaço para a tese de desconhecimento por parte dos diretores do Sicoob, uma vez que as operações foram realizadas de forma consciente e estruturada.

FONTE : JORNAL OPÇÃO

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