Severino, Katiane, Janaína e Luiz: mortes por falta de pagamento a UTIs revoltam famílias em Goiânia

Prefeito eleito Sandro Mabel está agindo antes mesmo de assumir para estancar crise dramática. No domingo, havia 16 pessoas esperando UTIs e existiam 20 vagas bloqueadas por falta de pagamento

Severino Santos, Katiane Silva, Janaína de Jesus e Luiz Felipe Figueiredo. Essas quatro pessoas  morreram em menos de dez dias enquanto aguardavam por vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em Goiânia.  As vagas existem, mas estão suspensas por falta de pagamento. A Secretaria Municipal de Saúde informa que existem 112 leitos contratados na capital, mas reconhece que 20 deles estão bloqueados por falta de pagamento. No domingo (24), havia 16 pessoas esperando vagas em UTIs.

A situação crítica da saúde pública de Goiânia levou o prefeito eleito, Sandro Mabel (UB) a iniciar negociações faltando mais de um mês para legalmente assumir o cargo. E as negociações são extensivas à bancada goiana no Congresso, com a qual se reúne nesta terça-feira (26), em Brasília, envolvendo vários assuntos, entre eles apoio para sanar a crise na saúde da capital.

Na segunda-feira (25) Mabel confirmou que a falta de leitos de UTI em Goiânia foi causada por falta de pagamento aos hospitais que disponibilizam leitos para a capital, que não tem uma unidade municipal. Diante da dívida, ele se comprometeu também com os donos das unidades de assumir a conta em atraso.

“Nós estamos assumindo essa conta. Não é mais do prefeito Rogério, passa a ser nossa, da nossa gestão”, disse Mabel durante a reunião. Segundo ele, a dívida da prefeitura passa de 500 milhões de reais com os fornecedores. 

Reunião de emergência

Mabel ainda se reuniu com os secretários de Saúde, Rasível dos Reis (estadual) e Wilson Pollara (municipal), além de vereadores e os representantes das unidades privadas. Segundo Mabel, a intenção foi negociar o valor dos leitos para que eles continuem funcionando neste ano e garantir ao setor que receberá em dia a partir de janeiro.

“Nós vamos pagar a conta, estamos estabelecendo novos preços, um preço de guerra, nós pedimos para os hospitais que pudessem fazer um preço especial. O estado se comprometeu a repassar esse dinheiro para ajudar a gente e nós nos comprometemos a repassar imediatamente [aos hospitais]”, garantiu Mabel em entrevista coletiva.

A diária de uma UTI para adulto custa R$ 600,00 na tabela da rede do Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com o Ministério da Saúde. Segundo o secretário municipal, a prefeitura para R$ 1.100 para manter cada UTI nos hospitais particulares. Mabel disse que a negociação quer aproximar o valor ao da tabela SUS.

“O que nós queremos garantir para os fornecedores é que, a partir de primeiro de janeiro, junto com o estado, mesmo o que vai ser faturado em dezembro, nós vamos pagar. Eles podem voltar a trabalhar dentro de uma normalidade. […] Preciso de uma redução de preço. Mais serviço com menos dinheiro”, disse Mabel.

Leitos fora de Goiânia

Mabel também disse que pode viabilizar leitos fora de Goiânia, na Região Metropolitana, para amenizar a situção. Além disso, ele ainda reiterou a parceria com o Governo Estadual, que deve auxiliar nos pagamentos. Mabel destacou que também está em busca de recursos do governo federal, mas lembrou que houve contingenciamento nessa esfera.

Pollara explica que a distribuição dos pacientes nesses leitos depende também da doença e da “caracterização dos hospitais, o que eles são capazes de fazer e o que eles não são capazes. Você não pode mandar um paciente para um lugar onde não tem recurso para se atender”. Como exemplo, disse que não é efetivo levar um paciente cardíaco a um hospital que não tenha hemodinâmica.

Sofrimento de vítimas e familiares

Severino Santos, Katiane Silva e Janaína de Jesus morreram na última semana. As famílias recorreram ao Judiciário para conseguir atendimento adequado, mas o serviço de saúde pública não forneceu a tempo.

“A gente se sente abandonado. A gente lutou tanto. Todo dia a gente estava lá visitando ele, levando as coisas que precisava, que eles pediam. E para nada. A gente tentou, a gente não parou. E, no fim, aconteceu isso”, desabafou a prima de Severino Santos, Lúcia Cleide Leão ao portal G1.

No caso de Severino Santos, a Justiça determinou, um dia antes de sua morte, que o serviço público estadual ou municipal o transferisse para um leito de UTI em até quatro horas. A Justiça fixou uma multa de R$ 5 mil por hora de descumprimento, limitada a R$ 50 mil. No entanto, a decisão não foi cumprida.

Além deles, o técnico de informática Luiz Felipe Figueiredo da Silva, de 30 anos, também morreu enquanto esperava por uma vaga. A esposa dele, Lavínia Celice da Silva, relatou em entrevistas que o marido morreu três dias depois que a vaga foi solicitada, mas sem conseguir o leito.

Texto: Marília Assunção

Foto: Divulgação / Fieg

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