Na manhã de ontem (26), o Terra da Gente publicou uma matéria sobre o único peixe com pulmão que existe no Brasil, a piramboia (Lepidosiren paradoxa). A história repercutiu nas redes sociais e causou vários questionamentos entre os nossos leitores sobre a forma como o pirarucu (Arapaima gigas), a tuvira (Gymnotus carapo), o bagre-africano (Clarias gariepinus) e tantas outras espécies, respiram.
A diferença está no órgão que auxilia esses peixes a se manterem vivos em períodos de seca. Muitos perguntaram se o pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do planeta, tem pulmão. Nativo da Amazônia, a espécie desenvolveu um sistema respiratório duplo que permite sobreviver em períodos de baixo nível da água.
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Pirarucu possui bexiga natatória que permite respirar ar atmosférico em períodos de seca — Foto: Exploradores de Bogotá/iNaturalist
No entanto, ao contrário da piramboia que respira a maior parte do tempo por pulmões, o pirarucu continua respirando por brânquias, como é comum dos peixes, porém tem uma bexiga natatória (ou vesícula gasosa) modificada que funciona como “pulmão” quando ele sai da água, mas que não é um pulmão de fato.
“Além do pirarucu, temos outros exemplos como a tuvira e o bagre africano, que não podem ser classificados como peixes pulmonados. Eles possuem respiração aérea acessória que permite que respirem ar atmosférico, mas não são pulmões verdadeiros”, explica o professor Domingos Garrone, coordenador do Laboratório de Ictiologia e Conservação de Peixes Neotropicais.
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Bagre-africano foi introduzido no Brasil em meado da década de 1980 — Foto: Pedram Türkoğlu/iNaturalist
Segundo ele, pulmonados são somente os peixes sarcopterígeos, aqueles com nadadeiras lobadas, grupo o qual a piramboia faz parte. “Já o pirarucu e tantos outros que são confundidos são actinopterígeos, ou seja, possuem nadadeira raiada, o que demonstra uma distância gigante em termo de evolução”.
Se pensarmos em evolução, devemos observar que os pulmões são muito mais primitivos nos peixes do que a bexiga natatória, que veio a ser desenvolvida justamente pelas necessidades
— Domingos Garrone, especialista em peixes.
Ainda de acordo com o pesquisador, o que a piramboia tem é uma expansão do trato digestivo com várias paredes extremamente vascularizadas que fazem com que o sangue circule e capture oxigênio da atmosfera. A espécie não possui bexiga natatória como o pirarucu, por exemplo.
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Piramboia não possui bexiga natatória como o pirarucu, apenas pulmões — Foto: Sadam Toro/iNaturalist
“Por outro lado, a bexiga natatória consiste em paredes flexíveis que se expandem ou contraem de acordo com a pressão e que possuem poucos vasos sanguíneos”, pontua o especialista.
Como explicamos anteriormente, a piramboia pode ficar por cerca de 6 meses longe da água, enquanto o pirarucu precisa intercalar de 15 a 30 minutos a sua subida à superfície para respirar oxigênio para não se afogar e morrer. Isso se dá por conta de seu corpo grande, o que torna as brânquias insuficientes para oxigenar o corpo.
Fonte: G1