“Substituímos testes em animais” diz pesquisadora goiana sobre modo que identifica más substâncias em cosméticos

Médoto combina uso de células-tronco dentárias com pele humana 3D para testes

Lauren Dalat no Prêmio Lush 2024, em Londres | Foto: Divulgação

Lauren Dalat, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Goiás (PPGCF/UFG), foi contemplada com o Prêmio Lush 2024 na categoria Jovem Pesquisador. A cerimônia aconteceu em Londres em 21 de maio e tem como propósito, a cada dois anos, reconhecer iniciativas e pesquisas que tem como objetivo substituir o uso de animais em testes laboratoriais.

O projeto de Lauren foi intitulado “Plataforma multiórgãos em chip para triagem de teratogenicidade humana de cosméticos” e foi escolhido entre 14 concorrentes de diferentes partes do mundo. Os resultados apontados na pesquisa indicam que células-tronco humanas podem ser utilizadas para novas abordagens metodológicas (NAMs), especialmente na identificação de compostos teratogênicos, ou seja, substâncias que causam malformações em embriões ou fetos. De forma simplificada, isso pode ajudar a reduzir a necessidade de testes com animais.

A inovação destacada no Prêmio Lush é a integração desses conhecimentos em um sistema microfisiológico, que combina um modelo de pele 3D e componentes de células-tronco dentárias. Este sistema permitirá testar os efeitos teratogênicos dos cosméticos aplicados diretamente na pele, oferecendo um cenário mais realista. Ao Jornal Opção, Lauren explica como funciona o método.

O modelo combina pele humana reconstruída, células-tronco e um sistema microfisiológico (MPS). O objetivo é simular a exposição da pele em situações reais e investigar os efeitos potenciais de compostos em células indiferenciadas. Para tal, o intuito é utilizar pele humana, de origem de abdominoplastia, fornecendo um modelo humano 3D fisiologicamente relevante. Este tecido será incorporado a um sistema microfisiológico (MPS), contendo os esferoides derivados de células-tronco dentárias. Esta plataforma será desafiada utilizando compostos teratogênicos conhecidos.

A alternativa permite avaliar os potenciais efeitos teratogênicos quando se é exposta à cosméticos aplicados. Esse modelo se torna essencial para preencher de métodos in vitro para avaliar a teratogenicidade dos cosméticos no Brasil. “O método padrão atual, a OECD 414, é caro, trabalhoso e eticamente questionável, já que utiliza em média mil animais por experimento, e pode não refletir com precisão as respostas humanas”, considera a pesquisadora.

O projeto premiado funciona como base para a pesquisa de doutorado de Lauren. A  pretensão é criar um modelo mais realista que leve em consideração o cenário de exposição para avaliar o desenvolvimento mesenquimal precoce humano usando um sistema fisiologicamente relevante. O objetivo é integrá-lo com a pele humana, que é a principal via de exposição aos cosméticos.

A pesquisa foi orientada pela professora Marize Campos Valadares, da Faculdade de Farmácia (FF) da UFG. Ela considera que “o tema do trabalho é de grande interesse da indústria cosmética porque propomos uma metodologia que não utiliza animais pra testar teratogenicidade, que se é um parâmetro difícil de se testar sem usar animais. Existem poucas ferramentas disponíveis para que não usam de teste animal”.

A cerimônia do Prêmio Lush 2024 reconheceu 14 projetos, organizações e cientistas de nove países, com a distribuição total de 250 mil libras esterlinas. Como vencedora, Lauren recebeu um prêmio de aproximadamente R$ 66 mil, destinado a apoiar a continuidade de estudos ou projetos que visem o fim dos testes em animais.

FONTE: JORNAL OPÇÃO

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