Spray nasal ataca Alzheimer ao injetar insulina no cérebro, diz estudo

Estudo mostra que a insulina intranasal alcança regiões-chave do cérebro e pode abrir caminho para tratamentos contra o Alzheimer

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Um novo estudo da Universidade Wake Forest, nos Estados Unidos, revelou que os sprays nasais usados para aplicação de insulina atingem regiões centrais do cérebro associadas à memória e à cognição e podem ser usados no tratamento contra o Alzheimer.

O experimento foi realizado em idosos e apontou diferenças entre indivíduos com e sem sinais precoces do Alzheimer. Para avaliar a eficácia do tratamento experimental, os cientistas usaram um exame de imagem cerebral com contraste que permitiu observar que o medicamento alcança diretamente 11 áreas do cérebro, incluindo o hipocampo, amígdala, córtex olfativo e lobo temporal. Essas estruturas estão diretamente ligadas ao funcionamento da memória.

“O estudo preenche uma lacuna crítica em nossa compreensão de como a insulina intranasal chega ao cérebro”, afirmou Suzanne Craft, professora de gerontologia da Wake Forest e uma das responsáveis pelo estudo.

Embora o tratamento focado em diabetes não pareça relacionado com o declínio cognitivo, a professora acrescentou que a resistência à insulina é um conhecido fator de risco para Alzheimer.

“Embora ainda haja muito a aprender, essas descobertas mostram que agora temos as ferramentas para validar a administração intranasal de medicamentos no cérebro”, disse Craft.

O que é o Alzheimer?

  • O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
  • É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
  • O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença, surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.

Spray reduz proteínas do Alzheimer

O estudo foi publicado na revista Alzheimer’s & Dementia em 3 de julho. Os testes foram realizados com 16 voluntários com idade média de 72 anos. Sete não apresentavam alterações cognitivas. Os demais tinham diagnóstico de comprometimento leve. Todos relataram facilidade no uso do spray nasal, descrito como “surpreendentemente fácil”.

O grupo de pacientes com declínio cognitivo leve apresentou uma absorção inicial mais rápida da insulina, seguida de eliminação acelerada. Já os participantes com declínio cognitivo normal mostraram maior retenção cerebral do medicamento. Essa diferença sugere que o estágio da doença pode interferir na eficácia do tratamento.

A captação de insulina variou também entre homens e mulheres. Nas participantes do sexo feminino, a presença de fatores cardiovasculares saudáveis se associou a uma melhor absorção cerebral. Já níveis elevados de ptau217, proteína ligada ao Alzheimer, reduziram a captação do medicamento em diferentes regiões. Não foi avaliado, porém, se isso se refletiu em um mudança da percepção dos sintomas da doença.

Como funciona o tratamento com insulina?

O produto foi aplicado por meio de um sistema especializado de seis jatos, desenvolvido pela Aptar Pharma, farmacêutica que patrocinou a pesquisa. Apenas dois voluntários relataram efeitos colaterais leves, como dor de cabeça temporária, resolvida em menos de 24 horas.

Segundo os autores, a técnica pode servir como modelo para outras terapias neurológicas. O sistema nasal também pode ser adaptado para tratar diferentes distúrbios cerebrais sem a necessidade de procedimentos invasivos.

Com a nova abordagem, os pesquisadores pretendem lançar estudos maiores nos próximos meses. Eles vão avaliar como fatores como circulação sanguínea, sexo e presença de proteínas amiloides afetam a distribuição da insulina pelo cérebro.

Outro spray ataca proteína tóxica tau

Este é o segundo spray nasal com bons resultados em testes contra o Alzheimer anunciado neste mês. Pesquisadores da Universidade do Texas divulgaram, também no início de julho, mas na revista Science Translational Medicine, um tratamento experimental voltado para a destruição da proteína tau em sua forma mais tóxica.

Esse composto foi desenvolvido com nanopartículas capazes de atravessar a barreira hematoencefálica. Aplicado em camundongos, o medicamento conseguiu alcançar os neurônios e eliminar os emaranhados de tau, que são associados à degeneração cerebral. Os cientistas apontam que o tratamento poderá, futuramente, impedir a progressão do Alzheimer e outros tipos de demência. Por ora, os testes estão restritos a modelos animais.

FONTE : METROPOLES

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