Enquanto Companhia de Saneamento cresce nas mãos do governo estadual, distribuição de energia em Goiás tem a pior nota nacional
Fachadas da Saneago e da antiga Celg. | Foto: Divulgação.
Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum ouvirmos debates acalorados sobre a privatização de empresas públicas que prestam serviços essenciais à população, como distribuição de água e energia. No entanto, é fundamental analisarmos os impactos sociais, econômicos e ambientais de tal medida antes de simplesmente aderirmos à ideia de privatização. Em Goiás, dois casos completamente opostos ilustram bem este cenário.
Enquanto a distribuição de água o saneamento básico são feitos com excelência pela Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago), a distribuição de energia, que tinha a expectativa de melhora após a venda da Companhia Energética de Goiás (CELG) em 2017, vem deixando a desejar desde então. A gestão da Enel, que terminou em 2022, foi um verdadeiro fiasco.
Agora os goianos também enfrentam problemas com a Equatorial, que recentemente ficou no último lugar no ranking de eficiência energética de todo o país. A empresa ficou em último lugar dentre 29 companhias, em ranking divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) com o resultado do serviço prestado em 2023. De acordo com a Aneel, os consumidores goianos passaram em média 21,96 horas sem fornecimento de energia no ano passado. Por nota, a concessionária disse que os serviços melhoraram em relação a 2022. (Confira íntegra no final do texto).
O caso da CELG oferece uma lição valiosa sobre os perigos da privatização desenfreada. A empresa estatal era responsável pelo fornecimento de energia elétrica em Goiás e passou por um processo de privatização controverso. Antes de sua venda, a empresa enfrentava uma série de desafios, incluindo problemas de eficiência operacional e qualidade dos serviços. No entanto, a privatização não foi necessariamente a solução para esses problemas.
A privatização da CELG resultou em aumentos significativos nas tarifas de energia elétrica para os consumidores, sem necessariamente melhorar a qualidade do serviço prestado. Além disso, a privatização levou à demissão de milhares de trabalhadores, contribuindo para o aumento do desemprego em Goiás.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB) é um dos grandes críticos ao modelo de concessão à iniciativa privada do setor energético. Embora seja um defensor das privatizações em diversas outras áreas no país, Caiado argumenta que é crucial avaliar o desempenho de cada setor privatizado. Ele destaca o sucesso total na telefonia, mas salienta que, na distribuição de energia, em nenhum estado, às privatizações conseguiram atender à demanda, consumo e muito menos à expansão solicitada.
Na contramão da ineficiência está a Saneago, que já foi especulada para ser vendida, mas segue sob a gestão do governo de Goiás. Há duas semanas, Caiado inaugurou o novas obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário da Saneago. O Governo de Goiás, por meio da Saneago, vai investir R$ 139,3 milhões, nestas obras, para ampliar e reforçar os serviços na capital. Em seu discurso, o governador reforçou o compromisso de levar água de boa qualidade para todas as cidades de Goiás e de fortalecer ainda mais os serviços da Saneago. Na ocasião, Caiado afirmou que “o que fizeram com a Celg, tentaram fazer com a Saneago”, se referindo ao processo de privatização.
Ao longo dos anos, a empresa tem investido em infraestrutura moderna e tecnologia de ponta para garantir o abastecimento de água potável a todas as regiões do estado, além de implementar sistemas avançados de tratamento de esgoto. Isso se traduz em uma melhoria significativa na qualidade de vida dos cidadãos goianos, com um acesso mais amplo a serviços de saneamento básico.
É importante destacar também o papel crucial que a Saneago desempenha no desenvolvimento econômico e social de Goiás. Ao garantir o acesso universal a serviços básicos de saneamento, a empresa contribui para a melhoria da saúde pública, o aumento da produtividade e a redução das desigualdades sociais. Isso cria um ambiente propício para o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável do estado como um todo.
A privatização de empresas de serviços essenciais pode colocar em risco a segurança e a soberania energética de um país. Em momentos de crise, como pandemias ou desastres naturais, as empresas privadas podem não estar tão dispostas a tomar medidas para garantir o fornecimento contínuo de serviços essenciais, priorizando o lucro acima de tudo.
Mundialmente, há uma onda de reestatização de empresas responsáveis por serviços essenciais. É o caso, por exemplo, do setor elétrico francês e de gás alemão, que foram reestatizados em 2022. Dados da Public Futures, demonstram que 1.601 empresas já foram reestatizadas ao redor do mundo. A maioria delas atuam no fornecimento de água potável e tratamento de esgoto.
Enquanto reconhecemos os benefícios potenciais das privatizações, é fundamental abordar essas preocupações de forma proativa e garantir que elas sejam conduzidas de maneira transparente, responsável e orientada para o interesse público. Isso pode incluir a implementação de regulamentações robustas para prevenir abusos de poder econômico, a manutenção de participação estatal em setores estratégicos e a proteção dos direitos dos consumidores e trabalhadores.
Nota da Equatorial
O Grupo Equatorial Energia trabalha constantemente para elevar os padrões de qualidade no fornecimento de suas concessões, com melhoria de processos e investimentos em confiabilidade da rede de distribuição e tecnologia. O modelo de gestão diferenciado da Equatorial vem sendo aplicado com sucesso nos estados onde está presente, implementando sua experiência na recuperação de ativos e no avanço da qualidade dos serviços.
No caso da Equatorial Goiás, logo no início da operação, em dezembro de 2022, a companhia anunciou a reconstrução do sistema elétrico do estado e apresentou um plano de ações e investimentos, com foco na melhoria de distribuição de energia, no desenvolvimento do estado e no atendimento à demanda reprimida. Tudo isso diante da realidade de uma rede defasada, majoritariamente monofásica e 40% dos transformadores sobrecarregados, cenário agravado pela maior onda de calor dos últimos 120 anos.
Para robustecer o sistema elétrico de Goiás foram investidos R$ 1,8 bilhão na área de concessão somente de janeiro a setembro de 2023. A companhia entregou quatro novas subestações, modernizou e ampliou 161 unidades; construiu cinco novas linhas de distribuição de alta tensão, além da recapacitação (reforma) de outras quatro. Para 2024, está entre os principais objetivos da Equatorial aumentar em 36% as manutenções preventivas em todo o estado. Também estão previstas novas obras, com destaque para a nova subestação JK-Jataí e Pirenópolis, além da ampliação e modernização de outras 97 subestações.
Ainda assim, em relação ao ranking da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para distribuidoras acima de 400 mil clientes, a própria Agência Reguladora destacou que a qualidade dos serviços de distribuição de energia elétrica melhorou no ano passado em comparação com o ano de 2022, conforme apontam os indicadores DEC e FEC apurados pela Aneel, reiterando a busca para que as distribuidoras ofereçam sempre serviço de melhor qualidade para os consumidores.
Por fim, a Equatorial Energia acredita que, a experiência do Grupo na melhoria dos seus resultados de desempenho nas outras concessões, a exemplo da Equatorial Pará que, já ocupou a última posição nesse mesmo ranking e, hoje, conquistou o segundo lugar entre as melhores distribuidoras de grande porte no Brasil, fará com que a Equatorial Goiás e CEEE Equatorial, concessões recém-adquiridas, também apresentem resultados positivos nos próximos anos.
FONTE: JORNAL OPÇÃO